90 - Conhecendo

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No meio da madrugada, meus olhos se abrem de uma vez.

Dor.

Dor.

Dor.

Coloco as mãos sobre a barriga.

Um aperto forte, outro mais forte, e outro ainda mais forte.

Me sento na cama com dificuldade e ligo o abajur.

— Luke... — sussurro, sem forças.

Ao meu lado na cama, Luke está deitado de bruços, dormindo tranquilamente.

— Luke — chamo mais uma vez. — Luke, acorda.

Coloco a mão nas costas dele e balanço, tentando acordá-lo.

— Meu amor, acorda, por favor — imploro, sentindo o ar ficar escasso.

Luke vira o rosto para o outro lado e continua dormindo.

Um aperto intenso em minha barriga me faz agarrar a camisa dele com força.

— LUKE! — berro com todo o fôlego do meu pulmão. — LUKEEE! LUKEEEEE!

Luke desperta, assustado, erguendo o corpo na cama abruptamente.

— Grazy?! O que houve?!

Coloco a mão na lateral da barriga abrindo a boca em uma careta de dor, que aumenta a cada segundo como uma onda gigantesca.

— Está doendo, doendo muito. Muito, muito, muito! Me ajuda! — exclamo desesperadamente.

O rosto de Luke se enche de pânico.

— Meu Deus — ele arregala os olhos e coloca as duas mãos em minha barriga enorme, tentando acalmar tanto a mim quanto a ele mesmo. — Calma, respira fundo, lembra o que você aprendeu nas aulas de Yoga.

É verdade, fiz muita Yoga para me preparar para este momento de contrações atrozes do final da gravidez. Luke está certo.

Fecho os olhos e puxo o ar até o fundo, tentando criar uma ponte mental para acessar memórias que me proporcionam relaxamento.

Luke faz o exercício comigo, com as mãos em minha barriga, me guiando no "respira, inspira", então a ponte de memórias é criada.

As águas cristalinas de Fernando de Noronha brilham em minha mente, me remontando a cinco anos atrás, quando Luke me levou para a segunda melhor viagem da minha vida.

Eu fiquei tão relaxada naquele lugar paradisíaco, fazendo coisas de turistas durante o dia e coisas de namorados durante a noite, que consegui refletir com clareza sobre os acontecimentos anteriores à viagem.

Pensei com calma sobre o período terrível do término com Luke, e também sobre a efemeridade da vida diante dos momentos angustiantes que a família dele passou no hospital. A reflexão me levou a ponderar sobre o realmente importava na minha vida.

Foi por isso que tomei coragem para sair de Engenharia Civil e me matricular em um curso que eu queria desde o início, mas que deixei de lado para poder estudar com Luke e Lia: Letras.

Me encontrei absolutamente no curso. E ainda podia ver Lia e Luke na faculdade todos os dias, já que o prédio de Linguagens ficava apenas dez minutos de distância do de Engenharia.

A graduação em Letras me levou ao meu emprego atual: professora de Literatura.

A junção do meu amor por literatura com a paixão por pesquisa acadêmica me coloca de frente com alunos que amam ou odeiam ler, e a minha missão diária é inspirar os que amam e converter os que odeiam.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora