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São Paulo, Outubro de 2015...
Vigarista
2 anos antes...
Na matina do dia quinze de outubro eu senti a pior dor que eu imaginei sentir um dia, me mandaram a real falando que meu irmão tinha sido baleado. Logo ele, o moleque que eu vi crescer comigo, andava lado a lado comigo, comeu no mesmo prato que eu quando a gente era moleque, passamos fome juntos, fizemos o primeiro roubo juntos. Qual é desse papo que ele não tá mais aqui? Que porra era essa que tava rolando? Tá maluco em mexer com gente de patente alta aqui de São Paulo?
- Tá me ouvindo Washington? - Meu pai falou me tocando. Olhei pra ele de cara fechadona. - Mandei Pedrinho ir lá, é bagulho dos caras da zona oeste, bagulho vai estreitar, mexeram com fita errada! - Meu pai dizia com a pistola na mão.
- Que caralho o Leonardo foi pra lá? Na hora que eu descolar a cara de cada um, vai ser da pior forma! - Falei sentindo o ódio percorrer pelo meu corpo todo.
- Fica aê de boa Washington, eu mandei o Tartaruga correr atrás desses filhos da puta. To sem coragem de ir lá na casa da tua mãe, to sem chão. - Meu pai disse passando a mão no rosto.
Eu sai de casa batendo a porta, olhei pro céu e vi aquele céu escurão todo sem estrela.
Qual era o jeito que eu ia mandar o papo pra minha coroa?
De longe avistei Pedrinho subindo, ele tava serião, quando ele me viu, ele veio direto me abraçando.
- Sinto muito ai! - Pedrinho disse batendo nas minhas costas.
Eu engoli aquilo seco, sabia que Pedrinho tava confirmando ali pra mim que o Leonardo tinha sido morto.
- Pedrinho, cadê o Leonardo? - Perguntei me afastando.
- Foi levado pelos menor daqui, vão levar pra funerária! - Pedrinho disse saindo de perto e entrando na casa do meu pai.
Eu me abaixei ali e passou na mente eu e o meu irmão crescendo juntos ali naquela favela. Era eu e ele sempre por ali, todo mundo sabia a parceria que a gente tinha.
******
Leonardo foi velado num barracão aqui no Jardim Ângela. A gente nasceu e cresceu nesse lugar. Quando eu bati o olho nele, eu não me conformei não, meu irmão tinha vinte e três anos, a vida toda pela frente, e agora tinha sido parada.
Isso é a vida do tráfico, ou tu acaba morto ou na cadeia, os únicos fins.
- Tua coroa tá chegando ai. - Ouvi a voz do Pedrinho na minha orelha.
Eu guiei pra entrada daquele barracão e logo vi minha mãe sendo segurada pela minha tia, fui em direção dela e quando ela me viu ela me agarrou firme.
- Não Washington, fala que é mentira meu filho, cadê o Leonardo? - Minha mãe me perguntava chorando.
- Bora mãe... - Respondi baixo.
Fui caminhando com ela lá dentro, ali tava meio cheião. Quando chegamos perto, ela desmorou de vez, ela agarrou no caixão e não soltou mais, ficou o velório todo assim, ela balançava ele querendo que ele levantasse, aquilo me machucou mais do que eu já tava machucado. Meu pai olhava tudo aquilo sério enquanto falava algumas coisas pro braço direito dele, o Paco.
- Eu quero ir no lugar dele Deus, me leva e trás ele de volta Deus! - Minha mãe gritava enquanto beijava meu irmão ali no caixão.
Aqueles minutos foram mo pesado pra mim, quando chegou a hora de levar ele pro carro da funerária, eu peguei de um lado, meu pai de outro, e uns parceiros do meu irmão.
Eu coloquei ele dentro do carro e me afastei abraçando minha mãe que tava acabada.
- Eu vou me vingar por ti, Leonardo! - Murmurei baixo olhando aquilo tudo rolar na minha frente.
Dali em diante eu sabia que não seria a mesma porra a minha vida.
• aperta na estrelinha •
Mais tarde terá mais um capítulo...
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MUNDO M
RomanceEra uma vez não se encaixa com todas as histórias... Aliás, o era uma vez se encaixa apenas em histórias com finais felizes fictícios, mas e o meu que foi real? Será que se encaixa? BASEADO EM FATOS REAIS! SEGUNDA TEMPORADA DE "...