16 - Conflitando

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Sério, o que a minha mãe vê em Luke que a faz confiar nele com tanta facilidade?

Ela não queria me permitir ir à festa e perguntou com quem eu iria, aí, quando falei que era com o vizinho, ela disse:

— O garoto dos olhos claros?

— O nome dele é Luke — respondi cruzando os braços.

— Já sabe o que vai vestir?

E assim ela me ajudou a escolher a roupa.

Quando minha mãe disse que tinha um vestido dos anos sessenta guardado, não acreditei que seria algo usável, mas assim que experimentei o vestido azul rodado com um laço grande na cintura, percebi que a minha mãe versão adolescente tinha bom gosto.

— Por que você ainda tem isso? — questionei, olhando para ela através do espelho.

Meu pai é absolutamente minimalista e contra guardar coisas antigas que não são utilizadas.

— Eu estava usando esse vestido no dia que seu pai me pediu em namoro. Virou o favorito dele. E me traz boas lembranças — ela suspirou e o olhar ficou distante, como se estivesse revivendo o passado. — Além do mais, foi a minha mãe que repassou para mim e essa é a única coisa que eu posso repassar para a minha filha, já que não temos coisas antigas de família.

Percebi que ela ficou contrariada, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, sacudiu a cabeça e informou que iria levar o vestido até a lavanderia.

Fiquei ansiosa para que Luke me visse toda arrumada dentro do vestido, mas agora, diante de seu olhar, me sinto um poço de nervosismo e insegurança.

— Satisfeita? — questiona ele quando passamos pela entrada do salão de festa.

Acontece que, depois que saímos do vagão abandonado e Luke me deixou na porta de casa, me chamou para fazer algo juntos essa noite. E eu disse que só aceitaria se fosse um lugar em que todos estivessem vestidos com roupas dos anos cinquenta.

— Não mesmo — respondo. — Só estaria satisfeita se o meu par estivesse usando calça de alfaiataria, suspensórios e chapéu.

— Está confundindo com os anos trinta.

— E você está confundindo com os anos atuais, seu sem graça.

— Ei, essa jaqueta não é dos anos atuais, ela nasceu antes de você — ele abre as abas da jaqueta jeans.

Reviro os olhos, mas reconheço o esforço dele em ter colocado a camisa listrada para dentro da calça.

Paramos em um canto na lateral do salão, antes de chegar no fluxo de pessoas, e observo em volta sem conseguir me conter de empolgação.

Nossa localização nos permite ver tudo o que acontece sem precisar nos envolver diretamente com o resto do ambiente, de forma que podemos nos envolver um com o outro tendo alguma exclusividade.

Distantes das caixas de som, a música não vai atrapalhar a nossa conversa. Distantes do centro da pista, onde um globo prateado reflete no alto, não vamos esbarrar naquelas pessoas com roupas dos anos cinquenta a oitenta que dançam loucamente.

Aqui onde estamos seremos só Luke, eu a voz de Elvis Presley. Mal posso esperar por uma música lenta e assim dançar com a cabeça recostada no ombro de Luke.

Sinto um toque gentil quando Luke segura o meu cotovelo e me vira para si.

— É como você esperava? — ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

O gesto me faz derreter em um sorriso bobo e fico grata pela luz azul do ambiente impedir que Luke veja a cor das minhas bochechas.

— É sim. Obrigada, Luke. Sei que você não queria vir e fez isso por minha causa. Vou ficar te devendo.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora