57 - Nascer

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Meu copo desperta, mas a minha mente não, pois estou sonhando com beijos de anjos por todo o meu rosto. São beijos suaves, cheios de afeto e cuidado.

Meus lábios sorriem contra a minha vontade e meu coração se aquece com a sensação de ser uma pessoa amada. O cheiro de rosas frescas alcança o meu olfato.

Relutantemente, abro os olhos, mas é aí mesmo que minha mente se convence de estar sonhando, pois há um par de olhos avelã à minha frente.

Pisco algumas vezes, confusa.

— Luke... — sussurro.

— Oi, minha flor — ele acaricia meu cabelo.

— Que horas são? — olho para o lado confusa, procurando meu celular. É quando vejo um buquê de rosas brancas em minha mesa de cabeceira.

Luke pega o buquê envolto em papel celofane e me oferece.

— É bem cedo — ele responde.

Me sento na cama e aceito o buquê. Enfio o nariz entre as rosas, inalando o aroma delicado. Assim que meu nariz toca as pétalas, sinto a umidade das minúsculas gotas de orvalho matinal.

— O sol ainda não nasceu.

Meu coração se agita no peito, pois reconhece a frase instantaneamente.

Espio o rosto de Luke por trás das rosas brancas.

— Sério? — pergunto baixo.

— Faz tanto tempo que não fazemos isso, não é? — vejo culpa em seus olhos.

— Você tem subornado os meus pais para entrar aqui?

— Só a sua mãe.

— Vou me arrumar — me levanto da cama e vejo que ele repara na roupa que estou usando. É uma camisa dele.

Cheiro as flores mais uma vez antes de colocá-las de volta na mesa de cabeceira.

Havia um tempo em que Luke me dava flores sem ser por ter que se desculpar...

Embaixo do chuveiro, tento não pensar em nada. Estou magoada com Luke, mas não quero agir como se estivesse, pois passei a semana desejando estar perto dele e agora que tenho a chance, quero aproveitá-la.

Mas eu estaria sendo muito boba se agisse como se ele não tivesse se afastado por dias, me deixando preocupada e sofrendo com minhas teorias sobre o que está acontecendo na vida dele.

Entramos no carro em direção ao nascer do sol e o caminho é silencioso no interior do veículo, mas dentro da minha cabeça milhares de perguntas disparam. Quero encurralar Luke com todas elas, mas sei que isso só o afastaria mais. Por isso decido guardá-las para mim.

Luke para o carro no acostamento e caminhamos pela trilha estreita. Ele vai na frente, como sempre, abrindo caminho para mim.

À medida em que avançamos, o frio gélido da floresta me abraça. Percebo, tarde demais, que peguei um casaco muito fino, pois nem chegamos na parte enevoada e eu já estou tremendo. Faz tanto tempo que viemos aqui que eu já tinha me esquecido como é frio.

Ao menos estou usando botas e elas protegem bem os meus pés contra o orvalho da vegetação rasteira.

Mais um pouco de caminhada e finalmente consigo ver as ferragens dos trilhos, quase totalmente cobertos pelo verde da vegetação.

A trilha acaba e me encanto com a vista. Nem claro como o dia, nem escuro como a noite. A névoa branca se confunde com o verde predominante. Há mistério e magia neste lugar. É o nosso lugar.

Agora que podemos andar lado a lado o resto do caminho, Luke pega a minha mão. Acho que ele sente como está gelada, pois se vira para mim e pega a outra mão também.

— Você está congelando — o rosto dele se contorce de preocupação. Luke me puxa e me esconde em seu peito. — Desculpe, eu tinha me esquecido como aqui é frio — ele sobe e desce a mão pelas minhas costas, em um movimento contínuo, para me esquentar.

— Tudo bem, daqui a pouco o sol aparece — digo contra seu peito, grata não só por poder inalar seu cheiro, mas também por sentir a ponta do meu nariz descongelar.

— Lá dentro deve estar melhor — ele diz, mas não me solta imediatamente.

Após alguns segundos de relutância, Luke se afasta, mas mantem o braço em volta dos meus ombros para me levar.

Ao chegarmos no vagão, Luke me segura pela cintura e me ergue, me colocando sentada na superfície de madeira.

Depois estendo a mão para ele e ele sobe, sentando-se ao meu lado. Nossas pernas ficam suspensas no ar.

Luke passa o braço em volta dos meus ombros e me leva para perto de si. Me aninho ao seu corpo, grata pelo calor que emana dele. Sua mão sobe e desce pelo meu braço, para me manter aquecida.

— Desculpe por ontem — ele diz, baixo, se referindo a ausência quanto ao trabalho em equipe.

De todas as coisas que ele tem que se desculpar, essa é a que menos importa.

— Tudo bem, Adrian e eu terminamos tudo.

Ele fica em silêncio por um momento.

— Não eram quatro pessoas?

— Julia foi embora ao perceber que você não estava lá — digo e imediatamente me arrependo, pois não quero gastar meu tempo com Luke falando dela.

— Como assim?

— Nada, deixa pra lá.

Ficamos em silêncio novamente.

Os primeiros raios solares despontam no céu, dando uma cor rosada para as nuvens ralas.

Meu coração palpita ao perceber que o ápice está perto, o sol está vindo. E por mais que eu seja apaixonada pela magia do nascer do sol, não é por isso que meu coração está palpitando, é pelo que vem em seguida.

Encaro o céu, ansiosa, e vejo o momento exato em que o sol se infiltra na floresta, atravessando as árvores, e atinge o vagão. Imediatamente, nenhum segundo a mais, nenhum a menos, viro o rosto para Luke em busca de seus olhos.

Ele já estava olhando para mim. Meus olhos ansiosos acompanham a diminuição de suas pupilas e ficam fascinados com o tom de verde água que toma conta da íris.

Sinto a falta do dourado que habita as bordas das pupilas nas demais horas do dia, mas sou terrivelmente apaixonada por essa versão verde água em contato com os primeiros raios solares da manhã.

Um sorriso surge nos lábios de Luke, me arrancando da hipnose, e eu pisco, meio irritada com a interrupção.

Acompanho a mudança de foco dos seus olhos, que passam a mirar a minha boca, seguido de uma leve inclinação, e percebo o que ele vai fazer.

— Não se atreva — ameaço, mas os olhos dele não voltam para cima.

— Eu não consigo, tô com saudades demais — ele se inclina um pouco mais.

Meus sentimentos ficam confusos. Meu coração indeciso bate acelerado, pois morre de saudades da sensação da boca de Luke sobre a minha, mas também sente muitas saudades da imagem que está vendo.

Mentalmente, peço para o meu cérebro registrar a cena como uma fotografia, mas ele emite comandos mais eficazes, me fazendo puxar o celular do bolso.

— Não se mexa — ordeno e Luke obedece.

Como eu nunca pensei em eternizar essa imagem em uma foto?

Enquadro o rosto lindo na tela. Luke olha na direção do sol e fico grata por isso, pois a foto saiu mais perfeita do que eu podia imaginar.

Assim que ele percebe o meu sorriso satisfeito e entende que a foto já foi tirada, desvia da câmera e toma os meus lábios em um beijo surpresa.

Completamente realizado, meu coração bate acelerado, no ritmo da felicidade.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora