Entre duas impossíveis batalhas: segurar o celular entre o ombro e o ouvido e calçar o tênis; explicar para Lia que já combinei de ir para a faculdade com Adrian, me encontro fracassando em ambas.
— Eu não quero saber! — Lia berra do outro lado da linha. — Liga para Adrian e avisa que nós vamos juntas!
Me inclino um pouco mais na beirada da cama para amarrar o cadarço e me desequilibro, caindo fatalmente no chão.
Não faço esforço para me levantar, o chão parece o lugar adequado para mim, frente ao impasse em que me encontro no telefone.
— Não posso! Adrian já deve estar vindo — argumento, mesmo sabendo que essa batalha está perdida.
— Ele que se lasque. Chego aí em cinco minutos — e desliga.
Suspiro, derrotada.
Quero muito ir para a faculdade com Lia, mas prometi para Adrian que passaria o dia de hoje grudada nele.
Eu deveria dirigir o meu próprio carro. Assim eu poderia ir sozinha para a faculdade e não teria que deixar Lia ou Adrian chateados por ter que escolher entre um dos dois para me dar carona.
Sem coragem para dar a notícia por ligação, envio uma mensagem para ele, informando sobre a coação de Lia. Ele responde:
"Tudo bem, pimentinha. Te encontro na faculdade"
Após terminar de calçar o tênis, vou para a penteadeira e termino de me arrumar.
Um impulso me faz abrir o Twitter para verificar se há alguma curtida de Luke em meus posts antigos, mas as curtidas pararam de chegar desde aquela noite no terraço do hotel.
Solto um suspiro pesado.
Ao menos ele não apagou o perfil, que continua sem foto e vazio, sem postagem nenhuma.
Eu não posto nada desde que terminamos. Não gosto de registrar meus sentimentos ruins.
Ouço som de buzina lá embaixo e pego minha mochila.Ao chegar no meio das escadas, sou atingida pela sensação de estar esquecendo alguma coisa importante.
Fecho os olhos ao me lembrar do que se trata. Corro de volta para o quarto e me sento novamente na frente da penteadeira. Na última gaveta, pego a caixinha de joias que minha mãe me deu quando eu tinha treze anos. A caixinha de porcelana tem aparência antiga e delicada, com estampa de flores de cor rosa.
Abro a tampa e o fino objeto prateado brilha em contato com a luz do sol que atravessa as cortinas do meu quarto. Retiro-o com cuidado e coloco no pescoço.
Fecho os olhos e traço lentamente o caminho do símbolo do infinito enquanto minha mente vaga para uma memória específica:
Estávamos deitados em uma tolha estendida sobre a grama em um campo aberto mais afastado da cidade, onde não havia incidência de iluminação artificial para atrapalhar a visão do céu estrelado.
Naquela noite, contei para Luke minha teoria da conspiração sobre as estrelas serem apenas furos em um grande teto preto e que a lua é o buraco maior que tentaram cobrir com fita adesiva, mas que fica descolando aos poucos, e por isso as fases. Luke, já acostumado com as coisas insanas que saía da minha boca, concordou com a minha teoria.
Em dado momento, entre um beijo e outro, Luke estava em cima de mim, me olhando intensamente, quando seus olhos se detiveram em meu pescoço e ele começou a falar:
— O amor que eu sinto por você cabe nesse colar. Veja só, ele começa aqui — Luke colocou o dedo em uma ponta do infinito e começou a traçar o caminho — e termina a... ué — ele franziu a testa fingindo cara de confusão, enquanto percorria o caminho sem parar, dando voltas e mais voltas. — Parece que esse símbolo não tem fim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...