66 - Machucar

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Eu parti o coração de Luke.

Eu vi, através de seus olhos desolados, as estrelas de sua alma perderem o brilho, como constelações que desmoronam no céu da tristeza.

Eu quase beijei Adrian e Luke viu isso.

Não entendo por que quase cedi ao beijo. Eu não senti vontade alguma de beijar ele, mas o olhar dele era tão amável, tão verdadeiro. Não queria rejeitá-lo. Desisti no último segundo. E foi quando eu vi Luke.

Naquela hora, eu queria ter corrido atrás dele. Mas Adrian estava ali na minha frente, com os olhos brilhando, cheio de expectativa, esperando por uma resposta.

Ele estava tão imerso em sua ansiedade e nervosismo que sequer notou a minha troca de olhares com Luke.

Até agora não consigo entender como eu consegui me manter sobre os meus pés naquele momento.

— Desculpe, eu te assustei — Adrian disse diante do meu silêncio, o brilho sumindo de seus olhos aos poucos.

De repente vi dor em seu rosto e tive vontade de chorar, de gritar, de correr para casa.

Coloquei as duas mãos em meu rosto ao sentir as lágrimas chegando.

— Adrian, eu... eu não sei o que dizer, tem tanta coisa acontecendo... — o timbre de choro dominou a minha voz. — Eu ainda nem superei Luke...

Adrian colocou as mãos sobre as minhas gentilmente.

— Eu sei que é muita coisa. E não quero que você responda hoje. Na verdade, eu só queria que você soubesse, eu não espero nada em troca. É só que depois de ver você quase sem vida, eu percebi que não podia mais esconder os meus sentimentos.

Eu não queria desprezar a declaração dele, então apenas disse:

— Eu preciso de um tempo para pensar sobre isso.

A esperança dele se reacendeu e eu me senti mal. Não queria dar falsas esperanças, já que não há a menor possibilidade de eu aceitar o pedido de namoro dele.

Depois disso, saímos do terraço e voltamos para o evento no saguão, porém não vi Luke em lugar algum até a hora de entrarmos no ônibus de volta para casa.

No ônibus, Luke não olhou para mim em nenhum momento. Se sentou ao lado de Lia, mas eles não trocaram sequer uma palavra o caminho todo.

Agora, olhando para Luke através dos livros da biblioteca, sinto uma mistura de culpa e raiva: Culpa por ele ter me visto quase beijando Adrian; raiva por ele estar sendo frio e indiferente comigo, como se ele tivesse o direito de estar bravo comigo depois de toda a dor que ele me causou.

Uma semana após o pedido de namoro de Adrian, Luke ainda não me olha direito. Pelo contrário, cada dia ele me trata com mais indiferença.

Nos primeiros dias eu ainda tentei ser compreensiva, imaginando como ele devia estar magoado. Mas hoje ele está mais ríspido que todos esses dias e suspeito que tenha a ver com o fato de ele ter me visto chegando na faculdade no carro de Adrian.

Adrian e eu continuamos interagindo como amigos, apensar de eu saber dos sentimentos dele. Ele consegue separar as coisas e eu também. Estamos agindo com maturidade e não há razão para eu me afastar do meu amigo só porque ele tem sentimentos românticos por mim.

Tenho tentado evitar interagir com Adrian na frente de Luke, para que ele não pense que eu aceitei o pedido de namoro. Mas acho que me ver chegando no carro de Adrian hoje foi a gota d'água para ele.

Ao terminar de trocar as etiquetas antigas dos livros das prateleiras que minha altura permite alcançar, olho para Luke por costume, pois ele sempre vinha me ajudar nessa parte, já que estava sempre à espreita esperando uma oportunidade de interagir comigo.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora