Há certas decisões que tomamos na vida que nos fazem questionar o rumo que estamos dando a ela.
Enquanto ouço o som da maçaneta sendo girada, fecho os olhos com força acreditando que, se desejar com muita vontade, irei me teletransportar para uma outra dimensão.
A porta se abre e percebo que deu certo, fui teletransportada para debaixo da cama, pelo poder da adrenalina.
De olhos fechados, reflito sobre as escolhas que me trouxeram a este momento. A decisão impulsiva de entrar no quarto agora me parece absurdamente idiota.
— Eu sei. Estou mais tranquila — a voz de Eliza soa pelo quarto. — O que me preocupa é o estado emocional dela.
Abro os olhos e consigo ver os pés dela andando pelo quarto. Não há mais ninguém, então suponho que ela esteja conversando ao celular.
— Olha que bagunça! — Eliza exclama e se abaixa para reunir os papéis que deixei cair.
O pânico ameaça me engolir.
Ela vai pensar que um ladrão estava revirando as coisas e que talvez não tenha dado tempo de ele fugir, que ele ainda está no quarto, ela vai olhar embaixo da cama, vai me ver e...
— Não, estava reclamando da bagunça que Willian fez no quarto — ela termina de reunir os papéis e se levanta.
Isso mesmo. Foi Willian que fez, não um ladrão. E muito menos Graziella.
— Mas eu já disse, ela tem que se controlar. As coisas não funcionam assim — a voz de Eliza está pesada.
Arregalo os olhos ao perceber que essa era a pista que eu procurava. Ela está ali, falando ao telefone, pelo visto com alguém de confiança.
Tento me concentrar na conversa, mas estou apavorada demais para assimilar alguma coisa.
Meu nariz começa a coçar.
— É verdade. Mas entrar em desespero não ajuda agora. Ela precisa se cuidar. Vou tentar ir aí na semana que vem — Eliza continua, mas não consigo mais manter minha atenção na conversa, pois a pior coisa que poderia acontecer acontece:
Vontade de espirrar.
Coloco a mão no nariz e aperto os olhos.
Não vou conseguir segurar o espirro.
Talvez eu deva começar a pensar em uma desculpa por estar aqui embaixo.
Poderia dizer que tive uma crise nervosa e não conseguia controlar os meus atos. Quanto dei por mim já estava embaixo da cama.
Ouço a porta se fechando ao mesmo tempo em que o espirro me escapa.
O som abafado do meu espirro se propaga no ar e a porta se abre novamente.
Esse é definitivamente o meu fim.
Coloco a mão no nariz para prender a respiração.
Há um silêncio perturbador em volta.
Não tenho coragem de olhar para ver se ela está parada na porta ou se está caminhando até a cama, mas não estou ouvindo o som de passos.
Meu coração bate tão forte e tão alto que tenho certeza absoluta que Eliza está escutando o som de tambores.
A porta se fecha novamente.
Solto a respiração.
Foi por pouco.
Me arrasto para fora do esconderijo depressa. Com a adrenalina pulsando no corpo, aguardo três segundos e saio do quarto.
Uma vez ao lado de fora, fecho a porta cautelosamente e me encosto na parede. Fecho os olhos e prometo a mim mesma que nunca mais vou fazer uma coisa tão estúpida dessas.

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O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...