O garoto dos olhos avelã

10 - Euforizando

Minha mãe não fica feliz em me ver chegando em casa sem o meu pai. Mas quando digo que peguei carona com o vizinho, sua expressão repreensiva se suaviza.

— Aquele dos olhos claros? — pergunta.

— É.

— Bem, ele parece ser um bom garoto.

Mas não é. Ele gosta de se divertir às minhas custas.

Me encaminho para as escadas.

— Avisou ao seu pai? Ele disse que ia te levar ao shopping depois da aula.

Paro no meio das escadas.

— Como assim?

— Você não vive dizendo que está precisando de roupas?

— Diz para ele que hoje não dá. Vou estudar com uma pessoa da escola — volto a subir.

— Você reclama que ele não te deixa comprar coisas, mas agora que ele vai te levar para comprar você não quer?

— Eu tenho que estudar, mãe! — digo alto do topo das escadas.

— Se vai mentir, poderia dizer uma coisa mais realista! — ela devolve na mesma altura.

Entro no quarto e corro para o guarda-roupas. Preciso encontrar algo decente para vestir essa tarde.

•

Mal acabo o almoço e já corro para tomar banho. Lavo o cabelo duas vezes e passo meu hidratante corporal favorito.

Às duas e cinco da tarde, estou descendo as escadas.

— Onde é a festa? — minha mãe pergunta.

— Quê?

Ela aponta para o meu vestido.

— Estou indo estudar, não tem festa nenhuma.

— E para estudar precisa dessa produção toda?

— Esse vestido é velho — reviro os olhos.

— Volta para o seu quarto. Pode estudar lá — determina com tirania.

— Não dá para estudar esse assunto sozinha! Ele vai me ajudar!

— Ele quem?

Ela cruza os braços.

— O vizinho.

Ela descruza os braços.

— O garoto bonito?

— Ele não tem nada de bonito! Eu acho ele ridículo, se você quer saber — cruzo os braços.

— Tá, vai estudar. Mas volte antes das seis.

Saio de casa depressa, pois estou atrasada. Ao atravessar a rua, sinto de novo uma euforia estranha para estudar matemática. Vai ver eu estou me tornando uma mega inteligente que senta na frente da sala e adora matemática. É isso.

Paro na frente da porta da casa dele e toco a campainha.