13 - Desconfiando

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Lia está sentada ao meu lado na mesa da cozinha, fazendo sua parte do trabalho.

Estamos montando uma linha do tempo sobre a Segunda Guerra Mundial e acho que não foi boa ideia ter deixado Lia com a parte de recortar as imagens impressas, pois agora ela tem uma arma em mãos e pode usá-la contra mim.

Tudo bem que uma tesoura de ponta redonda não é a arma mais letal do mundo, mas tem gente por aí que mata três usando apenas um lápis, não é?

Minha parte é colar os recortes no cartaz, mas estou tão tensa que não consigo alinhar as imagens direito.

Estou na terceira tentativa de colar a imagem da invasão da Polônia e o papel está ficando estragado.

Os olhares feios que Lia lançou para o meu trabalha malfeito só me deixaram ainda mais nervosa.

Minhas mãos até tremelicam pela tensão enquanto encosto o papel com todo o cuidado, lentamente, fazendo uma prece mental para que dessa vez dê certo e...

— Buh!

— AHHH! — grito e a imagem cai da minha mão de qualquer jeito no cartaz.

Lia dá uma gargalhada alta.

— Por que fez isso? — pergunto baixo, retirando depressa a imagem antes que cole.

— Você tá aí toda se tremendo de medo de mim — ela continua rindo.

— Não tenho medo de você — murmuro sem olhar para ela.

— E vive correndo e se escondendo na escola por quê?

— Pra você não me dar uma surra no meio de todo mundo — minha voz sai mais para dentro que para fora.

— Por você ter estragado a minha blusa favorita?

Estou ciente do olhar dela sobre mim e me sinto tão ridícula pela minha covardia que respiro fundo e tomo coragem para encará-la.

— Olha Lia, aquilo foi um acidente. Eu sinto muito mesmo por ter derramado suco em você.

Ela abana a mão.

— Relaxa, já passou. Além do mais, você me pagou o prejuízo proporcionando entretenimento com suas fugas desastradas — ela ri.

Fico irritada. Eu não sou Patati e Patatá de ninguém!

— Não ri de mim. Já basta aquele ridículo do Luke — murmuro de mal humor, voltando a me concentrar na tarefa.

— Vocês dois estão tendo um casinho, é?

Quase caio da cadeira.

— O QUÊ?!

— Calma, eu só tô tentando confirmar uma fofoca que ouvi — ela ergue as mãos em sinal de inocência.

— Que fofoca?! — meus olhos quase saltam para fora.

— Vocês saíram juntos da escola ontem, pelo que eu ouvi. Isso se espalhou rapidinho — ela diz na maior tranquilidade e volta a recortar uma figura.

— Mas o que tem demais nisso? Ele só me deu carona porque somos vizinhos!

— Você é a novata, então as pessoas falam mesmo. Ainda mais que foi com Luke.

— Como assim 'ainda mais'?

— Ué, ele é o Luke, né? — Ela passa a figura recortada para o meu lado calmamente, como se não tivesse que dar mais detalhes sobre a frase que acabou de dizer.

— Luke é, tipo, popular?

— Eu diria que sim — e continua cortando o papel, sem se importar em dar maiores explicações.

Tomo a folha da mão dela.

— Lia! Você tem que me contar o que significa isso. Como assim 'eu diria'? Me fala logo tudo!

Ela ri da minha curiosidade desenfreada. Mas se compadece e fala:

— Ele é bonito, solteiro e sempre é convidado para todas as festas. O fato de ele não aceitar convite de ninguém só deixa as pessoas com ainda mais vontade que ele vá.

— Por que ele não vai em festas? Ele se acha superior ou algo assim?

Ela dá de ombros.

— Vai ver ele só não gosta mesmo — diz com indiferença, como se ela própria não gostasse.

Fico curiosa e pergunto:

— E você gosta?

— Não mesmo — ela retorce o nariz. — Você gosta?

— Não sei. Nunca fui à uma festa.

— Não está perdendo nada. É só fonte de fofoca.

Ela pega de volta o papel que tomei e continua sua tarefa.

Pego a figura da Polônia, já toda enrugada de cola, e coloco no cartaz. Dessa vez, fica alinhado.

— Eu não ligo para fofocas — comento.

— O problema com fofoca naquela escola é que as pessoas aumentam tanto que até inventam, a ponto de não se saber o que é verdade ou mentira.

De repente um pensamento me atinge e me viro para Lia.

— Tem alguma fofoca sobre Luke? — Nem consigo disfarçar o interesse em minha voz.

Lia olha para mim por um segundo, mas logo volta a se concentrar na tesoura atravessando o papel.

— Tem fofoca sobre todo mundo. O meu conselho é que você ignore todas.

Então há mesmo fofoca sobre Luke?

Bom, se tem, preciso descobrir o que é.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora