38 - Desaritmando

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Toda ação gera uma reação.

Essa é uma das leis mais básicas da Física.

Minha ação em não dar ouvidos quando Luke me alertou para ficar longe de Natan me levou ao ponto de tentar ajudá-lo, defendê-lo, culminando na cena em que Luke me viu beijando ele.

A reação para a minha ação foi Luke entrar no carro, dirigir em alta velocidade, e ser brutalmente atingido por um caminhão.

E agora Luke pode estar morto.

Então sim, tudo isso é culpa minha.

A recepcionista, os enfermeiros, todos me ignoram, porque pareço uma criança chorando e implorando por informações. Eles perguntam se sou da família e digo que sim, mas não consigo provar.

Liguei para os meus pais, mas não para os de Luke.

Não sei como contar que o filho deles sofreu um grave acidente de trânsito depois de ter visto a namorada beijando o monstro que fez a filha deles tentar tirar a própria vida.

Simplesmente não dá para contar isso.

— Grazy!

Olho para a porta da sala de espera e vejo minha mãe correndo em minha direção, ao lado do meu pai.

— Grazy, meu amor — ela me abraça apertado, e meu pai também.

Queria que pudéssemos ficar assim, nós três, abraçados. Queria nunca mais sair da proteção dos braços deles. Me sinto uma criança que precisa de cuidado dos pais após ter cometido um erro infantil e arranhado o joelho.

Só que eu sou adulta, cometi um erro catastrófico e posso ter tirado a vida de Luke.

— Por favor, conversem com os enfermeiros. Falem com alguém. Descubram como Luke está. Ninguém quer me dizer nada — minha voz soa trêmula e chorosa.

— Fica tranquila, vou ver se consigo alguma informação — minha mãe se afasta e vai até a recepção.

Meu pai continua me abraçando.

— Fica calma, minha filha. Luke vai ficar bem — assegura ele, passando a mão na minha cabeça.

— Não, pai, ele não vai ficar. Foi um caminhão que bateu nele. Um caminhão.

Meu pai me aperta com força.

Ouço a voz alterada da minha mãe discutindo com a recepcionista e logo ela volta para perto de nós.

— Só dão informações aos familiares. Precisamos ligar para os pais de Luke — diz com o celular na mão, já buscando o contato na agenda.

Quando surge na tela o nome "Eliza vizinha" tomo o celular da mão dela e desligo a chamada.

— Não, mãe! Eles vão me odiar!

— Filha, os pais de Luke precisam saber que ele está no hospital.

Tento protestar, mas os soluços cortam a minha fala. Minha garganta se fecha e não consigo dizer mais nada.

Minha mãe cuidadosamente pega o celular de volta e se afasta. Observo-a levar o celular ao ouvido enquanto anda até um canto da sala.

Meu pai me puxa de volta para seus braços.

— Vai ficar tudo bem — garante, subindo e descendo a mão em minhas costas.

— Pai, tá doendo tanto — murmuro em meio ao choro.

— Eu sei. Mas vai passar. Confia em mim, tudo vai se resolver — diz firme, acariciando meus cabelos.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora