• Capitulo 66 •

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Vigarista

17 de abril de 2018 - Terça-feira 📌

Guiei pra onde o Fumaça chamava, tinha nego demais ali. Pedrinho encostou comigo e eu cheguei mais perto dele.

- Quem tá comigo pelo menos desde 2012, sabe do b.o que deu na última invasão que a gente teve... - Fumaça dizia.

Na época eu soube que deu a maior morte na favela por causa de perreco de anos de um cara com o Fumaça.

- Que cara é esse? - Pedrinho sussurrou perguntando pra mim e eu neguei com a cabeça.

Fumaça olhou pro Pedrinho.

- Carlinhos era um parceiro meu das antigas, matei ele pela minha mulher. Desde que essa favela é minha ele jogava uns papos que queria pra ele... Matei ele faz cota, o filho dele cresceu e tá tomando conta de lá agora, aquela guerra em dois mil e doze era eles querendo a me executar e tomar conta daqui... Mais daqui eu só saio morto por qualquer outro bagulho, menos sendo morto! - Fumaça dizia. - Quero que cada um aqui mate como se tivessem protegendo a família de vocês, por que aqui a gente é família entendeu? - Fumaça disse e todos concordaram.

- Aê, o Nicolau que tava de informante lá na favela, ele vai tá passando as informações ai pra nois! - Caveira disse.

Logo aparece um cara ali. Nunca nem vi ele.

- Satisfação... Fiquei quase um ano lá, ninguém descolou que eu era daqui... - Ele disse. - Mas aê, o bagulho é que eles querem na claridade mesmo, querem afetar Fumaça que qualquer forma, se tiver morador na rua eles vão meter bala, quer destruturar a favela... Sei lá que horas ele botam o pé aqui, mas tem que ser ligeiro, os caras tão planejando faz mais de um ano esse bagulho ai, eles só saem daqui com o Fumaça morto e pegando a favela pra eles! - Nicolau disse.

Fumaça concordou rindo pelo nariz.

-  Ouviram né? Querem o papai Fumaça! - Fumaça disse no deboche. - Acredito em cada um que tá aqui, faz o melhor de vocês, carreguem quanta munição der... Qualquer b.o manda rádio entendeu? Quero tá sendo ligado no que tá rolando nas entradas da favela... - Fumaça disse e todos concordaram.

- Podem ir pros teus postos, tem um parceirão nosso chegando ai com um reforço bacana! - Caveira disse. - Avisem as negadas, a gente vai tá mandando mensagem pra geral pra ninguém entrar e nem sair! - Ele disse.

Negada tudo foi vazando, ficou só eu, Fumaça, Pedrinho e Caveira.

- Aê Vigarista, tá tranquilão? Se não quiser ir não precisa caralho, fica de boa na tua goma! - Fumaça disse. - Tu também Pedro! - Fumaça disse.

Ele sabia do negócio do meu irmão, eu tinha ficado com o maior trauma de troca de bala, mas fazer o que, a vida não pode parar não cara, foi a vida que eu escolhi.

- Jaé Fumaça, tô contigo cara, a gente vai acabar com esses caras que tão vindo! - Respondi e ele concordou.

- Gosto de tu por que tu é igual eu... Não abaixa a cabeça não, por mais que teja com o cu na mão! - Fumaça disse e eu assenti.

Ih, ganhei um ponto com o sogrão...

Fumaça saiu junto com Caveira me dando ali com o Pedrinho.

- Pedro, prometi pra tua coroa que eu voltaria contigo pra São Paulo, quero cumprir essa promessa, melhor tu nem ir! - Falei pro Pedrinho.

- Ih sai dessa Washington, eu vou junto, tá na chuva é prase molhar! - Pedrinho disse. - Além disso que tu prometeu pra minha mãe, e eu fiz promessa pra nossa senhora pra gente voltar juntão pra lá... - Ele disse e eu concordei fazendo o sinal da cruz.

- Tu tem certeza Pedro? Tem problema não caralho! - Falei e ele negou.

- Tô contigo até o fim Washington! - Pedrinho disse me abraçando.

*****

O primeiro disparo foi dado e eu encarei o relógio vendo que já era duas da tarde, eu me abaixei num canto e rezei.

Seja o que Deus quiser...

Levantei caminhando vendo umas negadas saindo do beco, tinha soldado do Fumaça pra tudo quanto era canto, era só tiro que dava pra ouvir. Eu mirei nos caras que vinham dentro dos carros e ia atirando sem dó alguma, o carro bateu direto em uma casa, um cara desceu do carro procurando da onde tinha vindo o tiro e eu acabei acertando bem o pescoço dele.

Corri pelas vielas sentindo aquela adrenalina, até parecia que eu havia cheirado uma carreira de cocaína. Ouvi um disparo do meu lado e logo encarei pra trás vendo um cara recarregando a arma. Eu nem mirei nele, só soltei a bala nele, ele caiu no chão e eu corri pro outro lado ainda atirando em quem não era dali.

*****

Tava tenso ali, já fazia uma hora e meia e nada de parar os tiros, eu já tinha colocado uns dez moradores pra dentro de casa, já tinha feito eu mesmo de escudo pra uma criança que sei lá que merda tava fazendo na rua.

Eu subi na laje de uma casa e quando fui passar pra outra casa, entre o beco tava o Fumaça com uns dois caras, Fumaça xingava enquanto um dos caras acabou apontando a arma na cabeça dele, eu tirei minhas duas pistolas mirei nos dois e disparei vendo Fumaça olhar pra cima me vendo.

Ele suspirou e só balançou a cabeça...

Corri muito atirando até tudo passar, demorou mais uns quinze minutos até os foguetes serem soltos. Eu me abaixei em um beco respirando descontroladamente, meu coração batia forte e rápido, abaixei a cabeça agradecendo e logo senti relarem nas minhas costas, eu olhei e era Fumaça abaixando.

- Valeu aê Vigarista! Eu não curto abraçar ninguém não, mas tu eu preciso abraçar! - Fumaça disse me puxando pra um abraço ali naquele beco.

Deu certo!

aperta na estrelinha •

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