• Capitulo 14 •

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Luísa

1 mês depois...

Véspera de natal, favela tava um fervo só. Moto subindo e descendo, música alta nas casas, fumaça de churrasco no quintal, e pra ajudar uns bestas que solta fogos.

- Pegou o peru? - Minha mãe perguntou me tirando dos pensamentos.

- Peguei, mas não foi o qual eu queria... - Falei rindo e ela me olhou feio.

Ela pegou o peru e começou a fazer as coisas.

- Quem vai vir pra cá? - Perguntei.

- A gente vai pra casa do Caveira. Só espero que não de merda igual ano passado, não sei o que Caveira tem na cabeça de querer plantar bananeira em cima do telhado. - Minha mãe disse e eu me recordei do natal anterior.

Caveira contava da sua época de moleque que fazia capoeira, ele inventou de subir o telhado, pensa... Ele despencou lá de cima, quebrou um dos braços e a perna direita, teve que ficar de cadeira de rodas.

- Não adianta, ele sempre apronta... Agora mesmo eu vi ele andando de cadeira de rodas... - Falei negando.

- Esqueleto não tem jeito mesmo, não morre mais afogado com a cerveja, nem com um tiro na coluna e muito menos caindo do telhado! - Minha mãe disse. - Vai me ajudar ou vai ficar me enrolando com esses papos? Chama a Samira também, aliás, não chama não, ela tá esquisita demais, não gosto de gente que faz as coisas com má vontade! - Minha mãe disse emendando um assunto no outro.

- Por causa daquele assunto do pai? - Perguntei.

- Acho que é, ela não quis nem falar nada, eu nem fiquei insistindo também. Ela anda se envolvendo com alguém daqui né? - Minha mãe perguntei e eu só olhei de canto pra ela. - Me esconda não! - Ela disse alto.

- Tá dando uns beijinhos só no Pedrinho! - Falei.

- Que Pedrinho? De Pedrinho só conheço  matador lá de são paulo! - Minha mãe dizia séria.

- O braço direito do Vigarista! - Respondi e minha mãe levantou a sobrancelha.

Ela não disse mais nada, ficamos ali batendo papo de outras coisas como:

Qual roupa a gente usaria.

Minha mãe me deixou na cozinha sozinha e foi tomar banho e se arrumar. Vi Vinicius entrar na cozinha e vir pro meu lado. Dava pra sentir de longe o cheiro de maconha dele.

- Da pra dar uma força aê? - Vinicius perguntou e eu medi ele.

- Depende, em troca eu ganho o que? - Perguntei de braços cruzados.

Eu e Vinicius éramos assim, qualquer coisa que a gente tinha que fazer favor um pro outro, a gente queria algo em troca.

- Ganha eu como irmão! - Ele disse e eu revirei os olhos. - Um podrão do Amadeu pode ser? - Ele disse e eu concordei assentindo.

Não perco um podrão por nada.

- Quié em? - Perguntei temperando a salada.

- Da cobertura pra mim ir na casa de uma mina ai, vou levar o Fabricio junto, volto amanhã só! - Vinicius disse.

- Vai. - Respondi.

Ele saiu da cozinha no pinote. Terminei de temperar e corri até o quarto trombando com Samira se vestindo.

- Essa saia é minha, eu disse que eu ia ir com ela! - Falei vendo a minha saia na Samira.

Ela fingiu nem me ouvir. Eu fui direto no guarda roupa dela, abri e comecei a procurar roupas...

Nada que preste.

- Viu, cê vai se arrumar logo ou vai demorar mais o que? Ian tá vindo pra rocinha já! - Samira disse.

- Não sei o que tu tá falando, cê sabe que ele demora mais que a gente pra se arrumar, nem inventa! - Falei saindo do quarto e indo pro dos meus pais.

Vasculhei o guarda roupa da minha mãe e logo achei um shorts vermelho, eu peguei ele e vazei pro banheiro.

*****

Samira batia na porta do banheiro.

Batia não, esmurrava mesmo.

- Abre logo quenga, eu quero mijar! - Ela berrava batendo na porta.

Eu desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha saindo do banheiro. Ela entrou com tudo, eu fui direto pro meu quarto, me arrumei toda, quando eu tava passando meu perfumes, ouvi a campainha tocar.

- Alguém atende a porta! - Minha mãe berrou do quarto dela.

Eu bufei indo até a sala e abrindo a porta dando de cara com Ian.

- Achei que eu ia ter que ficar aqui plantado! - Ian reclamou me abraçando.

- Eu deixaria, mas minha mãe me ia chamar de sem educação! - Falei entrando e indo pro meu quarto.

Ele veio atrás de mim, deixou as malas todas em um canto e fechou a porta tirando a roupa.

- Vou passar natal de vermelho também, vai que eu acho uma paixão ano que vem... - Ian disse colocando uma bermuda jeans e uma regata vermelha.

- Ué, e aquele cara que você tava namorando? - Perguntei começando a me maquiar.

- Filho de uma puta ele, me traiu com um boy feio que chegava até dar dó! - Ian disse negando. - Não me faz falta não Lu, só sinto falta da rola, do resto pra mim eu nem lembro! - Ele disse gargalhando e eu ri pelo nariz.

Ian era bi, só que ninguém sabia, só quem sabia era eu e Samira. E ainda que descobrimos sem querer... Ele veio passar as férias há uns três anos atrás aqui, inventamos de brincar de polícia e ladrão, já fazia umas duas rodadas que ele não aparecia, eu e Samira achamos até que ele havia ido embora... Mas não, quando eu estava correndo atrás de Samira pra pegar ela, entramos em um beco e demos de cara com ele na maior pegação com um carinha do movimento. Quando Ian viu a gente, ele chorou na nossa frente fazendo a gente jurar que não íamos contar pra ninguém, e assim foi, não contamos nada...

- Que cretino Ian, tu meteu a porrada nele? Diz que sim vai! - Falei.

- Meti, quebrei a cadeira nele, e pra mim foi pouco ainda! - Ian dizia. - Tomara que o pinto caia, desgraçado, e ainda teve a cara de pau de me falar que foi o calor do momento. Calor da casa do caralho só se for! - Ian falava alto bravo.

Ouvimos a porta bater e ele foi atender.

- Tinha que ser, sabia, não sabe falar baixo! - Minha mãe disse abraçando ele forte.

- Igual a você, eu falo berrando e nem percebo! - Ian disse abraçado com a minha mãe.

Minha mãe saiu com ele do quarto e eu terminei de me maquiar, calcei meu chinelo e fui indo pra cozinha vendo minha mãe falar com Ian sobre Nicole.

• aperta na estrelinha •

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