Não há palavras que possam descrever como me sinto nesse momento. Mas se eu fosse tentar, diria que me sinto um lixo, um verme, a pior pessoa que existe.
Como pude ser tão idiota? Como não percebi que tudo isso tinha a ver com Mila?
Como pude chamar Luke de monstro para defender alguém que foi tão monstruoso com a irmã dele a ponto de levá-la a tentar tirar a própria vida?
Como tive a audácia de confrontar Luke sobre suicídio?
Não dá para acreditar na atrocidade que eu cometi.
As palavras de Luke continuam ecoando em minha cabeça desde o momento que saíram de sua boca, quase duas horas atrás.
Assim que ele disse aquilo, o sinal tocou anunciando o fim do intervalo e as escadas rapidamente foram tomadas pelo fluxo de alunos saindo do refeitório.
Eu estava mortificada, encarando os olhos avelã cheios de dor, enquanto tentava processar o que tinha acabado de escutar.
Lia, vindo do refeitório, parou perto de nós ao perceber que havia algo errado. Então Luke desviou os olhos dos meus e saiu.
Lia tentou me perguntar o que aconteceu, mas não insistiu quando eu disse que não queria falar sobre isso.
Desde então, minha mente não para, fervilhando com todo tipo de maldade que Natan possa ter feito contra Mila. Mas não sei se quero descobrir o que ele de fato fez.
— Grazy? Está me ouvindo?
Olho para o lado e vejo Clara se esticando em sua cadeira para tentar chamar minha atenção.
— O quê?
— Perguntei se você viu a mensagem no grupo. Você não confirmou se vai para casa de Sofia.
Sei dos planos de o grupinho ir almoçar na casa de Sofia e passar a tarde por lá. Sei também que Lia quer muito que eu vá, já que Sofia é irmã de Pedro, o penetra que "invadiu" a casa dela na minha festa de aniversário.
Sei ainda que Lia quer dar o troco por ele ter "invadido" sua casa sem ter sido convidado, e me disse que vai jogar sujeira na cama dele.
Em se tratando de Lia, não dá para ter certeza de que ela falou isso só de brincadeira, mas eu iria adorar assisti-la aprontando com o garoto que ela finge não estar tão afim.
Só que hoje eu realmente não tenho cabeça para mais nada.
— Grazy não vai poder, Clara. Ela tem outro compromisso — Lia, sentada ao meu lado, responde por mim.
Olho para ela com uma expressão de gratidão silenciosa. Mesmo sem saber o que está acontecendo, ela é compreensiva.
— Graziella e Lia. Vou ter que separar vocês de novo? — A professora de geografia chama a nossa atenção por causa da conversa paralela.
Abaixo a cabeça e finjo estar concentrada em minhas anotações.
Lia põe a mão sobre a minha e aperta, como se estivesse me compartilhando forças.
Fico grata, mas nem toda força do mundo poderia me ajudar nesse momento.
Os minutos se arrastam e minha agonia aumenta. Só quero sair correndo atrás de Luke e implorar que me perdoe.
Quando a aula finalmente acaba, Lia pergunta se quero que ela cancele com as meninas e vá para casa comigo. E é claro que nego. Ela não pode sacrificar algo que quer fazer por minha causa.
Guardo as minhas coisas bem devagar, de propósito, para dar tempo de todo mundo sair antes de mim. Mesmo depois que fico sozinha na sala, não saio imediatamente.
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O garoto dos olhos avelã
Fiksi RemajaGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...