Luisa
Fazia uma semana do aniversário do Caveira e eu não aguentava mais Samira falar da pegada do tal do Pedrinho.
Beija uma vez e se apaixona, tenha paciência.
Eu tava era revoltada de ter que acordar cedo e ter que vir pra escola sozinha. Por que pra ajudar, até o burro do meu irmão tava com todas as notas azuis.
Eu devo ter jogado pedra na cruz, não é possível.
Eu ouvia as professoras falarem, mas não abria a boca, só abri a boca mesmo na hora da merenda, de resto fiquei calada a aula toda. Minha amiga Jana ficou a aula toda igual um papagaio na minha orelha, mas eu tava brava demais pra soltar qualquer palavra pra ela.
- Tá me ouvindo caralho? - Jana me cutucou.
Eu medi ela e revirei os olhos.
- Deixa eu fazer a merda dessa lição logo, eu to estressada! - Reclamei escrevendo uma redação de três folhas sobre o tráfico.
É mole em? A vagabunda da professora vir me dar justo o tema de tráfico, eu preferia o de prostituição, acho mais legal.
Terminei aquela redação e logo em seguida comecei a responder uns questionários que peguei tudo no brainly.
Eu em, tá boa que vou ficar pagando pau pra saber qual a resposta que é...
Fiz tudinho, terminei e já fui colocando minhas coisas dentro da bolsa. Os moleques já estavam tudo na porta gritando com os povos da outra sala. Bateu o sinal todo mundo saiu voado, eu não fiz diferente, deixei a monga da Jana pra trás e fui embora.
Eu tava com uma puta fome do caralho, tinha comido três vezes macarrão na escola, mas mesmo assim meu estômago já me avisava que era hora do almoço.
Sai da escola dando de cara com a minha mãe do outro lado parada segurando uma sobrinha.
Que bom que ela trouxe a sombrinha por que pra ela vir me buscar vai cair tempestade.
- E ai patroa da Rocinha! - Falei me pendurando no pescoço dela.
- Vim te buscar pra ir no mercado comigo, o teu pai falou que vai ir o cara lá em casa jantar! - Minha mãe disse.
Sabia, só veio me buscar pra eu ajudar ela a levar as sacolas embora.
- Que cara? - Perguntei entrelaçando nossos braços.
- O que vai cuidar da dionéia... Eu cheguei a sonhar com ele essa semana, eu já avisei teu pai pra ele ficar de olho... - Minha mãe disse.
Toda vez a mesma coisa, ela não podia sonhar com nada que logo já encanava...
- Não era melhor chamar alguém pra levar de carro não? - Perguntei e minha mãe me encarou revirando os olhos. - Já to com dor na perna só de ter que ir andando até lá... - Falei.
- Ia fazer o que em casa Luísa? Fica o dia inteiro nessa merda de celular, por isso que tem dor na perna! - Minha mãe reclamou.
Eu bufei passando a mão no rosto, e ela começou a falar sobre a janta que faria e queria minha ajuda.
Eu tava pouco querendo fazer janta pra quem eu nem sabia quem era.
Rodamos a rocinha toda quase até chegar no mercado, era o mercado aonde minha mãe sempre ia, ela falava que outro mercado dali não prestava, e sim só ali.
Quando chegamos ela já foi pegando o carrinho e olhando o panfleto com as ofertas.
- O que tu acha de uma lasanha? - Minha mãe perguntou.
- Por mim a gente fazia um ovo e pronto. - Respondi vendo ela negar com a cabeça.
- Já te disse que quando vem visita a gente tem que dar o melhor! - Minha mãe disse. - Mas também depende da visita, tem gente que não merece nem o pão duro que fica no saco! - Ela resmungou indo direto no corredor de massas.
Ficamos o maior tempão pra escolher uma massa. Logo a minha mãe a Libriana da família.
- Imagina o cara não curte lasanha? - Falei rindo.
- Faço enfiar no rabo, to fazendo o maior trabalho, gostando ou não vai comer, eu em! - Minha mãe disse indo pegar as outras coisas.
Ela pegou até o que não precisava, mas a minha mãe é sempre assim, fala que vai pegar um pão e vem com o mercado todo.
- Vamos, eu não aguento mais esse mercado, tudo caro. Olha o tomate, já falei pro teu pai, vamos começar a fazer uma horta lá atrás de casa. Tá um roubo essas verduras, to quase que comendo os matos pra sair mais em conta! - Minha mãe reclamou indo pra fila.
Só sabia reclamar, por isso que sou assim, convivência com ela.
Logo chegou a nossa vez de passar no caixa, ela começou a passar as coisas até que...
- Toda vez eu esqueço de alguma coisa, só não esqueço do cu por que tá pregado. - Ela disse. - Vai pegar coca cola, rápido! - Minha mãe disse afobada.
E lá se vai eu correndo pelo mercado, desesperada pelo refrigerante. Quando cheguei no corredor de bebidas eu tomei um susto, encarei aquele tamanho de homem e engoli seco vendo a menina ao lado dele.
Eu fui pegando o refrigerante e olhando de lado e logo vi a aliança grossa e enorme no dedo.
Tá de brincadeira né?
Os dois de mãos dadas logo se afastaram, ela saiu do corredor e ele logo me encarou negando.
Eu peguei duas cocas e fui passando por ele.
Deu pra ver que ele me encarou sério, quando eu tava no fim do corredor eu olhei pra trás e ele me olhava, eu sai dali rápido e voltei pra minha mãe.
Entreguei a minha mãe, ela pagou e logo saímos dali. Eu fiquei tentando pensar se ele usava alguma aliança naquele dia, e eu tinha a certeza que não.
Impossível começar a namorar em uma semana.
- Tá me ouvindo Luísa? Anda no mundo da lua, até parece Caveira quando tá chapado! - Minha mãe me cutucou me fazendo sair dos pensamentos.
Cara nojento, não quero perto de mim.
• aperta na estrelinha •
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MUNDO M
RomanceEra uma vez não se encaixa com todas as histórias... Aliás, o era uma vez se encaixa apenas em histórias com finais felizes fictícios, mas e o meu que foi real? Será que se encaixa? BASEADO EM FATOS REAIS! SEGUNDA TEMPORADA DE "...