47. Mudando

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Achei que isso nunca aconteceria um dia, mas aconteceu: meu pai comprou uma casa.

Essa foi a maior prova que ele poderia nos dar de que acabaram as mudanças.

Ele admitiu que se sentiu realizado com o emprego dos seus sonhos, mas só durou até o fim do expediente do primeiro dia no novo cargo, pois viu que, por mais que quisesse permanecer lá, não valia a pena se o preço fosse ficar sem as mulheres que ele ama.

Reconheceu os sacrifícios que a minha mãe fez em sua própria carreira e se deu conta de que é hora de ele fazer sacrifícios também.

Afirmou que não foi justo comigo ao me fazer mudar de escolas tantas vezes, e tampouco seria justo me obrigar a me separar das pessoas que eu me afeiçoei mais uma vez.

Nós duas quase caímos aos pés dele pedindo desculpas pelas coisas que dissemos, e ele quase caiu aos pés de nós duas se desculpando por ter ido embora, ter nos deixado sozinhas, ter negligenciado nossos desejos por tanto tempo.

Minha mãe finalmente reativou o registro com a ordem e agora não vai mais trabalhar como assistente jurídica e sim como advogada.

Sua carreira jurídica acaba de reiniciar e meu pai está dando o maior incentivo. Afinal, ele ficou falido com o baque financeiro pela compra de uma casa.

Faz um mês desde que quase fui embora para outro país e passamos esse tempo morando em um hotel, já que a casa em que morávamos foi ocupada por outras pessoas.

Para falar a verdade, eu quase não fiquei no hotel com eles.

Eu tinha que matar minha saudade de Luke. Uma saudade muito grande pela separação de cerca de uma hora, mas a dor que sentimos foi equivalente a anos de separação, já que nos despedimos sem previsão de um reencontro.

A nova casa é charmosa e eu tenho um quarto tão espaçoso que não faço ideia de como irei preenchê-lo. Mila tem um milhão de ideias de decoração (mostrei para ela por chamada de vídeo) e Lia tem um milhão e meio. Minha mãe tem dois milhões. É que eu finalmente possuo um quarto permanente e posso decorá-lo como quiser. Posso furar as paredes de cima a baixo com um monte de pregos se eu desejar.

Por falar em Lia, eu quase levei a maior surra da minha vida quando ela descobriu a carta de despedida em sua mochila no dia seguinte à minha quase partida. Mas não quero nem lembrar da cena de nós duas aos tapas no saguão do hotel.

Tapas da parte dela, eu só fiquei tentando me defender, com as mãos estendidas para a frente, enquanto Luke tentava segurá-la e a recepcionista olhava para a cena com a mão na boca, na maior cara de fofoqueira que adora ver barraco.

Pedro o penetra, que levou Lia de carro até lá, ajudou Luke a contê-la.

— Sua vagabunda desgraçada! Você não pode ir embora para outro país! — berrou ela.

— Mas eu não fui embora! Eu tô aqui!

— Eu li a sua cartinha cafona! Como se atreveu a me deixar sem a minha melhor amiga?!

O queixo dela tremeu, os olhos se encheram de água e os braços cederam. Então os meninos a soltaram.

Eu a abracei forte e pedi desculpas. Nós duas choramos. A essa altura, a recepcionista já havia chamado duas camareiras para assistir ao espetáculo e todas as três fofoqueiras colocavam a mão ao lado da boca para conversar umas com as outras.

Depois dessa cena toda, saímos os quatro para um encontro de casais.

Pedro é calmo e carinhoso, um contraste absurdo com Lia doida e desbocada. Mas eles formaram uma dupla incrível no boliche contra Luke e eu. Perdemos feio. Por minha causa.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora