190 - Quem se chama Pierre?

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POV Hannah Alter


  Escuto um barulho alto de música quando acordo e já estava prestes a fazer um escândalo quando sinto o rosto de Mirelly em meu pescoço, o que  serviu como uma injeção de calmante nas minhas veias instantaneamente. Eu a abraço ainda mais forte antes de criar coragem para abrir os olhos e Eva sobe na cama, falando alto demais. Solto minha namorada e viro para o lado quando Eva puxa nossa coberta.

— Eu só não brigo com você porque eu acordei com o humor ótimo... — Falo para minha irmã esticando os braços e as pernas, me espreguiçando, depois que Mirelly se senta.

Me levanto e encaro a menina mais linda do mundo, com a cara ainda amassada, e lhe dou um selinho antes de irmos ao banheiro. Quando saímos, Eva nos apressa e descemos ainda de pijama. Segurando sua mão, entramos na cozinha e ando atrás dela como quem tenta se esconder. Não conseguia me lembrar da última vez que tomei café da manhã em casa, eu sempre preferi ficar sem comer a ter que lidar com minha mãe logo pela manhã, e ainda eram 8h.

  Dormi maravilhosamente bem... — Respondo para mim mesma lembrando da noite anterior enquanto as duas conversavam.

Percebo o semblante cansado da minha mãe quando nos sentamos e, por anos de experiência, sabia que só ficava assim por um único motivo: meu pai.


  Será que ela contou pra ele sobre meu namoro e eles brigaram?

Era uma possibilidade, mas não fazia nenhuma diferença para mim. Os dois brigando por minha causa já era rotina e minha mãe ser infeliz pelo marido de merda que tem também.


  Bem, não tem ninguém colocando uma arma na cabeça dela... — Dou de ombros enquanto começo a me servir.


*Eva*: Mãe, o que a senhora vai fazer hoje?

*Helena*: Hum, acho que nada, minha filha. Por quê?

*Eva*: A gente podia ir no shopping, né?

Ela olha para mim e para Mirelly e eu a olho por cima da xícara do café que estava bebendo, parando um segundo antes de colocá-la sobre a mesa.

— Shopping? Fazer o quê?

*Eva*: Como assim fazer o quê?

Ela me encara como se minha pergunta tivesse sido absurda e eu a olho confusa.

— Fazer o que ué?

*Eva*: Sair, né! Ora... Precisa de motivo pra ir no shopping?

— Não?

*Eva*: Não, Hannah! Nem todo mundo gosta de ficar trancado em casa. As pessoas vão no shopping pra passear, fazer compras, não é, Mi?

Olho pra Mirelly, que concordava com ela, rindo, mas não era como se ela tivesse a opção de se opor à opinião de Eva.

— Quer ir? — Pergunto a ela, que confirma e dou de ombros, desistindo — Então vamos ao shopping. Fazer nada...

*Eva*: Vai com a gente, mãe?

Nesse momento, minha mãe e eu nos encaramos. Era como se ela buscasse nos meus olhos a permissão para ir e eu, involuntária e discretamente, assinto com a cabeça. Ela, então, sorri e se volta para Eva.

*Helena*: Claro. Eu vou adorar o dia das meninas.

*Eva*: Eba!

*Helena*: Quem sabe assim vocês não me deixem comprar umas roupas pra vocês melhores que as que usam agora.

*Eva*: Ei!

— Sem chance! — Eu rio por um instante sem perceber.

Sim, eu estava rindo das piadas da minha mãe, como se fôssemos uma família normal.

*Helena*: Nem um vestidinho?

Ela fala especificamente para mim.

— Nunca mais. — Nego com veemência.

Mas minha mãe conseguiu atiçar a única pessoa que não poderia enfiar essa ideia na cabeça: Mirelly, que imediatamente implora pra que ela me compre um vestido.

— Você como minha namorada deveria ficar do meu lado, sabia?

