11 - Carta de dia das mães (Foto: Bruce)

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POV Mirelly Miller



Vi a cara de insatisfação da garota quando comecei a falar, mas não dei muita importância, apenas continuei até terminar e então fiquei a encarando. A observei fazer aquela cara de pensativa e me segurei para não rir, era fofo quando ela ficava distraída daquela forma, o biquinho que ela fazia ao pensar, nem parecia a delinquente que todos tinham medo. Ao ouvir sua resposta, dei um pequeno sorriso satisfeito e assinto ao ouvir sua pergunta, antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, a garota se levantou com pressa e então saiu da sala, neguei com a cabeça e me levantei guardando minhas coisas. Ouvi a voz de Hannah na porta e ergui uma sobrancelha um tanto surpresa com sua pergunta, a olhei e pensei por alguns segundos, mas decidi negar, sei que ela deveria estar fazendo isso por peso na consciência ou algo do tipo, então decidi não incomodá-la.



── Ah não, não precisa. Eu tenho que falar com a Sra. White antes de sair, mas obrigada pela gentileza.



Tentei soar o mais gentil possível ao negar o convite, ela assentiu com a cabeça e tratou de sair dali novamente. Voltei minha atenção para minhas coisas e quando terminei de guardá-las, saí da sala, passei pela sala da diretora e vi que a porta estava aberta.



── Com licença, Sra. White?



Sra. White: -Sim querida, pode entrar!



── Ah não... Eu só vim informar que houve um imprevisto e tive que liberá-la mais cedo, ta bom? Mas ela foi ótima, amanhã entrego o relatório, tudo bem?



Sra. White: -Perfeito, tudo bem, então até amanhã, bom descanso!



── Obrigada, tenha um bom dia!



Aceno pra ela e saio da escola. Vou caminhando para casa, não era muito longe assim, no máximo são trinta minutos andando, assim daria tempo de espairecer e pensar na vida o caminho todo. Ao chegar em casa, fui para a cozinha e abri a geladeira, peguei uma garrafinha de água e bebi mais da metade em poucos goles, me sentei sobre o balcão e olho em volta, dando um pequeno suspiro. Eu passava a maior parte do tempo sozinha, meu pai era policial e só chegava a noite, comia, ia tomar banho e ia dormir, essa era a rotina dele e não o julgo, acho até bom, pois se não fosse o trabalho, a depressão tinha o consumido e hoje em dia ele poderia não estar mais aqui.



O motivo da depressão do meu pai? A mulher que um dia chamei de mãe, a mulher que eu já tive como exemplo e que amei mais que tudo, infelizmente não posso dizer isso agora. Minha mãe engravidou cedo, mas como meu pai sempre foi responsável, eles se casaram e meu pai deu a melhor vida que ele pôde, saiu do batalhão de soltados e entrou na academia de polícia só para não precisar viajar para expedições e ter mais tempo com a família. Minha mãe era modelo, tinha uma grande carreira pela frente, isso se não tivesse engravidado de mim, pois quando nasci, o mundo dela acabou, não tinha tempo para nada, e meu pai sempre segurava as rédeas. Minha mãe ficou com depressão pós parto e não teve coragem de me pegar nos braços até meu primeiro ano de idade. Então quando comecei a falar, ela começou a tentar agir como uma mãe de verdade, mas foi tudo por água a baixo, ela bebia demais e até começou a se envolver com drogas, tudo isso porque perdeu sua carreira e seus falsos amigos. Aos meus cinco anos de idade, ela começou a colocar a culpa em mim, tudo o que acontecia era minha culpa, ela usava droga na minha frente e falava que preferia morrer a ser mãe de algo como eu, mas como eu era uma criança inocente, eu ria e a abraçava. Aos sete anos aquilo começou a me machucar, e foi com essa idade que minha primeira crise de ansiedade começou, e mais uma vez, a culpa de tudo era minha, ela me culpava por meu pai dar mais atenção a mim do que a ela, me culpava por conta das marcas no corpo que havia tido por conta da gravidez, me culpava por não conseguir mais nenhum trabalho.



Até que no dia das mães, fiz uma linda carta, toda enfeitada e a entreguei, ela rasgou na minha frente e me disse que preferia receber uma arma do que receber um presente meu, aquilo me magoou de uma forma inexplicável, e a partir dali começou a falar que eu seria pior que ela, fracassada, drogada e até prostituta, isso tudo era dito para uma criança de sete anos. Desde então, comecei a ter notas altas na escola, sempre tentava fazer meu melhor em tudo, aos dez anos apanhei por ter conseguido uma medalha de melhor aluna da classe, cheguei em casa toda contente mostrando pra ela e ela me bateu falando que era pra eu aprender a nunca mais ser convencida por algo que não valia nada, na mesma noite, quando meu pai chegou e me viu cheia de marcas roxas no corpo, eles brigaram, gritaram até o amanhecer, e no dia seguinte ela foi embora, antes que eu pai acordasse. Desci para a cozinha nesse mesmo dia encontrei uma carta feita por ela "Eu tentei, tentei com todas as forças, mas eu não consegui, eu não consigo amar alguém que tirou tudo de mim, essa garota acabou com a minha vida, e já que prefere isso do que a mim, espero que sejam fracassados juntos". Eu chorei tanto, chorei por dias, mas depois, prometi para mim mesma que tudo que eu tentasse fazer, eu seria a melhor, e foi assim que me tornei a pessoa que sou hoje, a garota mais inteligente da escola, a antisocial mas gentil com todos. Eu sei muito bem como é ser humilhada e magoada por alguém, por isso tento tratar todos bem, afinal, o que não quero pra mim, eu não faço para os outros.



Passei uma hora ali sentada, relembrando de tudo o que já me ocorreu, quando dei por mim, eu já estava chorando, mas tratei de secar minhas lágrimas e arrumar algo para fazer, então comecei a fazer o almoço.



(...)



O dia se passou e como de costume, fiquei o dia inteiro estudando, quando vi que já estava quase na hora do meu pai chegar, fiz o jantar e ele chegou quando estava arrumando a mesa, ele me abraçou e então jantamos e conversamos sobre nosso dia, eu mais ouvi do que falei, eu adorava vê-lo falar empolgado sobre seu trabalho. Quando o jantar se passou, meu pai se ofereceu para arrumar a cozinha, me despedi dele e subi para meu quarto, me deitei em minha cama e em poucos minutos adormeci.



[Dia seguinte]



Acordo com meu despertador e me sento na cama, passo a mão em meu rosto e me levantei e fui direto para o banheiro, fiz minhas higienes, tirei minhas roupas e entrei no box, iniciando meu banho.



Após terminar, sai do banheiro com a toalha enrolada em volta do meu corpo e fui para o closet, analisei algumas roupas e depois de quase dez minutos consegui decidir e me vesti. Quando termino, desço para a sala e sorrio vendo meu pai ja sentado tomando café.



── Bom dia!



Bruce: -Bom dia, princesa, dormiu bem?



── Muito bem e você?



Bruce: -Sim, pronto pra mais um dia de luta!



Rio fraco e pego uma torrada e encho meu copo com suco e começo a tomar meu café da manhã. Ao terminar, ajudei meu pai com a bagunça e logo saímos de casa. Chegamos na escola e me despedi dele com um abraço e um beijo na bochecha e sai do carro. Ao entrar, vi Hannah de longe e pensei em ir falar com ela, mas mudei de idéia assim que vi sua cara de mau humor, entrei direto indo para meu armário e peguei as coisas que precisaria para as próximas aulas.



(...)



As aulas se passaram e me despedi de alguns colegas e de Tina, fui direto para a sala dos monitores e vi que Hannah ainda não havia chegado, me sentei na mesma mesa que ontem e arrumei minhas coisas sobre o móvel, peguei meu celular verificando algumas mensagens do grupo da escola e depois de alguns minutos, Hannah chega, a encaro por alguns segundos e ela não me parecia muito bem, ela se aproxima e se senta na cadeira a minha frente, toda desleixada e me entrega alguns papéis, deduzo que seja o resumo que pedi. Pego os papéis e dou um pequeno sorriso.



── Muito obrigada, eu vou ler aqui, enquanto isso pode ir descansando um pouco, sei que as aulas são bem exaustivas...



Falo me ajeitando em minha cadeira e começo a ler o resumo que mais parecia um livro por conter muitas páginas.


Don't call me angel - Harelly Pt. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora