É intervalo e pretendo lançar um interrogatório em cima de Lia por sua reação suspeita durante nossa conversa sobre a festa. E farei isso assim que sairmos da fila, pois não quero correr o risco de esse bando de fofoqueiros nos escutar.
Logo que nos sentamos, ignoro completamente o suco e o sanduíche em minha bandeja e me viro para Lia.
— Lia, precisamos conversar sobre...
— Grazy! Oi!
Olho para o lado e encontro Jenifer com um largo sorriso. Não parece de ressaca, como era suposto estar.
— Posso falar com você? — Sem esperar resposta, ela pega meu braço e me leva.
Jenifer para comigo em um canto mais recuado do refeitório.
— Você tá legal? Vi que vocês foram embora depois daquela situação — ela me observa inexpressivamente.
— Tá tudo bem — abano a mão para desconsiderar o assunto. — O que você queria falar?
— Na verdade, estou aqui como mensageira. Meu primo Natan me pediu para falar com você e pedir desculpas em nome dele. Ele também foi embora depois daquilo, ficou meio chateado, lamentando ter te causado algum tipo de problema.
— Ah... bom, não causou problemas, está tudo bem.
— Que bom! Ele vai ficar aliviado em saber. Ele anda meio transtornado, está passando por uma fase ruim — nessa parte, a voz dela fica carregada e seus olhos, tristes.
— Espero que ele fique bem — digo honestamente.
— Vou repassar o recado. Mas seria legal se você mesma dissesse. É que... — ela faz uma pausa. — Ele tá com o humor meio deprimido há uns meses. Qualquer chateação o deixa ainda mais para baixo.
— Sinto muito, Jenifer. Tomara que ele fique bem logo.
— Seria legal se você mesma dissesse isso a ele. Posso te passar o número dele e você liga, ou manda uma mensagem, que tal?
Hesito.
— Eu... é... minha mãe não gosta muito que eu use celular, ela fala que tecnologia é coisa do diabo. Na verdade eu estou de castigo sem celular por um ano — minto.
Jenifer faz cara de assustada, mas logo supera.
— Tudo bem. Olha, tem outra coisa — então ela volta a ser a Jenifer eufórica.
Com um sorriso largo, ela passa o braço dentro do meu e me puxa para falar mais baixo, como se fosse confidenciar algo.
— Lembra de Adriel? — Nego com a cabeça em resposta. — Aquele dos olhos azuis, lindo, gato, maravilhoso, que estava com uma jaqueta de couro preta? — Nego novamente. — Bom, ele se lembra bem de você e me pediu para descobrir se você está interessada em sair com ele!
— Ah... — começo meio sem jeito. — Eu não estou.
— Claro que está! E é por isso que eu já inclusive marquei um encontro duplo hoje a noite. Você com ele, eu com o amigo dele. Ah, vai ser incrível! — a voz dela soa extremamente aguda.
Encaro-a com perplexidade.
— Jenifer? Está maluca? Eu estou com Luke, esqueceu?
Ela faz cara de confusa.
— Ué, mas vocês estão namorando?
Desvio os olhos.
— Ah, Grazy... — o tom de voz dela fica piedoso. — Não me diga que já está apaixonada por Luke.
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O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...