Lá está ele.
Desacordado, pálido e com batimentos irregulares.
Caminho até a cama com passos lentos. Meus pais vêm junto pairando ao meu redor, duas sentinelas, como se estivessem com medo de que a qualquer momento eu possa cair.
Sei que a família de Luke está sofrendo muito, mas a minha dor pode ser considerada a pior, porque fui eu que coloquei Luke nessa cama de hospital.
Luke está inconsciente, sua pele está completamente sem cor, tem um curativo pouco acima da sobrancelha, há uma agulha perfurando o braço para conectá-lo a uma bolsa de soro, e seus batimentos cardíacos estão reduzidos. Não dá para acreditar.
Pego a mão dele com cuidado, tentando encontrar algum conforto na subida e descida suave de seu peito.
As lágrimas enchem os meus olhos e borram minha visão, fazendo a imagem do rosto de Luke tremular.
— A culpa é toda minha — finalmente quebro meu silêncio, sentindo o rosto ficar inundado.
— Grazy, meu amor, não diz isso...
— A culpa é minha, mãe. Ele me avisou, ele me disse para ficar longe de Natan — minha voz sai entrecortada pelo choro. — Eu sou uma idiota. Eu não mereço Luke.
— Minha filha, por favor, precisa ter calma nesse momento — meu pai coloca a mão em meu ombro.
— Eu nem contei pra ele que eu o amo! — meu tom de voz se altera. — Ele nunca ouviu isso de mim. Luke nem sabe que eu o amo!
— Ele sabe sim. Luke é inteligente, ele já percebeu — minha mãe diz suavemente.
— Me deixem sozinha com ele, por favor — peço.
Eles hesitam, mas compreendem o meu pedido e saem do quarto.
Aproximo minha mão trêmula do rosto pálido de Luke e acaricio com todo cuidado que meu nervosismo permite.
— Luke... me perdoa, meu amor... — Minha voz não passa de um sussurro frágil.
Os olhos selados, o rosto sem expressão. O coração errante.
A enfermeira já tinha avisado que não precisávamos nos alarmar ao escutar o som do bip do monitor de batimentos cardíacos se alterar. Mas quando ouço o som mudar para um ritmo mais lento, minha garganta se fecha dolorosamente.
Deito a cabeça no peito de Luke e tento escutar seus fracos batimentos. Durante uma hora, fico assim, sentindo o ritmo mudar, ir e voltar, ficar forte e ficar fraco. Ficar tão fraco que parece desaparecer.
Quando a enfermeira aparece informando o fim do horário de visitas, me sinto desidratada e com a garganta seca, de tanto chorar.
De volta à sala de espera, meus pais e os pais de Luke insistem novamente que eu coma alguma coisa. Nego pela bilionésima vez.
Não consigo. Não há a menor possibilidade de algo passar pela minha garganta fechada.
Vagamente ouço minha mãe se oferecendo para lidar com os procedimentos burocráticos do acidente de trânsito junto à polícia. Ela menciona que, apesar de estar com o registro de advogada desativado, consegue resolver as questões legais rapidamente. Ouço Willian concordar, agradecer e mencionar que vai acionar o seguro. Ouço Mila chorar de soluçar. Ouço Eliza resolvendo questões com o plano de saúde. Ouço meu pai tentar me consolar. Mas não consigo emitir palavra alguma.
Tenho a vaga de impressão de ver outras pessoas chegarem e saírem da sala de espera, enfermeiros trocando de plantão, familiares recebendo notícia de alta ou de internação. Mas tudo passa como um borrão em minha mente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...