No meio da madrugada, meus olhos se abrem de uma vez.
Dor.
Dor.
Dor.
Coloco as mãos sobre a barriga.
Um aperto forte, outro mais forte, e outro ainda mais forte.
Me sento na cama com dificuldade e ligo o abajur.
— Luke... — sussurro, sem forças.
Ao meu lado na cama, Luke está deitado de bruços, dormindo tranquilamente.
— Luke — chamo mais uma vez. — Luke, acorda.
Coloco a mão nas costas dele e balanço, tentando acordá-lo.
— Meu amor, acorda, por favor — imploro, sentindo o ar ficar escasso.
Luke vira o rosto para o outro lado e continua dormindo.
Um aperto intenso em minha barriga me faz agarrar a camisa dele com força.
— LUKE! — berro com todo o fôlego do meu pulmão. — LUKEEE! LUKEEEEE!
Luke desperta, assustado, erguendo o corpo na cama abruptamente.
— Grazy?! O que houve?!
Coloco a mão na lateral da barriga abrindo a boca em uma careta de dor, que aumenta a cada segundo como uma onda gigantesca.
— Está doendo, doendo muito. Muito, muito, muito! Me ajuda! — exclamo desesperadamente.
O rosto de Luke se enche de pânico.
— Meu Deus — ele arregala os olhos e coloca as duas mãos em minha barriga enorme, tentando acalmar tanto a mim quanto a ele mesmo. — Calma, respira fundo, lembra o que você aprendeu nas aulas de Yoga.
É verdade, fiz muita Yoga para me preparar para este momento de contrações atrozes do final da gravidez. Luke está certo.
Fecho os olhos e puxo o ar até o fundo, tentando criar uma ponte mental para acessar memórias que me proporcionam relaxamento.
Luke faz o exercício comigo, com as mãos em minha barriga, me guiando no "respira, inspira", então a ponte de memórias é criada.
As águas cristalinas de Fernando de Noronha brilham em minha mente, me remontando a cinco anos atrás, quando Luke me levou para a segunda melhor viagem da minha vida.
Eu fiquei tão relaxada naquele lugar paradisíaco, fazendo coisas de turistas durante o dia e coisas de namorados durante a noite, que consegui refletir com clareza sobre os acontecimentos anteriores à viagem.
Pensei com calma sobre o período terrível do término com Luke, e também sobre a efemeridade da vida diante dos momentos angustiantes que a família dele passou no hospital. A reflexão me levou a ponderar sobre o realmente importava na minha vida.
Foi por isso que tomei coragem para sair de Engenharia Civil e me matricular em um curso que eu queria desde o início, mas que deixei de lado para poder estudar com Luke e Lia: Letras.
Me encontrei absolutamente no curso. E ainda podia ver Lia e Luke na faculdade todos os dias, já que o prédio de Linguagens ficava apenas dez minutos de distância do de Engenharia.
A graduação em Letras me levou ao meu emprego atual: professora de Literatura.
A junção do meu amor por literatura com a paixão por pesquisa acadêmica me coloca de frente com alunos que amam ou odeiam ler, e a minha missão diária é inspirar os que amam e converter os que odeiam.
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O garoto dos olhos avelã
Novela JuvenilGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...