Foi no dia em que Luke se ofereceu para me ajudar com matemática.
Passamos a tarde inteira fazendo cálculos, ele me ensinou tudo o que eu precisava saber com a maior paciência do mundo. Quando ele deu a aula por encerrada, puxei uma folha de ofício da impressora dele e falei:
— Você me ensinou um monte de coisa chata sobre números. Em troca, vou te ensinar uma coisa legal sobre eles. — Desenhei o número oito no centro do papel. — Esse aqui é o número oito, ele tá aqui feliz vivendo a vida dele. Aí chega o número nove, se achando maior que ele, e diz "vou te deitar na porrada". Mas o valentão passa vergonha, já que, deitado, o oito fica muito maior do que o nove, pois ele se transforma em... — apaguei o oito e em seu lugar fiz um oito deitado. Olhei para ele ao concluir a fala: — Em um infinito.
Luke riu e seu sorriso era lindo.
— Não é nada legal quando deitam esse oito na porrada no meio de uma equação — comentou.
— Por quê?
Ele pegou o lápis da minha mão e, um pouco acima do desenho do infinito, começou a rascunhar uma equação. No fim, o sinal de igualdade ficou atrás do meu infinito, como se o infinito fosse o resultado para o cálculo dele.
— Esse símbolo aparece em uma equação quando há sequências infinitas de resultados — explicou ele. — Então ninguém gosta dele.
Tomei o lápis da mão dele e desenhei colchetes em cada lado do infinito. Eu não sabia se fazia sentido colocar um infinito dentro de colchetes, mas, na minha cabeça, eu estava separando-o e protegendo-o dos cálculos ridículos.
— Você não vai estragar meu infinito — soltei o lápis sobre a folha e o encarei desafiadoramente.
Luke pegou o lápis e fez mais dois colchetes, um de cada lado, como que reforçando os meus colchetes e dando proteção extra ao meu infinito.
— Eu jamais estragaria seu infinito.
Rimos na hora, porque foi engraçado.
Mas agora, há um infinito fino e delicado sendo colocado em volta do meu pescoço.
Sem olhar para trás, puxo o cabelo para o lado e ele termina de fechar o colar.
Sinto sua respiração leve em minha nuca antes de seus lábios tocarem o meu pescoço em um beijo suave.
Um arrepio agradável percorre todo o meu corpo.
Então seus lábios sobem para a minha orelha.
— Feliz aniversário — sussurra no meu ouvido.
Sinto um frio gostoso na barriga e suspeito que meu coração vai parar de funcionar agora mesmo.
Enquanto tento me recompor, ele sai de trás de mim e vem se sentar ao meu lado.
Os olhos avelã mais lindos do mundo estão ali, olhando atentamente para mim.
— Obrigada — digo baixinho, traçando com o dedo o caminho do infinito.
Não sei o que dizer. Planejei falar tanta coisa quando o encontrasse e agora simplesmente não sei como agir.
— Você me perdoa? — As palavras dele me pegam de surpresa.
— Sou eu que devo pedir desculpas, Luke.
— Não, Grazy. Eu fui injusto com você. Eu sequer tenho direito de exigir algo de você. É que... — ele hesita, pega a minha mão e entrelaça nossos dedos. — Por mais que você tenha dito que somos um lance, não é assim que eu vejo nós dois.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...