Eu sabia onde isso ia terminar. Comigo de vestido, sendo envergonhada pelas mulheres da minha vida. A quadrilha.



⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ (...)


Depois que terminamos o café, Eva, Mirelly e eu subimos de volta ao quarto para nos vestirmos, já que minha irmã insistiu que fôssemos ao shopping imediatamente, como se a vida dela dependesse daquilo.

*Eva*: Quer uma roupa emprestada, cunha?

Mirelly nega, afirmando ter trazido uma própria, partindo o coração de Eva.

— Nem todo mundo quer usar suas roupas sempre, Eva.

*Eva*: Pelo menos ela não sumiu com meu cinto!

Ergo as duas sobrancelhas e olho para Mirelly, rindo por saber que pensou no mesmo que eu.

— Então talvez você deva saber que a culpa do seu cinto não ter voltado pra você é toda dela.

*Eva*: O quê?

Com uma Mirelly constrangida e inventando desculpas, vou rindo até o banheiro para tomar um banho rápido e, quando acabo, saio enrolada na toalha, tendo meu lugar substituído por ela, que passa por mim com uma cara emburrada bem falsa.

— Se fizer cara feia, eu me apaixono ainda mais... — Roubo um beijo de sua bochecha e ela acaba rindo antes de se  trancar no banheiro.

Me visto enquanto Eva analisa suas roupas como se fosse uma psicóloga procurando defeitos em seus pacientes, a mão segurando o próprio queixo, concentrada, negando com a cabeça sem nem tocar nenhuma peça. Eu coloco uma blusa curta, branca, e um casaco xadrez preto e branco por cima, com uma legging preta e tênis.

Eva finalmente escolhe uma roupa e eu termino de pentear o cabelo quando Mirelly sai do banheiro, já vestida, e com um rabo de cavalo. Eu amava como se vestia como uma menininha em um dia e como um mulherão no outro, era linda de todas as formas.

*Eva*: Minha cunhada é muito gata mesmo, né? Você podia ser modelo.

Eu estava admirando Mirelly, mas precisei intervir.

— Modelo nada! Essa daí desfila só pra mim. — Mordo o lábio e estico a mão para ela, que a pega, e eu dou um giro em seu corpo, sem conseguir evitar de olhar para sua bunda, antes de segurar em sua cintura e a trazer para bem perto, dando um selinho em sua boca— Tá linda!

Ela se senta na minha cama e pega a própria maquiagem em sua mochila junto com um espelho pequeno e começa a se maquiar enquanto me deito ao seu lado, apenas admirando sua beleza e o jeito como movia as mãos, tinha uma graciosidade que me encantava, poderia assisti-la fazer qualquer coisa por horas.



⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ (...)


As duas enfim terminam as maquiagens e Mirelly me desperta do meu inevitável cochilo com um beijo no rosto após quase 1h esperando que terminassem, eu não aguentava assistir por horas, afinal.

Levanto da cama e seguro a mão de Mirelly para descermos enquanto Eva beijava um por um em seu novo poster na parede.

*Eva*: Não demoro, meus amores!

— Fala sério! — Reviro os olhos — Olha o que você arruma, Mirelly...

Descemos as escadas, juntas, e encontramos minha mãe na sala, já pronta, nos aguardando.

*Helena*: Estão todas lindíssimas.

As duas agradecem e eu apenas ignoro.

*Helena* Filha, você leva a gente?

— Tá... — Demoro um pouco para perceber que estava falando comigo.


Pego as chaves do carro e encontro com elas na garagem, onde Eva dizia querer ir na frente.

*Helena*: Você vai atrás com a mamãe, querida.

*Eva*: Poxa, quando eu vou ter um carro pra nunca mais ir no banco de trás?

— O que foi? Não gosta da sua motorista? — Falo abrindo a porta e me sento na frente, com Mirelly no banco ao meu lado e as outras duas atrás.

