62 - Arcar

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— Essa é a fatura total do prejuízo — a mulher me entrega uma folha com o detalhamento integral dos danos. Quando meus olhos pousam no valor final, meu queixo cai.

Às sete horas da manhã desta segunda-feira, recebi um e-mail da universidade convocando a minha presença na secretaria. Eu já sabia do que se tratava, mas havia passado o fim de semana tentando não pensar nisso. Entretanto, agora eu terei que encarar a responsabilidade pelos meus atos de destruição na biblioteca.

Antes que eu consiga recobrar a fala, vejo a cadeira ao meu lado ser ocupada. Meu coração dispara. O que ele faz aqui?

— Fui eu que causei o dano na biblioteca — ele diz para a mulher.

O que ele pensa que está fazendo? Dirijo-lhe um olhar furioso, mas ele não está olhando para mim.

— Aqui no registro consta que foi Graziella Keler — ela fala, confusa, consultando a tela do computador.

— Mas fui eu, pode fazer a correção no registro. Meu nome é Luke. Sobrenome, Hecher. Precisa do meu número de matrícula?

Não vou deixar Luke assumir a culpa por mim. Não sei o que ele pensa que vai conseguir com essa atitude "heroica".

— Não foi ele, fui eu — afirmo, me inclinando para frente. Meu coração ainda está disparado pela presença de Luke.

A mulher alterna o olhar entre ele e eu.

— Não acredite nela, ela só está tentando me defender porque somos namorados — Luke diz e tenho a impressão de que meu coração vai arrebentar a minha caixa torácica.

Sinto um nó na garganta, e antes que eu perca a firmeza da minha fala, olho para a mulher e disparo:

— Não somos namorados e eu jamais defenderia um traidor — as palavras atravessam a minha garganta como brasas.

Convoco cada músculo do meu corpo para se concentrar em reprimir o choro quando as palavras cruéis de Luke voltam a ferir a minha memória.

— Eu não sei o que se passa por aqui — ela volta a digitar no computador — Mas, devido às declarações, devo chegar à conclusão de que ambos causaram o prejuízo — ela termina de digitar, dá alguns cliques no mouse e então a impressora começa a funcionar.

Ela pega as folhas recém-imprimidas e entrega uma para cada. Vejo que o valor final foi dividido por dois. Ainda assim, eu não conseguiria pagar.

— Tem como parcelar isso? — pergunto, engolindo em seco.

— Se não puder pagar, você pode assumir um estágio voluntário.

Levanto a cabeça, esperançosa.

— Como assim? — questiono.

— Vagas de estágio não remuneradas estão sempre ociosas — ela me entrega um panfleto daqueles que todos na universidade ignoram com sucesso. — Como os alunos não se interessam pelo voluntariado e essas vagas precisam ser ocupadas, a reitoria concede a remissão de débitos estudantis por meio de contrato de estágio voluntário.

Analiso o panfleto e fico animada quando vejo a vaga para trabalhar na biblioteca. Mas assim que visualizo a quantidade de horas, me sinto murchar.

— São vinte horas semanais? — pergunto desanimada, pois isso me impediria de continuar trabalhando na livraria.

— Sim, mas como vocês são dois, a duração final do estágio será reduzida — ela diz, me fazendo lembrar que Luke assumiu metade da responsabilidade. — Podem assumir a vaga na biblioteca ou na secretaria — a mulher começa a digitar no computador.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora