31 - Presenteando

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Um barulho irritante vai ficando cada vez mais próximo. A princípio, não consigo identificar do que se trata, mas, ao abrir os olhos, vejo meus pais ao lado da minha cama: minha mãe segurando três balões em forma de coração e meu pai batendo uma colher contra uma panela.

— Parabéns pra você, nessa data querida — eles começam a cantar.

Não. Só a minha mãe está cantando, meu pai está berrando.

Tenho certeza que a vizinhança toda está escutando.

Não espero terminem a cantoria, pulo da cama e me atiro nos braços deles.

— Está ficando velha — diz meu pai, bagunçando o meu cabelo ainda mais.

— Feliz aniversário, querida — minha mãe beija o meu rosto.

— Obrigada — respondo sem jeito ao me afastar do abraço.

— Filha, desculpa, esquecemos de comprar um presente para você — os ombros do meu pai murcham.

— Tudo bem pai, não se preocupa...

— Para com isso, Alberto! — Minha mãe o recrimina e abre espaço entre eles. Ambos se viram para a porta.

Lá está uma caixa enorme com embrulho de ursinhos.

Não faço cerimônias. Corro até ela e começo a rasgar o papel como um animal feroz.

Ao abrir a caixa grande, encontro outra menor no fundo. Lanço um olhar feio para o meu pai, que me retribuiu com um sorriso inocente. Como se fosse a primeira vez que ele faz isso.

Pego o embrulho menor, abro e dou um grito.

— O que foi, Grazy? Não gostou? — pergunta ele, se fazendo de ofendido.

Disparo na direção dos dois e os abraço com força.

— Obrigada, obrigada, obrigada! — grito em meio aos pulos.

— Calma, Grazy, é só um celular — meu pai ri.

Me afasto para encará-los.

— Não é um celular! É um iPhone!

— Você merece querida — minha mãe dá um sorriso doce.

Em seguida, eles me deixam no quarto para me trocar, pois há um "café da manhã especial" me aguardando.

Quero sentar na cama e ficar horas configurando meu novo celular, mas a única coisa que faço é colocar nele o chip do celular da Hello Kitty e me certificar de deixar o toque de mensagens em um volume que eu escute, para o caso de alguém... me responder.

Balanço a cabeça para espantar os pensamentos. Hoje é meu aniversário e eu não vou deixar sentimentos ruins estragarem o meu dia.

Na cozinha, me deparo com uma espetacular e exagerada mesa de café da manhã.

Me sento com os dois e meu pai me serve café como se fosse meu empregado, me chamando de madame e tudo.

A campainha toca e meu coração acelera.

É ele.

Tenho o ímpeto de correr até a porta, mas meu pai age como meu empregado novamente e anuncia que irá atender.

Em segundos, escuto a gritaria.

— CADÊ A MINHA ANIVERSARIANTE?

Me levanto só a tempo de ser atingida por um abraço de Lia que quase nos derruba no chão.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora