Um barulho irritante vai ficando cada vez mais próximo. A princípio, não consigo identificar do que se trata, mas, ao abrir os olhos, vejo meus pais ao lado da minha cama: minha mãe segurando três balões em forma de coração e meu pai batendo uma colher contra uma panela.
— Parabéns pra você, nessa data querida — eles começam a cantar.
Não. Só a minha mãe está cantando, meu pai está berrando.
Tenho certeza que a vizinhança toda está escutando.
Não espero terminem a cantoria, pulo da cama e me atiro nos braços deles.
— Está ficando velha — diz meu pai, bagunçando o meu cabelo ainda mais.
— Feliz aniversário, querida — minha mãe beija o meu rosto.
— Obrigada — respondo sem jeito ao me afastar do abraço.
— Filha, desculpa, esquecemos de comprar um presente para você — os ombros do meu pai murcham.
— Tudo bem pai, não se preocupa...
— Para com isso, Alberto! — Minha mãe o recrimina e abre espaço entre eles. Ambos se viram para a porta.
Lá está uma caixa enorme com embrulho de ursinhos.
Não faço cerimônias. Corro até ela e começo a rasgar o papel como um animal feroz.
Ao abrir a caixa grande, encontro outra menor no fundo. Lanço um olhar feio para o meu pai, que me retribuiu com um sorriso inocente. Como se fosse a primeira vez que ele faz isso.
Pego o embrulho menor, abro e dou um grito.
— O que foi, Grazy? Não gostou? — pergunta ele, se fazendo de ofendido.
Disparo na direção dos dois e os abraço com força.
— Obrigada, obrigada, obrigada! — grito em meio aos pulos.
— Calma, Grazy, é só um celular — meu pai ri.
Me afasto para encará-los.
— Não é só um celular! É um iPhone!
— Você merece querida — minha mãe dá um sorriso doce.
Em seguida, eles me deixam no quarto para me trocar, pois há um "café da manhã especial" me aguardando.
Quero sentar na cama e ficar horas configurando meu novo celular, mas a única coisa que faço é colocar nele o chip do celular da Hello Kitty e me certificar de deixar o toque de mensagens em um volume que eu escute, para o caso de alguém... me responder.
Balanço a cabeça para espantar os pensamentos. Hoje é meu aniversário e eu não vou deixar sentimentos ruins estragarem o meu dia.
Na cozinha, me deparo com uma espetacular e exagerada mesa de café da manhã.
Me sento com os dois e meu pai me serve café como se fosse meu empregado, me chamando de madame e tudo.
A campainha toca e meu coração acelera.
É ele.
Tenho o ímpeto de correr até a porta, mas meu pai age como meu empregado novamente e anuncia que irá atender.
Em segundos, escuto a gritaria.
— CADÊ A MINHA ANIVERSARIANTE?
Me levanto só a tempo de ser atingida por um abraço de Lia que quase nos derruba no chão.
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O garoto dos olhos avelã
Novela JuvenilGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...