30 - Bela forma de não me constranger

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POV Hannah Alter



Acordei meio desnorteada, sem saber que horas eram. Provavelmente tinha dormido o dia inteiro e, pela escuridão do lado de fora da janela, já era noite.



Olho ao redor do quarto e vejo Eva, já dormindo, em sua cama. Pego meu celular para checar as horas, mas estava descarregado. Coloco o mesmo para carregar e vou tomar um banho antes de ir para a cozinha comer alguma coisa.



O relógio da cozinha indicava ser 3h da manhã. Precisaria regular esse sono, eventualmente. Me sirvo com um sanduíche e um copo de suco e sento sozinha à mesa. Com o silêncio total na casa, os únicos barulhos que ouvia eram os das minhas próprias mordidas.



Após comer, volto para o quarto já sabendo que não dormiria de novo. Estava descansada o suficiente e não demoraria muito até a hora de ir para a escola. Deito na cama, sem fazer barulho para não acordar minha irmã e ligo meu celular. Antes de desbloquear vejo a notificação que, por acordar meio perdida, esqueci que estava aguardando. Ao abrir a mensagem da loira, dou um sorriso instantaneamente.



Tive certo receio de responder a mensagem, para não acordá-la no meio da noite, mesmo imaginando que, uma menina como ela, tão certinha, desligaria o celular para dormir ou, no mínimo, colocaria no silencioso. Opto por não responder. Poderia dizê-la pessoalmente, afinal. Mas ao ver o nome que ela usou para salvar meu contato, decido mudar o dela de "Miller" para "Supernanny".



Fico rindo sozinha por alguns minutos no meio da madrugada antes de repousar meus olhos por longos minutos a mais em sua foto de perfil.



Céus, ela era realmente linda. Talvez eu não tivesse chance alguma com ela... A mesma disse que não estava com cabeça para se relacionar com ninguém no momento, imagine com a garota-problema da escola. Pensar nisso me deixa um pouco insatisfeita.



Eu também não era muito de namorar. Principalmente por ninguém saber da minha sexualidade. Tive uns rolos fora da escola uns anos atrás e com algumas garotas do reformatório também, mas nada que tivesse sido realmente significativo. Geralmente, eu achava alguém apenas para saciar um momento de carência e me afastava logo em seguida.




(...)




Quando amanheceu, eu já estava tão entediada que decidi me arrumar logo e ir para escola. Seria a primeira a chegar, mas talvez a diretora levasse isso em consideração e, quem sabe, pegaria menos no meu pé.



Como tinha tempo de sobra e mais disposição - e interesse - decidi me produzir um pouco mais. Prendo o cabelo de uma forma mais arrumada e passo um pouco de maquiagem. Não demorou muito até eu estar no andar de baixo pegando as chaves e saindo.



Quando cheguei na escola, era pouco mais de 6h. Tive que ficar um tempo sentada sozinha aguardando que o zelador abrisse as portas. Entrei na esperança de cruzar com a Sra White, mas isso não aconteceu. Fui até a minha sala e fiquei sentada na minha cadeira aguardando a hora da aula enquanto olhava mais uma vez a mensagem e a foto de Mirelly. Olhei, por reflexo, para a minha mão, onde ela havia escrito, mas a tinta havia saído após o banho. Mas a lembrança foi o suficiente para me fazer sorrir mais uma vez. Estava ansiosa para vê-la? Acho que sim.



Pareceu uma eternidade até o sinal finalmente tocar e os alunos começarem a entrar na sala. Eu olhava um por um na esperança de ver a loira passando pela porta e todos me devolviam o olhar com certa curiosidade. Alguns cochichavam com a pessoa do lado, olhando para mim descaradamente e eu já estava pronta para arrumar briga quando eu a vi entrar. Na mesma hora, meu peito estufado pela raiva dos fofoqueiros murchou e meus ombros relaxaram. Ela veio na minha direção e sentou na cadeira a minha frente, que ainda estava vazia.



Eu estava pronta para fazer alguma piada, principalmente pela sua mensagem do dia anterior, mas não tive tempo. A diretora entrou logo em seguida para falar com a turma e ela se vira para voltar ao seu lugar.



Não... - Respondo mentalmente revirando os olhos quando a diretora pergunta se estavam todos ali.



Ela começa a falar sobre um acampamento e, na mesma hora, fiz careta. Quem iria querer acampar com a escola? Quem iria querer acampar??? Deve ser a coisa mais chata e monótona que existe. Se eu pudesse, me esconderia embaixo da mesa, mas ela olhou para mim quase que no mesmo momento e chamou meu nome. E a Miller.



Droga, o que será que eu fiz agora?



Olhei para Mirelly enquanto levantava, sem entender nada, e apenas acompanho as duas, sob o olhar ainda mais curioso dos meus colegas de classe.



Do lado de fora, ela começa a se explicar.



Bela forma de não me constranger... Por que não esperar o final da aula, não é?



Pra variar, eu seria obrigada a ir. Estava achando uma péssima ideia até ela dizer que eu deveria ir acompanhada pela Mirelly. Infinitas possibilidades passaram pela minha cabeça em apenas 1 segundo. Não me resta dizer nada além de confirmar minha presença e voltar para o meu lugar quando ela se retira.



Pego meu celular enquanto os alunos ainda estavam conversando e o professor não havia iniciado a aula e mando uma mensagem para a Mirelly.




"Supernanny.



Vai ter que fazer hora extra como minha babá"



Dou uma risada ao ver o momento em que ela recebe a mensagem e pega o celular. Envio outra em seguida.




"Supernanny.



A propósito, acho que serei obrigada comportar mal ou "fazer alguma bobagem" só pra você me castigar..."




Não sei se estava sendo muito atirada, mas consigo ver um sorriso em seu rosto quando mexeu a cabeça após ler a mensagem então não deve ter sido tão ruim assim.


Don't call me angel - Harelly Pt. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora