22 - Encontrando

3.1K 240 198
                                    

Em três semanas, Luke e eu acabamos desenvolvendo uma espécie de rotina. Mas não de um jeito chato e repetitivo, e sim algo que me faz acordar ansiosa para ver o que o dia nos reserva.

Nos encontramos logo cedo, quando ele me dá carona para a escola. Nos corredores, ele sempre se despede com um beijo no rosto.

No intervalo, Lia e eu nos sentamos juntas, e ele, apesar de ter outros amigos, quase sempre fica com nós duas.

Na saída, vamos os três no carro de Luke (Lia começou a ir embora conosco depois de termos passado por ela no caminho uma vez).

Sempre parando do meu lado da rua, Luke me deixa em casa, mas à tarde volta para me ver. Assistimos filmes no sofá da sala e às vezes a minha mãe se junta a nós. Ela nem consegue disfarçar sua aprovação por ele, e ele adora isso.

Na casa de Luke nunca mais se ouviu falar em peixe, pois, na primeira noite em que me convidaram para jantar, a mãe dele preparou salmão defumado especialmente para mim, mas as coisas meio que não saíram como planejado.

Veja bem, ela cozinhou para mim, como eu poderia fazer uma desfeita dessas? Encarei o salmão ridículo, mas na terceira garfada, eu já não estava conseguindo disfarçar minha cara de sofrimento por comer algo que tanto odeio. E eles perceberam.

— Grazy, está passando mal? — Eliza, mãe de Luke, perguntou toda cheia de preocupação.

Minhas bochechas arderam de vergonha.

— Não, eu só... — coloquei a mão na garganta para disfarçar minha dificuldade em engolir.

— Você não parece muito bem — comentou Willian, pai de Luke, com a testa franzida.

O constrangimento foi tão grande que meu rosto se incendiou por completo.

Eliza se levantou, veio até mim e colocou a mão em minha testa.

— Você está muito vermelha, está quente, deve estar com febre.

— Está parecendo mais uma reação alérgica — ponderou Willian.

— Eu sou alérgica a frutos do mar! Deve ser por isso! — Isso saiu mais como uma comemoração.

— Acho que peixe não se enquadra em frutos do mar — Luke me observava com cara de divertimento.

— Há controvérsias — o pai pontuou.

— De qualquer forma, é melhor Grazy não comer isso — Eliza retirou meu prato.

Depois disso, os pais de Luke tentaram me levar para o hospital (os convenci de que não precisava), pediram desculpas (que culpa tinham da minha mentira?) e pediram pizza (me deixaram escolher o sabor!).

E eu tenho quase certeza de que Luke sabe que eu estava mentindo sobre a suposta alergia.

Apesar de o primeiro jantar ter sido traumático, os demais foram muito agradáveis.

O pai de Luke me adora, porque um dia desses antes do jantar, quando Luke e eu fomos até a cozinha pegar os pratos e talheres para colocar à mesa, me virei para Luke e disse:

— Tenho que revelar uma coisa — fiz cara de aflição.

— O que foi? — ele franziu a testa e me olhou atentamente.

Respirei fundo e, olhando dentro dos seus olhos de avelã, disse:

— Luke, eu sou seu pai.

Bem nesse momento, o pai de Luke entrou na cozinha.

— Não! Você fez errado. Tem que puxar do fundo da garganta, como se tivesse uma caneta atravessada na carótida. Veja: Luke — ele fez uma pausa dramática, respirando pesadamente para imitar Darth Vader — eu sou seu pai.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora