49 - Espionar

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Há um ranking de melhor jogador de xadrez na casa de Luke. Willian, o mestre, está no topo. Mila é á sub mestre. Luke está em terceiro e Eliza em quarto. Eu estou em último.

Nunca venci Willian em nenhuma das partidas que jogamos, mas ao fim de cada derrota eu repeti o meu mantra: "um dia a aprendiz vai superar o mestre". E atribui a fala a Mestre Yoda.

Andei praticando muito, secretamente, e estou ansiosa para jogar com ele de novo e surpreendê-lo.

Além disso, quero muito ver os meus sogros, faz algum tempo que não venho na casa deles.

A faculdade toma muito tempo, e tem o meu trabalho de vendedora meio período na livraria, mas a questão real é que Luke não me convida mais.

Hoje, quando ele me pediu para vir mais cedo que o horário marcado com as meninas, fiquei empolgada e falei que estou morrendo de saudade dos pais dele. Imaginei que poderia passar algum tempo com eles.

Mas Luke disse que seus pais não estariam em casa e que poderíamos aproveitar para passar um tempo sozinhos.

E como estou apertando a campainha e ninguém atende, invado a casa.

Bato à porta do quarto de Luke, mas não obtenho resposta, então giro a maçaneta e entro. Ele não está à vista. Vou até a cama, me sento e pego meu celular para ligar para ele. Me detenho, no entanto, ao avistar a tela do celular dele se acender na mesa de cabeceira.

Nova mensagem.

Sim, é uma mensagem, o que tem de mais? É claro que você não vai ler!, recrimino a mim mesma em pensamento.

Pode ser a pessoa com quem ele tanto conversa no celular.

Balanço a cabeça. Não sou esse tipo de namorada.

Mas você pode descobrir o que está acontecendo com ele.

Não! Eu não posso invadir a privacidade de Luke. Se ele não quer compartilhar o que está acontecendo, é direito dele. Eu respeito isso.

A quem você quer enganar?

Pego o celular depressa e digo a senha.

Tá vendo!? Se Luke quisesse esconder algo de você, ele teria mudado a senha, jogo na cara do anjo mau no meu ouvido esquerdo. O anjo bom no ouvido direito concorda comigo, mas também está curioso para ler a mensagem.

O número que mandou a mensagem não está salvo, e diz:

"Oi, lindinho"

O quê?! Não acredito! Pisco várias vezes para me certificar de que não li errado.

Sim, é verdade. A mensagem está mesmo aqui. Começo a vasculhar as outras mensagens e percebo que todas são minhas e da família dele.

Estreito os olhos para a tela. Essa não deve ser a primeira mensagem dessa pessoa, não com esse tom de intimidade. Será que Luke apagou as outras?

Volto na mensagem e, sem conseguir me conter, digito furiosamente:

"Olha aqui sua ridí..."

— O que você está aprontando?

— Ah! — pulo da cama e o celular voa da minha mão.

Luke pega o celular do chão e nem olha para a tela, apenas o coloca na cama e se aproxima de mim.

Sinto o cheiro de shampoo vindo de seus cabelos molhados.

— O que estava fazendo com o meu celular? — ele semicerra os olhos para mim.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora