Vamos lá. Tente se lembrar dos motivos pelos quais você escolheu esse curso, Graziella.
Você é boa em matemática. Descobriu isso estudando para o vestibular. Você ia bem nos simulados.
Matemática virou um trunfo, já que você não era tão boa nela e decidiu focar nos pontos fracos. Aí você foi ficando tão boa que, de repente, fazia sentido cursar algo na área de exatas.
Pronto, encontrei uma boa justificativa para estar nesta aula chata, encarando o quadro cheio de cálculos escabrosos.
Mas ver esses cálculos joga a minha justificativa no lixo, pois a matemática que eu vejo nesse curso não tem absolutamente nada a ver com aquela do vestibular. Isso aqui é coisa diabólica.
Tenho que focar em outro motivo.
E que tal esse: vou ser uma grande engenheira!
Isso, vou ser a melhor engenheira que já pisou na Terra.
Vou erguer prédios, construir pontes e... o que mais? O que mais faz um engenheiro? Só construir coisas de concreto?
Tem que ter algo divertido. Algo realmente empolgante além de lidar com cimento.
Bom, eu vou descobrir o que uma engenheira faz quando eu me formar. Ainda estou no segundo semestre do curso, não preciso me preocupar com um futuro tão distante. Agora é hora focar no presente, na minha vida de universitária do curso de Engenharia Civil.
Nisso sim tem coisas boas.
Por exemplo: Lia, minha melhor amiga, está no mesmo curso que eu e somos colegas em quase todas as matérias!
Outro exemplo: Luke, meu namorado lindo e charmoso dos olhos avelã, é meu colega em todas as matérias!
Somos um casal de estudantes de Engenharia Civil. Seremos um casal de engenheiros um dia. Olha que coisa incrível!
Não que o fato de Luke e Lia terem escolhido esse curso me influenciou de alguma forma. É claro que não. Eles não têm nada a ver com isso.
Eu escolhi porque tenho afinidade com matemática. Não por que estava em dúvida do que escolher e, sem conseguir tomar uma decisão, me baseei na decisão deles. Isso seria ridículo.
E agora a melhor parte de todas: nós três sempre estudamos juntos para as provas.
Às vezes estudamos em quatro, com Julia, a nova amiga que fizemos na faculdade. Mas isso só quando Lia está tão preocupada com as provas que não tem cabeça para brigar com Julia.
Lia não gosta de Julia.
No começo, achei que era ciúmes da nossa amizade, mas depois a coisa foi ficando realmente tensa.
Vejo o professor apagar uma parte do quadro e vejo pessoas tirando foto às pressas. Então me dou conta de que eu devia ter tirado uma foto também, já que não estou anotando nada, estou é desenhando um infinito em cima do outro na última folha do meu caderno para fingir que presto atenção.
Não sei para quem estou fingindo, visto que os professores universitários não dão a mínima se os estudantes estão aprendendo ou não. O fato de eles não ligarem é uma das coisas mais legais da faculdade.
Lado bom: eles não se importam se você está aprendendo algo.
Lado ruim: eles não se importam se você está aprendendo algo.
Por isso me sinto livre para me distrair durante as aulas algumas vezes. Mas que culpa tenho se o cabelo loiro de Adrian brilha tanto que ofusca a minha visão?
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O garoto dos olhos avelã
JugendliteraturGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...