11 - Calculando

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Um segundo após tocar a campainha, me dou conta de um detalhe importante: não sei o nome dele.

Se outra pessoa, que não ele, abrir a porta, o que eu digo?

"Oi, vim estudar com o garoto bonito dos olhos claros que mora nesta casa".

Enquanto ensaio a frase em minha cabeça, a porta se abre e me deparo com o garoto bonito de olhos claros que mora nesta casa.

— Oi — diz ele, me dando espaço para entrar.

— Oi — respondo baixo demais.

Assim que entro na sala, percebo como é bonita, bem decorada e sem ninguém.

— Seus pais não estão em casa? — pergunto.

Ele fecha a porta e vem para o meu lado.

— Não, somos só você e eu. Fica à vontade.

Sinto uma agitação estranha no estômago.

— Ah...

Finjo interesse na pintura abstrata do quadro acima do sofá bege para não ter que olhar para ele.

— Podemos estudar aqui na sala, ou na cozinha ou no meu quarto, você decide.

Fico ainda mais nervosa.

— Onde você prefere? — pergunto vagamente, tentando fingir costume e não parecer uma bobona imatura que não sabe lidar com o fato de estar sozinha com um dos homens mais lindos do planeta.

— Bom, na sala e na cozinha não há ar-condicionado.

— Quarto — decido.

Ele aponta em uma direção e seguimos.

O quarto dele é organizado. Há uma cama de casal no centro e ela está arrumada. À esquerda, há uma escrivaninha e sobre ela um notebook, uma impressora e classificadores, notadamente o espaço de alguém que leva os estudos à sério.

Acima da escrivaninha, na parede, há três prateleiras enfileiradas uma sobre a outra, onde alguns livros e objetos decorativos estão dispostos, como um globo terrestre e uma ampulheta.

Ele me deixa no quarto e vai em busca da segunda cadeira, já que ali só há uma.

Assim que escuto os passos dele descendo as escadas, vou até a janela de vidro para matar uma curiosidade de dias: de quem é a janela que fica na direção da minha sacada.

E sim, a janela na direção do meu quarto é exatamente essa em que estou nesse momento. Graças a Deus a porta da sacada está fechada, caso contrário agora eu estaria vendo um outro ângulo da bagunça que deixei no chão enquanto colocava meu guarda-roupas abaixo em busca de algo para vestir.

Ele retorna com a segunda cadeira e a posiciona ao lado da outra na escrivaninha.

— Vamos ao trabalho — diz ele.

Vou até lá e nos sentamos lado a lado.

Minhas costas estão doendo por causa da má postura, estou exausta e quero que a matemática seja desinventada.

Ao contrário de mim, ele não parece nada cansado, pois continua empenhado a me explicar o assunto.

— Quando a questão não dá a altura nem a base, dá o ângulo — ele aponta o fundo do lápis para algo em meu livro. — Com esse ângulo, você consegue encontrar a área do paralelogramo.

A explicação chega aos meus ouvidos, mas meu cérebro não decodifica, pois está mais interessado em decodificar a forma que a boca dele se curva nos cantos ao final de palavras com a letra "r"; ou em como suas sobrancelhas sobem quando ele diz alguma coisa com muita convicção; ou em como seus olhos de avelã me instigam a ficar procurando o ponto exato em que as cores na íris se tangenciam.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora