Sério, o que a minha mãe vê em Luke que a faz confiar nele com tanta facilidade?
Ela não queria me permitir ir à festa e perguntou com quem eu iria, aí, quando falei que era com o vizinho, ela disse:
— O garoto dos olhos claros?
— O nome dele é Luke — respondi cruzando os braços.
— Já sabe o que vai vestir?
E assim ela me ajudou a escolher a roupa.
Quando minha mãe disse que tinha um vestido dos anos sessenta guardado, não acreditei que seria algo usável, mas assim que experimentei o vestido azul rodado com um laço grande na cintura, percebi que a minha mãe versão adolescente tinha bom gosto.
— Por que você ainda tem isso? — questionei, olhando para ela através do espelho.
Meu pai é absolutamente minimalista e contra guardar coisas antigas que não são utilizadas.
— Eu estava usando esse vestido no dia que seu pai me pediu em namoro. Virou o favorito dele. E me traz boas lembranças — ela suspirou e o olhar ficou distante, como se estivesse revivendo o passado. — Além do mais, foi a minha mãe que repassou para mim e essa é a única coisa que eu posso repassar para a minha filha, já que não temos coisas antigas de família.
Percebi que ela ficou contrariada, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, sacudiu a cabeça e informou que iria levar o vestido até a lavanderia.
Fiquei ansiosa para que Luke me visse toda arrumada dentro do vestido, mas agora, diante de seu olhar, me sinto um poço de nervosismo e insegurança.
— Satisfeita? — questiona ele quando passamos pela entrada do salão de festa.
Acontece que, depois que saímos do vagão abandonado e Luke me deixou na porta de casa, me chamou para fazer algo juntos essa noite. E eu disse que só aceitaria se fosse um lugar em que todos estivessem vestidos com roupas dos anos cinquenta.
— Não mesmo — respondo. — Só estaria satisfeita se o meu par estivesse usando calça de alfaiataria, suspensórios e chapéu.
— Está confundindo com os anos trinta.
— E você está confundindo com os anos atuais, seu sem graça.
— Ei, essa jaqueta não é dos anos atuais, ela nasceu antes de você — ele abre as abas da jaqueta jeans.
Reviro os olhos, mas reconheço o esforço dele em ter colocado a camisa listrada para dentro da calça.
Paramos em um canto na lateral do salão, antes de chegar no fluxo de pessoas, e observo em volta sem conseguir me conter de empolgação.
Nossa localização nos permite ver tudo o que acontece sem precisar nos envolver diretamente com o resto do ambiente, de forma que podemos nos envolver um com o outro tendo alguma exclusividade.
Distantes das caixas de som, a música não vai atrapalhar a nossa conversa. Distantes do centro da pista, onde um globo prateado reflete no alto, não vamos esbarrar naquelas pessoas com roupas dos anos cinquenta a oitenta que dançam loucamente.
Aqui onde estamos seremos só Luke, eu a voz de Elvis Presley. Mal posso esperar por uma música lenta e assim dançar com a cabeça recostada no ombro de Luke.
Sinto um toque gentil quando Luke segura o meu cotovelo e me vira para si.
— É como você esperava? — ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
O gesto me faz derreter em um sorriso bobo e fico grata pela luz azul do ambiente impedir que Luke veja a cor das minhas bochechas.
— É sim. Obrigada, Luke. Sei que você não queria vir e fez isso por minha causa. Vou ficar te devendo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O garoto dos olhos avelã
Roman pour AdolescentsGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...