Enfio o resto das coisas de Lia na mochila dela de qualquer jeito e me levanto depressa.
— Oi — diz Natan.
— Você não estuda aqui. O que estava fazendo dentro da escola? — minha voz sai rude.
— Estava procurando minha prima. Ela disse que a aula acabou cedo e me pediu para vir buscá-la, mas não encontrei Jenifer em lugar nenhum. Você a viu?
Apesar de Jenifer ser colega de sala de Luke e sempre me ver com ele, ela parece ter esquecido a minha existência.
— Não.
Cruzo os braços e fixo os olhos nas grades da escola, atrás dele, deixando claro que estou ocupada esperando por alguém.
— Mas que bom que te encontrei. Queria pedir desculpas por aquele dia.
— Já passou — respondo seca.
— Estou vendo pela sua postura que não passou. — Natan solta um suspiro pesaroso. — Lamento muito por aquilo, eu só estava querendo te levar para beber algo. Aquele cara é surtado, Grazy.
Olho para ele com irritação.
— É Graziella. E ele não é surtado. Não fala assim dele — digo com firmeza.
Natan desvia os olhos e esfrega a nuca, ficando visivelmente constrangido.
— Desculpa, não quis te aborrecer. Eu tenho o péssimo hábito de estragar tudo com todo mundo.
Seus olhos ficam tristes e imediatamente me lembro do que Jenifer disse, sobre ele estar deprimido e qualquer chateação deixá-lo para baixo. De repente, sinto a urgência de tranquilizá-lo.
Descruzo os braços e uso um tom ameno ao dizer:
— Tudo bem. É normal, eu também estrago tudo às vezes.
Ele volta a me olhar.
— Duvido. Eu vacilo muito, deve ser por isso que não tenho amigos. — Natan parece perceber que soou muito vitimista, pois acrescenta depressa: — Mas ser solitário não é tão ruim — ele dá um sorriso sem graça.
Acontece que eu conheço bem a sensação de ser alguém solitário. E, apesar de nunca ter sido uma pessoa deprimida, imagino que a solidão deve piorar esse sentimento.
— Sei exatamente como é ser solitário e te garanto que às vezes pode fazer bem cultivar amigos — digo em tom amigável.
— Estou me esforçando — mas sua voz não é muito animadora.
Na verdade, nada na aparência dele é animador. Natan tem uma expressão triste, os ombros curvados e os olhos apagados. Ele parece tão... vulnerável.
— Sei que você consegue — incentivo.
Ele enfia as mãos nos bolsos, parecendo meio sem jeito, e diz:
— Quer se habilitar para a vaga de primeira amiga?
Sua pergunta soa um alarme dentro da minha cabeça. Claro que não posso ser amiga dele, Luke o odeia. Na verdade, Luke não pode nem saber que estou conversando com ele. Preciso dispensá-lo depressa.
— Eu... é que... minha mãe me proibiu de fazer amigos. Ela diz que amizade é coisa que os traficantes inventaram para fazer os jovens oferecerem drogas uns aos outros.
Os olhos de Natan, já sem luz, se apagam totalmente, e vejo que ele entendeu minha desculpa esfarrapada como uma rejeição cruel.
Me arrependo imediatamente, devia ter dado uma desculpa mais realista.
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O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...