Não acredito que consegui convencer Lia a ir ao aniversário de Bruna.
Claro que teve um pouco de chantagem emocional quando me fiz de pobre coitada e falei que minha única experiência com festa foi ruim e eu precisava viver outras para superar o trauma. Mas o importante é que Lia topou.
Hoje na escola não se falou de outra coisa.
No intervalo, Lia, Luke e eu estávamos sentados juntos no refeitório quando Jenifer veio nos chamar para fazer parte de um tal bondinho para a festa de Bruna.
Ela estava animadíssima usando as batatas fritas residuais sobre a mesa para me explicar como o bondinho vai aumentando de comprimento à medida que os carros vão passando na casa das pessoas, formando uma fila de carros até chegar ao destino.
Me pareceu mais como o jogo da cobrinha que tem no meu celular, e achei muito legal a ideia. Topamos, então Lia e eu fomos adicionadas a um grupo intitulado "Bondinho para a festinha da Bru", onde deveríamos mandar nossos endereços.
Luke não precisou (e nem quis) passar seu número para ser adicionado ao grupo, já que moramos na frente da casa um do outro.
Como Lia e eu temos que ir ao shopping comprar presentes para Bruna, almoçamos juntas em minha casa, mas o almoço é interrompido com a chegada do meu pai, pois fazemos uma patifaria no meio da mesa abrindo os presentes que ele trouxe.
Fico chocada em como ele conseguiu me comprar um vestido do tamanho certo, sendo que sempre erra. Mas o importante é que agora tenho um vestido verde água rodado, lindíssimo, para usar na festa.
Lia fica tão eufórica com a beleza do vestido que me faz experimentá-lo imediatamente, então subimos para o quarto.
— Luke vai se babar todo quando te ver toda gostosa dentro desse vestido — comenta ela no meio do meu desfile.
Ao retornarmos para o almoço, os pratos já esfriaram. Meu pai nos leva para comer no shopping.
A caminho da praça de alimentação, Lia insiste em entrar em uma loja de artigos diversos afirmando que lá encontraremos o presente perfeito para Bruna.
— Eu não faço ideia do que comprar para uma pessoa rica que já tem de tudo — comento passando os dedos sobre uma caixinha de joias acetinada e imaginando que até o porta-joias de Bruna deve ser de ouro.
— A gente podia não dar nada, já que ela tem tudo mesmo — ironiza Lia, pegando uma galinha amarela de plástico. — Na verdade, não vou comprar nada. Boa ideia, Grazy.
— Eu não dei essa ideia!
— Eu também não daria presente para uma pobre menina rica — meu pai diz do outro lado da prateleira, carregando a espada de plástico que pegou de um cesto de espadas para ficar cutucando a minha mãe no meio da loja.
— Viu? Seu pai apoia o seu plano perverso de não dar nada — comemora Lia.
— Vocês vão a uma festa de aniversário sem levar presente? — Minha mãe pergunta em tom de desaprovação, vindo logo atrás de nós.
— Na verdade, não é bem uma festa, vai ser em um cinema — dou de ombros.
— Grazy, você não sabe do que está falando. Essa é uma festa das grandes. Quem me dera meu pai gastasse rios de dinheiro para dar uma festa de aniversário para mim, mas ele foi comprar cigarro e nunca mais voltou — ela brinca, mas só nós duas achamos graça, pois os meus pais não entendem o meme por trás de rir de coisas trágicas (muito embora seja verdade que o pai de Lia abandonou o lar quando ela ainda estava na barriga da mãe).
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O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...