Não consigo imaginar uma forma melhor de acordar do que essa. Seus lindos e encantadores olhos de avelã estão me observando com a serenidade da manhã, enquanto uma de suas mãos descansa em minha cintura e a outra brinca com os meus cabelos.
Há uma linha fininha na bochecha dele, provavelmente alguma marca do travesseiro. Seus cabelos pretos estão charmosamente bagunçados, fios apontando para todos os lados.
— Oi — digo com voz sonolenta.
— Oi — a voz dele é grave, arrastada e preguiçosa.
— Vem sempre aqui? — continuo a conversa.
— Não, mas gostaria — dito isso, ele se aproxima e me dá um selinho.
Fecho os olhos esperando por mais, porém, não recebo, pois meu celular começa a tocar ferozmente.
Frustrada, estico o braço e o pego.
A luz do aparelho quase me deixa cega, mas consigo identificar o nome no visor. Atendo.
— Oi, Lia.
— Esqueci meu livro aí porque você pegou e colocou no quinto dos infernos. Leva pra escola hoje.
— Tá, eu levo.
— E que voz de sono é essa? Não me diga que acordou agora!
Minha visão periférica capta um movimento furtivo. Viro o rosto e vejo Luke se aproximar com a maior cara de menino travesso.
— E você, Lia? Como se atreve a me acordar tão cedo? Nem deu a hora de o meu despertador... Luke!
Luke está em cima de mim, me atacando com beijos por todo o meu rosto, boca e pescoço, principalmente pescoço.
— Luke está aí?! Ele dormiu com você? VOCÊS TRANSARAM?! — A voz de Lia soa estridente e ensurdecedora em meu ouvido.
Coloco uma mão no peito de Luke e tento afastá-lo, mas é uma batalha perdida.
— Lia, não... não é isso... Luke, para! — Tento falar sério com ele, mas já estou é gargalhando. — Lia, depois conversamos, tchau.
— VOCÊ VAI ME CONTAR TU... — Desligo o celular e os gritos cessam.
Lia vai surtar.
Mal solto o celular na cama, ele estronda com o toque escandaloso do despertador. Mas nem isso faz Luke parar.
— Luke... Temos que levantar.... — minha voz vacila, pois os lábios dele estão beijando o canto da minha boca e eu não quero que ele pare por nada.
Envolvo o pescoço dele com os braços, cedendo. Luke percebe que levantei a bandeira branca de derrota e beija a minha boca.
Mas o despertador não para.
— Luke... — murmuro contra seus lábios.
— Tá bom... — reclama, dando um último selinho para se deslocar para o meu lado na cama.
Desligo o despertador e me sento, mas Luke simplesmente continua deitado, todo relaxado, sem a menor pretensão de sair da cama.
— Essa é a parte em que a gente se levanta e se arruma para a escola — digo.
— Não, vamos dormir mais um pouco — ele pega o meu braço e me puxa para si, me abraçando como se eu fosse o ursinho de pelúcia com que ele dormia abraçado quando era criança.
Um novo objeto surge em minha vida: ver uma foto de Luke de quando era criança.
— Proposta tentadora, mas temos que ir para a escola — tento me soltar do abraço, mas Luke não cede.
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O garoto dos olhos avelã
Roman pour AdolescentsGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...