*Eva*: Gosto né, sou obrigada.

— Me pede pra levar você e suas amiguinhas pro cinema de novo pra você ver.

*Eva*: Desculpa, irmãzinha querida! Mas eu que vou escolher a música.

Eu já sabia que com Eva no carro eu não tinha direito nenhum sobre meu próprio radio. Ela coloca One Direction para tocar — chocando ninguém — e abro o portão, dando partida no carro.


⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ (...)

No shopping, ando de mãos dadas com Mirelly enquanto as 3 conversavam sobre roupas, sapatos e bolsas, me fazendo revirar os olhos e suspirar diversas vezes com essa tortura.

*Helena*: Podemos almoçar aqui depois, são minhas convidadas.

*Eva*: Eba, quero ir no MC Donald's.

*Helena*: Acho melhor um restaurante, né filha?

— Isso tudo é sua culpa. — Falo baixo apenas para Mirelly ouvir enquanto as duas andam na nossa frente — Preferia passar o dia com você na cama.

Eva vem até mim, se pendurando em meu braço livre e me arrasta para dentro de uma loja.

*Eva*: Vem comigo, me ajuda a escolher uma roupa.

— Eu?

*Eva*: É, você!

Olho para Mirelly quase pedindo socorro e ela ficou do lado de fora sozinha com minha mãe.

— Por que precisa de ajuda pra escolher uma roupa? Não é só ter um Mickey ou sei lá?

*Eva*: Não, né. Eu quero uma vibe mais adulta.

— Pra quê?

*Eva*: Bem, porque eu tô gostando de um menino do ensino médio e eu quero parecer mais interessante...

— Eva, garotos mais velhos? — Ela sabe bem o que eu pensava sobre isso.

*Eva*: Eu sei que você não gosta, mas ele ainda tá só no primeiro ano e tem 15 anos, então nem é tão mais velho assim.

— Hum. — Eu a olhava desconfiada, mas não queria ficar contra ela — Mas você não deveria querer parecer ser algo que não é, ele tem que gostar de você do seu jeito...

*Eva*: Aff, Hannah, não vem com esse sermão, é só uma roupa.

— Deveria ter chamado a Mirelly, ela se importaria mais com isso, roupas...

*Eva*: Realmente, concordo. Mas eu queria aproveitar pra te contar.

— Tudo bem, quem é ele?

*Eva*: O nome dele é Pierre e ele é do clube de teatro...

— Pierre? Quem se chama Pierre?

*Eva*: É com isso que você se importa?

— Bem, não...

*Eva*: Enfim! A gente se conheceu no aniversário da Ana e ele é um garoto legal, é inteligente, gosta de música...

— Você pode tentar me convencer a gostar dele jurando que ele não é um babaca, mas eu só acredito vendo.

Ela continua a me contar sobre o tal garoto enquanto olhava as roupas e eu pensava apenas nas várias formas de botar medo nele.

*Eva*: Olha isso!

— O quê? — Ela me tira dos pensamentos macabros e aponta um conjuntinho do que parecia ser um pijama, que consistia em um short curtíssimo e um top, ambos pretos e, não sei dizer o motivo, mas imagino Mirelly vestindo aquilo — Nossa, é bonito. Achar que a Mi ia gostar?

*Eva*: Você quer dar pra ela? Tem certeza? É roupa de vagabunda, ela é mais sofisticada.

Eu a olho e dou uma risada.

— Acho que ela não liga de ser vagabunda pra mim...

*Eva*: Meu Deus!

O queixo dela vai ao chão.

*Eva*: Sério? Sabia! Ninguém consegue ser tão santa assim o tempo todo.

— As aparências enganam, não é?

*Eva*: Mirelly, quem diria...

Eu pego o conjunto e levo até o caixa para pagar e a atendente o coloca em uma bolsinha para presente.

Don't call me angel - Harelly Pt. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora