67 - Ruir

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Minha mochila vai direto para o chão e meu corpo se afunda no sofá. Sei que minhas pernas não possuem forças suficientes para andar até o quarto, por isso desabo aqui mesmo.

Será que chorar é sinal de fraqueza? Afinal, do que adianta derramar lágrimas?

No entanto, também não tenho certeza se a capacidade de reprimir o choro é um sinal de fortaleza.

Talvez chorar seja uma boa forma de dar vazão aos sentimentos ruins. Talvez se eu não tivesse reprimido tanto, não teria explodido e tomado uma decisão tão ruim.

Ainda assim, seguro o choro.

A raiva nos move a fazer coisas absurdas que não queríamos fazer. Mas o arrependimento só chega tarde.

Aceitei namorar com Adrian impulsionada pela raiva dilacerante que eu estava sentindo de Luke. Mas assim que os olhos de Adrian cintilaram de felicidade e ele me abraçou, tirando-me do chão para me girar no ar, o peso da minha decisão caiu sobre os meus ombros.

Eu ainda estava rodando no ar quando Luke passou por nós como um tornado. O mundo rodava depressa enquanto eu o via se afastar a passos largos até sumir do meu campo de visão.

— Adrian! Eu vou vomitar! — gritei, me forçando a rir, pois ele estava rindo muito.

Ele me colocou no chão depressa, segurando o meu rosto entre as mãos para verificar o meu estado.

Eu estava zonza, mas não enjoada. Ainda assim usei essa desculpa para ficar em silêncio dentro do carro dele, à caminho da minha casa.

— Tem certeza de que não quer que eu fique para cuidar de você? — perguntou ele, assim que paramos na porta da minha casa.

A preocupação e a culpa em seu rosto me fizeram sentir péssima comigo mesma. Mas eu não tinha forças para lidar com isso, já estava usando cada gota de energia do meu corpo para segurar o choro torrencial que ameaçava explodir.

Garanti que ficaria bem, que só precisava dormir um pouco e prometi ligar para ele mais tarde.

E agora, jogada no sofá, me pergunto como vou consertar isso.

Não posso ir até ele e dizer:

"Ei, Adrian, só aceitei namorar com você porque estava com raiva de Luke, mas agora que a raiva já passou, deixa isso de namoro para lá. Vamos continuar sendo amigos!"

Eu o usei para atingir Luke. Assim como o usei para fingir para os meus pais que eu estava bem, quando o convidei pela primeira vez para vir à minha casa. Como eu pude ser tão egoísta com Adrian?

Mas agora fui longe demais. Eu não vejo Adrian dessa forma, não posso ser sua namorada.

E quando ele souber a verdade, não vai mais olhar em minha cara. Ou seja, eu já perdi Adrian. Era o único amigo que eu ainda tinha.

Abraço a almofada com muita força tentando fazer com que a dor no meu peito diminua, mas a imagem do sorriso puro e genuíno de Adrian faz meu coração sangrar de dor.

O espaço em minha mente é quase completamente dominado por culpa e tristeza, mas ainda há raiva pulsando em um canto escuro do meu cérebro. Luke.

Estou com tanta raiva dele. Ele foi um estúpido. Me disse coisas horríveis, me chamou de cínica, de mentirosa, duvidou do meu amor por ele. Eu não o reconheço mais.

Ouço o som abafado do toque do meu celular dentro da mochila e minha decisão imediata é ignorar, mas então lembro que pode ser os meus pais.

Minha mãe está participando de um evento jurídico em outra cidade e meu pai foi com ela. Ele tem se empenhado em dar suporte à carreira dela, assim como ela fez com ele por tanto tempo.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora