Um segundo após tocar a campainha, me dou conta de um detalhe importante: não sei o nome dele.
Se outra pessoa, que não ele, abrir a porta, o que eu digo?
"Oi, vim estudar com o garoto bonito dos olhos claros que mora nesta casa".
Enquanto ensaio a frase em minha cabeça, a porta se abre e me deparo com o garoto bonito de olhos claros que mora nesta casa.
— Oi — diz ele, me dando espaço para entrar.
— Oi — respondo baixo demais.
Assim que entro na sala, percebo como é bonita, bem decorada e sem ninguém.
— Seus pais não estão em casa? — pergunto.
Ele fecha a porta e vem para o meu lado.
— Não, somos só você e eu. Fica à vontade.
Sinto uma agitação estranha no estômago.
— Ah...
Finjo interesse na pintura abstrata do quadro acima do sofá bege para não ter que olhar para ele.
— Podemos estudar aqui na sala, ou na cozinha ou no meu quarto, você decide.
Fico ainda mais nervosa.
— Onde você prefere? — pergunto vagamente, tentando fingir costume e não parecer uma bobona imatura que não sabe lidar com o fato de estar sozinha com um dos homens mais lindos do planeta.
— Bom, na sala e na cozinha não há ar-condicionado.
— Quarto — decido.
Ele aponta em uma direção e seguimos.
O quarto dele é organizado. Há uma cama de casal no centro e ela está arrumada. À esquerda, há uma escrivaninha e sobre ela um notebook, uma impressora e classificadores, notadamente o espaço de alguém que leva os estudos à sério.
Acima da escrivaninha, na parede, há três prateleiras enfileiradas uma sobre a outra, onde alguns livros e objetos decorativos estão dispostos, como um globo terrestre e uma ampulheta.
Ele me deixa no quarto e vai em busca da segunda cadeira, já que ali só há uma.
Assim que escuto os passos dele descendo as escadas, vou até a janela de vidro para matar uma curiosidade de dias: de quem é a janela que fica na direção da minha sacada.
E sim, a janela na direção do meu quarto é exatamente essa em que estou nesse momento. Graças a Deus a porta da sacada está fechada, caso contrário agora eu estaria vendo um outro ângulo da bagunça que deixei no chão enquanto colocava meu guarda-roupas abaixo em busca de algo para vestir.
Ele retorna com a segunda cadeira e a posiciona ao lado da outra na escrivaninha.
— Vamos ao trabalho — diz ele.
Vou até lá e nos sentamos lado a lado.
•
Minhas costas estão doendo por causa da má postura, estou exausta e quero que a matemática seja desinventada.
Ao contrário de mim, ele não parece nada cansado, pois continua empenhado a me explicar o assunto.
— Quando a questão não dá a altura nem a base, dá o ângulo — ele aponta o fundo do lápis para algo em meu livro. — Com esse ângulo, você consegue encontrar a área do paralelogramo.
A explicação chega aos meus ouvidos, mas meu cérebro não decodifica, pois está mais interessado em decodificar a forma que a boca dele se curva nos cantos ao final de palavras com a letra "r"; ou em como suas sobrancelhas sobem quando ele diz alguma coisa com muita convicção; ou em como seus olhos de avelã me instigam a ficar procurando o ponto exato em que as cores na íris se tangenciam.
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O garoto dos olhos avelã
أدب المراهقينGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...