• Capitulo 16 •

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Maratona 1/2

Luísa

Fui caminhando até em casa, não ia voltar de jeito nenhum lá na Letícia, cada vez mais o natal ficava chatão. O que eu gostava mesmo era o ano novo, a gente comia e depois ia pro baile, ai sim era comemoração de respeito.

Segui pra casa e já cheguei no meu quarto tirando a roupa e colocando outra. Eu me joguei na cama e enrolei pra dormir, mas também quando consegui dormi, nem um terremoto me acordava.

Acordei olhando pro teto, minha cabeça doía, eu nem lembrava de nada, parecia que eu tinha tomado um cacete e jogado em cima da cama, eu tava toda dolorida, meus olhos pesavam e tava difícil pra deixar abertos.

- Finalmente, achei que tinha morrido! - Ouvi a voz da minha mãe.

Eu foquei o olhar na direção dela e vi ela me encarando.

- Que horas é? - Falei rouca.

- Três horas da tarde! - Minha mãe disse. - Levanta logo, vim buscar uns biquínis e já vou voltar lá pra Letícia! - Minha mãe disse olhando o guarda roupa da Samira.

- Aonde a Samira tá? - Perguntei ficando sentada na cama.

- Ela e Ian sumiram, deve tá por ai na favela. - Minha mãe respondeu.

Toda vez que Ian vinha era a mesma merda, Samira me deixava de canto real, mal falava comigo e só ficava com ele.

Beleza, eu entendia que era irmão dela e que ficava sem ver ele por mo cota, mas caramba, o que custa me chamar? Sempre foi assim, não lembro uma vez que não foi, toda vez some o dia todo e não me convida. Mas eu já até me acostumei, antigamente eu emburrava, mas depois eu comecei a cagar e andar.

Minha mãe saiu do quarto e eu fui me levantando indo direto pro banheiro. Fiz o que eu tinha que fazer lá e sai na rua vendo o solzão que tava.

Se colocasse um ovo no chão fritava.

Fiquei encarando aquele movimento de sobe e desce das negadas e logo ouvi um assobio.

Eu nem olhei, logo me aparece Pedrinho na minha frente.

- Tava te chamando ou! - Pedrinho disse bebendo cerveja.

- Não ouvi meu nome, só ouvi um assobio, tá achando que sou passarinho agora? - Perguntei e ele me mediu.

- Que isso cara, cadê a animação pro natal? - Ele disse e eu ri pelo nariz.

- Ele foi dar uma volta e se perdeu pelo caminho! - Respondi voltando pra dentro de casa.

Bati o maior rango do dia anterior, minha mãe trouxe um pote cheio de comida. Comi duas vezes e depois me troquei saindo de casa. Fui direto pra casa da Jana, só não tinha ido lá ontem por que eu sabia que ela passava na igreja o natal e ano novo.

- E ai quenga! - Falei abraçando ela.

- Achei que não ia vir mais! - Jana reclamou.

- Dormi legal, tô toda dolorida! - Respondi seguindo ela até o quarto dela.

Eu me sentei na cama e ela me olhou me cutucando.

- Cê não sabe... Sabe aquele cara que eu tô afim? Acabei de descolar que ele trampa pro teu boy lá! - Jana disse.

Jana tava afim de um cara fazia já uns três meses, ele sempre tava na frente da escola.

Sabe aqueles caras mais velhos que vai na frente da escola pra pegar as mais novas? Então, era ele.

- Qual boy meu? - Perguntei.

- O Vigarista... Eu passei na frente da boca e ele tava lá dando os pó pros noia! - Jana disse e eu fiz o sinal da cruz.

- Deus me livre o Vigarista ser algo meu, cara chato, nada pra ele tá bom! - Falei negando com a cabeça.

- Ih, o que houve cara? - Jana perguntou.

- Levei comida pra ele e ele todo mau humorado falando que não tinha pedido... - Falei. - Ele não comemora o natal por conta de algum bagulho dele, fiz a gentileza de levar e ele sendo mo ingrato comigo, ridículo ele! - Falei fechando os olhos.

- Ele é estranhão mesmo, a gente tava voltando da igreja hoje de madrugada, tu tinha que ver a cara dele, certeza que ele tinha cheirado! - Jana disse.

- Não sei como as minas tem coragem de se envolver com esses tipos ai, na boa, negócio mesmo é começar a se envolver com os caras da pista. - Falei.

****

Fiquei a tarde toda na casa da Jana, jantei lá e depois fui embora. Todos estavam na casa do Caveira, e provavelmente Ian e Samira andando pela favela toda atrás de macho.

Sai da Jana umas sete da noite, eu fui indo pra casa e logo trombei com Pedrinho, ele me viu e logo veio correndo.

- E ai cu! - Pedrinho disse.

- E aí... - Respondi.

Ele se pendurou no meu ombro e fomos guiando.

- Aê, queria agradecer que tu levou a marmita pro Vigarista aê, valeu mesmo cara, eu já ia levar! - Pedrinho disse.

- Tentei fazer minha parte mas ele é um ingrato do caralho! - Falei negando.

- Ingrato no que? - Pedrinho perguntou.

- Levei a comida no maior bom coração e ele na maior ignorância! - Falei.

Pedrinho parou comigo e me encarou.

- Ele não curte comemorar natal, ele passa sozinho... - Pedrinho disse. - Irmão dele morreu faz cota, ele passava sempre juntão com o irmão dele, pra ele o fim de ano acabou! - Ele disse.

- Mas não precisava me tratar daquele jeito cara! - Falei.

- Relaxa, tu fez tua parte, ele é difícil mesmo, mas ele é coração grande, quem conhece sabe! - Pedrinho disse e eu dei de ombros.

A educação em primeiro lugar!

Pedrinho me levou até em casa, eu cheguei lá e Samira e Ian estavam comendo lanche enquanto batiam o maior papo, nem ofereceram e nem me olharam, eu guiei pro meu quarto e fiquei ali olhando pro teto.

Será que um dia eu trombo com algum louco?

• aperta na estrelinha •

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