Esperando cair papel

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Zico: 👽

Depois de tudo eu fiquei me culpando toda hora pela morte da minha filha, no outro dia eu pude conversar com a Nora, mas ela não me respondeu direito, eu também não tinha muita coisa pra falar, eu tava com um espaço no peito que nada na vida ia tapar.

Os dias foram se passando e eu tava resolvendo reagir, tava tentando cuidar da minha mulher, mesmo que eu só tivesse algumas semanas pra isso, eu realmente ia embora, eu ia conquistar o mundo, eu ia ser um empresário, quero sofrer sendo preso igual meu pai não, eu sei que nasci pra cuidar do morro, mas lembro como se fosse hoje minha mãe e minha irmã chorando com saudades do meu pai e eu sem entender, depois de um tempo descobrimos que ele foi preso, claro que não só teve uma prisão, tiveram outras, mas meu pai sempre saia em pouco tempo, minha tia Rúbia era uma ótima advogada, então sempre que precisávamos ela tirava ele da cadeia.

Um dia antes da despedida:

- Se não quer ir, não vai, tu não precisa ir, sabe disso-fala o Yure que me palmiava olhar pra janela da cozinha, estávamos na casa da minha mãe.

- Eu sei... mas se tu soubesse o quanto é bom eu poder dar tudo que a Nora quer, poder satisfazer todos os desejos, vontades e sonhos dela, agora não temos mais filho, antes eu queria sim ir embora pra dar o melhor pra Nora e pra Maysa, agora só me resta a Nora, mesmo que minha filha não tenha nascido, eu quero ter uma condição melhor e ter filhos.

- Vou fala de novo e com calma, Zico... irmão, tu não precisa ir, nunca precisou ir, a tua mulher precisa de você, tua família precisa de você, o morro precisa de você.

- Você vai ficar no meu lugar, não quero colocar ninguém de frente que não seja da família, e também tu é uma das pessoas que mais confio, em tu e no Luan, então quero os dois cuidando das coisas pra mim.

- E o lucro?.

- Reparte entre você, o Luan e a Nora.

- E tu?.

- Eu tenho uma grana guardada, vou usar pro que eu precisar, investir, mas vou precisar de muito não.

- E o Zanute?.

- De olho, tem umas paradas que eu ando achando meio errada nele, me conta tudo que acontecer em relação a tudo, a ele, ao morro, aos moradores, aos b.os, a tudo, não esquece nada.

- Falô...

- Valeu, irmão, te amo.

- Te amo mais mano.

No dia seguinte da despedida tudo parecia tranquilo, eu e a Nora tava bem, mas do nada ela aparece jogando uma parada em mim, falando um monte e depois mete o pé, eu pego o que ela tacou e era um relógio, tinha as nossas iniciais gravada e eu suspiro.

- Ainda tem tempo de desistir-diz o Luan e eu só fico quieto.

- Você é um idiota, eu achei que tinha mudado Zico, achei que em fim iria me dá orgulho!-diz minha mãe mais uma vez decepcionada.

- Perdão-é só o que falo.

- Não vai mudar de ideia ou dizer que é mentira?.

- Não... não vou.

Ela bate no meu rosto e cospe no chão, pra mim isso foi o mínimo que ela podia fazer, na verdade, ela não fez por ela, pois eu já fiz muita coisa ruim que ela não gostou e podia ter me batido de verdade, esse tapa foi pela Nora, eu sabia que mesmo ela perdendo nossa filha, ela ainda estava de resguardo e falam que a mulher não pode ter tantas emoções, mas se já aconteceu a cagada, preciso de mais nada.