— Essa é a fatura total do prejuízo — a mulher me entrega uma folha com o detalhamento integral dos danos. Quando meus olhos pousam no valor final, meu queixo cai.
Às sete horas da manhã desta segunda-feira, recebi um e-mail da universidade convocando a minha presença na secretaria. Eu já sabia do que se tratava, mas havia passado o fim de semana tentando não pensar nisso. Entretanto, agora eu terei que encarar a responsabilidade pelos meus atos de destruição na biblioteca.
Antes que eu consiga recobrar a fala, vejo a cadeira ao meu lado ser ocupada. Meu coração dispara. O que ele faz aqui?
— Fui eu que causei o dano na biblioteca — ele diz para a mulher.
O que ele pensa que está fazendo? Dirijo-lhe um olhar furioso, mas ele não está olhando para mim.
— Aqui no registro consta que foi Graziella Keler — ela fala, confusa, consultando a tela do computador.
— Mas fui eu, pode fazer a correção no registro. Meu nome é Luke. Sobrenome, Hecher. Precisa do meu número de matrícula?
Não vou deixar Luke assumir a culpa por mim. Não sei o que ele pensa que vai conseguir com essa atitude "heroica".
— Não foi ele, fui eu — afirmo, me inclinando para frente. Meu coração ainda está disparado pela presença de Luke.
A mulher alterna o olhar entre ele e eu.
— Não acredite nela, ela só está tentando me defender porque somos namorados — Luke diz e tenho a impressão de que meu coração vai arrebentar a minha caixa torácica.
Sinto um nó na garganta, e antes que eu perca a firmeza da minha fala, olho para a mulher e disparo:
— Não somos namorados e eu jamais defenderia um traidor — as palavras atravessam a minha garganta como brasas.
Convoco cada músculo do meu corpo para se concentrar em reprimir o choro quando as palavras cruéis de Luke voltam a ferir a minha memória.
— Eu não sei o que se passa por aqui — ela volta a digitar no computador — Mas, devido às declarações, devo chegar à conclusão de que ambos causaram o prejuízo — ela termina de digitar, dá alguns cliques no mouse e então a impressora começa a funcionar.
Ela pega as folhas recém-imprimidas e entrega uma para cada. Vejo que o valor final foi dividido por dois. Ainda assim, eu não conseguiria pagar.
— Tem como parcelar isso? — pergunto, engolindo em seco.
— Se não puder pagar, você pode assumir um estágio voluntário.
Levanto a cabeça, esperançosa.
— Como assim? — questiono.
— Vagas de estágio não remuneradas estão sempre ociosas — ela me entrega um panfleto daqueles que todos na universidade ignoram com sucesso. — Como os alunos não se interessam pelo voluntariado e essas vagas precisam ser ocupadas, a reitoria concede a remissão de débitos estudantis por meio de contrato de estágio voluntário.
Analiso o panfleto e fico animada quando vejo a vaga para trabalhar na biblioteca. Mas assim que visualizo a quantidade de horas, me sinto murchar.
— São vinte horas semanais? — pergunto desanimada, pois isso me impediria de continuar trabalhando na livraria.
— Sim, mas como vocês são dois, a duração final do estágio será reduzida — ela diz, me fazendo lembrar que Luke assumiu metade da responsabilidade. — Podem assumir a vaga na biblioteca ou na secretaria — a mulher começa a digitar no computador.
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O garoto dos olhos avelã
JugendliteraturGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...