39 - Culpando

2.5K 207 174
                                    

Lá está ele.

Desacordado, pálido e com batimentos irregulares.

Caminho até a cama com passos lentos. Meus pais vêm junto pairando ao meu redor, duas sentinelas, como se estivessem com medo de que a qualquer momento eu possa cair.

Sei que a família de Luke está sofrendo muito, mas a minha dor pode ser considerada a pior, porque fui eu que coloquei Luke nessa cama de hospital.

Luke está inconsciente, sua pele está completamente sem cor, tem um curativo pouco acima da sobrancelha, há uma agulha perfurando o braço para conectá-lo a uma bolsa de soro, e seus batimentos cardíacos estão reduzidos. Não dá para acreditar.

Pego a mão dele com cuidado, tentando encontrar algum conforto na subida e descida suave de seu peito.

As lágrimas enchem os meus olhos e borram minha visão, fazendo a imagem do rosto de Luke tremular.

— A culpa é toda minha — finalmente quebro meu silêncio, sentindo o rosto ficar inundado.

— Grazy, meu amor, não diz isso...

— A culpa é minha, mãe. Ele me avisou, ele me disse para ficar longe de Natan — minha voz sai entrecortada pelo choro. — Eu sou uma idiota. Eu não mereço Luke.

— Minha filha, por favor, precisa ter calma nesse momento — meu pai coloca a mão em meu ombro.

— Eu nem contei pra ele que eu o amo! — meu tom de voz se altera. — Ele nunca ouviu isso de mim. Luke nem sabe que eu o amo!

— Ele sabe sim. Luke é inteligente, ele já percebeu — minha mãe diz suavemente.

— Me deixem sozinha com ele, por favor — peço.

Eles hesitam, mas compreendem o meu pedido e saem do quarto.

Aproximo minha mão trêmula do rosto pálido de Luke e acaricio com todo cuidado que meu nervosismo permite.

— Luke... me perdoa, meu amor... — Minha voz não passa de um sussurro frágil.

Os olhos selados, o rosto sem expressão. O coração errante.

A enfermeira já tinha avisado que não precisávamos nos alarmar ao escutar o som do bip do monitor de batimentos cardíacos se alterar. Mas quando ouço o som mudar para um ritmo mais lento, minha garganta se fecha dolorosamente.

Deito a cabeça no peito de Luke e tento escutar seus fracos batimentos. Durante uma hora, fico assim, sentindo o ritmo mudar, ir e voltar, ficar forte e ficar fraco. Ficar tão fraco que parece desaparecer.

Quando a enfermeira aparece informando o fim do horário de visitas, me sinto desidratada e com a garganta seca, de tanto chorar.

De volta à sala de espera, meus pais e os pais de Luke insistem novamente que eu coma alguma coisa. Nego pela bilionésima vez.

Não consigo. Não há a menor possibilidade de algo passar pela minha garganta fechada.

Vagamente ouço minha mãe se oferecendo para lidar com os procedimentos burocráticos do acidente de trânsito junto à polícia. Ela menciona que, apesar de estar com o registro de advogada desativado, consegue resolver as questões legais rapidamente. Ouço Willian concordar, agradecer e mencionar que vai acionar o seguro. Ouço Mila chorar de soluçar. Ouço Eliza resolvendo questões com o plano de saúde. Ouço meu pai tentar me consolar. Mas não consigo emitir palavra alguma.

Tenho a vaga de impressão de ver outras pessoas chegarem e saírem da sala de espera, enfermeiros trocando de plantão, familiares recebendo notícia de alta ou de internação. Mas tudo passa como um borrão em minha mente.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora