01 - Conhecendo

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Há uma tocha de fogo ardendo sobre a minha cabeça. Quem a acendeu está me encarando através do espelho retrovisor.

— Vamos ver se essa mudez vai durar — ela desafia.

Viro o rosto para o outro lado e aperto os braços cruzados contra o peito.

— Cinco horas de silêncio. Temos um novo recorde! — exclama ele em tom de comemoração.

O calor do fogo faz as minhas bochechas queimarem. É o fogo da raiva ardente pelos maiores inimigos da minha existência: meus pais.

Encaro a rua através do vidro da janela. Pelo reflexo vejo o inimigo do sexo masculino digitar no celular. A inimiga do sexo feminino está dirigindo. Eles revezaram o volante desde a minha casa até a localização atual, seja ela qual for.

Para todos os efeitos, estou sendo sequestrada.

Não há outra definição para o que os meus genitores fizeram ao me tirarem de casa à força e me arrastarem para outra cidade.

Eles comentam mais alguma coisa, mas faço questão de colocar o fone de ouvido no volume máximo.

Não sou tão fã de rock, mas quando fui enfiada contra a minha vontade no carro, decidi que ia basear minha nova personalidade de acordo com a primeira banda de heavy metal que o Spotify me indicasse.

Mas a banda tocando nos meus fones não parece nada com o que um roqueiro que bate cabeça escutaria. Essa banda Lifehouse é mais um rock leve que até me agrada.

Decido que essa é a minha nova banda favorita até o fim dos tempos (amanhã já terei escolhido outra).

Cerca de duas horas depois, o carro para em frente a uma casa de dois andares com fechada branca.

— Chegamos! — o sequestrador anuncia empolgado.

— A casa parecia mais bonita na foto — reclama a sequestradora.

— Está brincando? Essa é a casa mais bonita dentre as que já moramos. Espere só para ver lá dentro! — ele sai saltitando para fora do veículo.

— Vamos, Grazy, se anima — ela se vira no banco para me olhar.

Viro o rosto para o outro lado da rua.

— Venham, garotas! Vejam que lugar maravilhoso para vocês duas encherem de vida! — ele exclama empolgado, enfiando a cabeça pelo porta-malas.

Ela desiste de obter alguma resposta minha e saí do veículo, suspirando ruidosamente.

Observo pela janela enquanto eles carregam as malas de mão e fico bem satisfeita ao perceber que ele carregou a minha também.

Tudo o que eu tenho está naquela mala. Não dá para acumular muitas coisas quando se é nômade.

— Olha só esse jardim! Essa casa é perfeita! — ele parece prestes a botar um ovo.

Sinceramente, eu não sei por que ele ainda faz o esforço de tentar nos fazer gostar das novas casas. Sabemos muito bem que essa felicidade toda não é por causa da mudança e sim por causa do aumento em seu salário.

— Filhota, não está curiosa para conhecer o seu quarto?! — ele grita para mim, sorrindo largamente.

Finjo que não é comigo.

— Vamos ver se ela vai passar a noite toda dentro do carro — desafia ela, indo para o interior da casa.

Odeio quando ela me desafia, pois me sinto obrigada a aceitar. No entanto, não tenho a menor intenção de passar a noite sozinha dentro de um carro em uma rua desconhecida.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora