119 - Não tô brava

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POV Hannah Alter


Saio do estacionamento em direção a um supermercado que o GPS indicou  enquanto tento parecer indiferente às duas implicando uma com a outra, mas era engraçado e curioso ver Mirelly interagindo com outra pessoa. Até então, nunca tinha presenciado isso. Eu esperava que Tina fosse mais como ela, nerd, certinha, mas estava mais para... Eva!

Mirelly se inclina para mexer no rádio e eu já esperava ouvir alguma outra música que me deixaria desgostosa, mas ela coloca uma das minhas preferidas. Olho para ela satisfeita e coloco uma mão em sua coxa enquanto dirigia apenas com a outra. Apesar de cantar discretamente as melhores partes da música, permaneço quieta boa parte do caminho enquanto elas conversavam e riam. Para minha própria surpresa, ficar um pouco de fora não estava me incomodando, encaro isso como um bom sinal sobre Tina.

Tiro a mão de sua perna algumas vezes apenas quando precisava das duas mãos para segurar o volante ou para dar seta, mas tornava a pousar a mão sobre ela rapidamente, acariciando sem segundas intenções.

Quando chegamos ao destino, entramos no mercado e peguei uma cesta para começar a procurar o que levaria. Não tinha ideia do que meninas de 13 anos comeriam numa "festa do pijama", deveria ter prestado mais atenção no que Eva pediu. Provavelmente precisaria de um carrinho para isso, pego um e paramos no corredor esperando Tina pegar uma escova de dente, algo que demorou mais do que o normal.

O que ela está procurando, uma escova ou um vibrador perfeito? — Penso calada antes de olhar para Mirelly, que a apressava.

Quando finalmente escolheu uma, começamos a andar pelo mercado atrás de coisas que todas fôssemos comer. Lembro de alguns itens que Eva pediu e levo alguns outros a mais que eram do meu gosto e pego algumas barrinhas de cereal que Mirelly gosta, só por garantia. Quando passamos no setor de chocolates, olho para ela, que estava distraída, e lembro da nossa conversa de algumas horas atrás, o que me fez dar um sorrisinho safado que tratei de disfarçar.

Depois de quase 1h lá dentro, nos direcionamos ao caixa para passar as compras e eu estava começando a guardar as coisas nas sacolas quando Tina pega a carteira se oferecendo para pagar.

— Não precisa, pode deixar que eu pago. — Dou o sorriso mais simpático que eu era capaz de dar numa situação dessa.

Mas ela insiste.

— É sério, pode deixar comigo... — Simpática mais uma vez.

Ela insiste novamente.

— Vocês são minhas convidadas, não se preocupe... — Não tão simpática agora.

A insistência dela estava me aborrecendo. Não estava acostumada a pessoas discutindo comigo. Sei que sua intenção era apenas ser educada, mas eu fazia questão. Nunca consegui deixar ninguém pagar nada pra mim, muito menos meninas, chegava a ser ofensivo permitir que isso acontecesse. Tentei debater até perceber que ela não desistiria e, quando senti que não conseguiria mais controlar a cara de cu, ela sugeriu que dividíssemos. Ainda não estava de bom tamanho para mim, mas pela cara de impaciente de Mirelly e para evitar que eu me estressasse com isso, preferi aceitar, insatisfeita.

Terminamos e voltamos para o carro onde guardamos as compras e fomos para o shopping. Demoramos tanto que não demoraria mais que meia hora para encontrarmos as meninas novamente. Fiquei ainda mais quieta na volta do que quando fomos e, dessa vez, sem carinho na perna.

Ao chegarmos, estaciono o carro e pego o celular para ver se Eva tinha mandado alguma coisa quando Tina sai para ir ao banheiro. Continuo olhando para o celular quando Mirelly claramente percebeu minha insatisfação. Apenas respiro pesado quando ela menciona o ocorrido e entao ela se solta do cinto e vira para mim.

Eu não diria que estava brava, aquilo não era motivo suficiente pra mim. Eu apenas não gostei nada de ter outra pessoa agindo da forma que eu fazia questão de agir, principalmente com minha namorada. Ainda não tinha olhado para ela quando segura meu rosto e começa a beijar ele todo. Senti meus ombros encolherem aos poucos conforme ela encostava os lábios em mim repetidamente e minha expressão suaviza completamente quando ela morde meu lábio.

Engulo em seco escutando enquanto falava com a boca na minha, eu não estava ligando mais pra nada, nem lembrava o motivo de estar aborrecida. Tudo o que eu pensava e queria era sua boca, ela toda. Dou um suspiro quando ela se afasta e me encara, atraindo meus olhos até os seus como um ímã.

— Não tô brava... — Falo de maneira objetiva e volto a olhar para sua boca —  Agora eu só tô pensando em você...

Sem hesitar, minha mão a puxa pela nuca de volta para mim e a beijo intensamente, esquecendo completamente que estávamos no estacionamento de um shopping. A outra mão desce pela sua cintura até chegar em seu quadril e me inclino para frente ao mesmo tempo que puxo seu corpo pra mais perto até que precisamos parar pra respirar.

— Passei a tarde toda com vontade de fazer isso — Falo ainda com os rostos colados — Odeio quando quero te beijar e você não tá lá.

Ela se ajeita e vem para cima de mim, ficando sentada de lado no meu colo e eu me apresso para chegar o banco mais um pouco pra trás pra que ela coubesse perfeitamente ali.

— Queria você assim comigo o dia todo, o tempo todo — Minha boca busca a sua novamente enquanto minha mão adentra seus cabelos, puxando sua cabeça pra trás quando mordo seu lábio.

Apesar de conseguirmos conversar melhor quando trocávamos mensagens, nada se comparava a tê-la assim tão perto, sentindo o gosto de sua boca, seus lábios macios nos meus, o som sexy que saía de sua garganta quando quase gemia pra mim com um simples beijo perdendo o fôlego e seu cheiro viciante, que ficava grudado nas minhas roupas me fazendo sentir falta quando ela não estava.

A abraço pela cintura enquanto desço a outra mão até sua coxa, alisando e apertando enquanto nossas línguas se entrelaçam em um novo beijo até que sinto meu celular tocando quase ao mesmo tempo que Tina bate no vidro do lado de fora. Ela sai do meu colo, voltando para o banco ao lado, e não consigo ouvir o que conversaram ali pela janela quando atendo Eva.


— Acabaram? — Pergunto na ligação enquanto observo Mirelly ficar vermelha por alguma coisa que Tina disse — Estamos esperando no mesmo lugar onde deixamos vocês.

Ela me pergunta se comprei as coisas que pediu para comprar no mercado.

— Comprei, Eva, comprei tudo... — Reviro os olhos — Não, eu não comprei bebida!

Uma bebida cairia bem hoje. Era tudo que eu precisava para aturar situações difíceis, principalmente quando não teria Mirelly só pra mim. Meu pai tinha um bar em casa com diversas bebidas em seu escritório que Eva não tinha acesso, mas eu era mais sagaz. Talvez Tina pudesse me acompanhar, ela tem cara de que gosta de dar um pt. Seria um ótimo jeito de me fazer ignorar o que aconteceu no mercado e, talvez assim, Mirelly não ficasse tão brava por me ver bebendo, afinal é algo que ela teria que se acostumar. Não era tão ruim quanto ela imaginava.

— Tá, vem logo! — Desligo o telefone o telefone e aviso as duas — Elas estão vindo...


  (...)

Quando as 3 chegaram, o que me restava de sossego acabou. E a mesma bagunça que rolou quando viemos se repetiu durante todo o caminho de volta, mas agora pareciam estar ainda mais soltas. Pelo menos dessa vez voltei a acariciar a perna de Mirelly, agora com um pouco de segundas intenções, mas nada muito exagerado, pois Eva não nos deixava em paz.

Ao chegarmos em casa, Eva vai com Ana e Maria direto para o quarto enquanto Tina, Mirelly e eu retiramos as compras do carro e as levamos para dentro. Não demorou muito até que eu ouvisse a música vinda do andar de cima, dando continuidade ao inferno que foi ouvi-las no carro.

— Fiquem completamente a vontade! — Falo para as duas enquanto ando na frente delas até a cozinha — Eu não sei bem o que elas pretendem fazer, mas pra gente tem álcool.

Ao contrário de Mirelly, que fez uma careta imediatamente, Tina pareceu comemorar, feliz com essa informação.

— Ali fora tem a piscina, podemos ficar lá se quiserem — Aponto para a parte de fora da casa antes de subir até o escritório  — Já volto.

Deixo as duas sozinhas e vou até lá roubar umas cervejas do meu pai, aposto que ele nem daria falta. Pego também um balde e um pouco de gelo. Quando volto, as duas me aguardavam do lado de fora sentadas nas espreguiçadeiras e coloco o balde com as cervejas em cima da pequena mesa que ficava entre as duas e vou até onde Mirelly estava sentada, passando uma perna para o outro lado, me sentando atrás dela, que encostou o corpo no meu e abraço pela cintura.

— Você não vai beber? — Dou um beijo rápido em seu pescoço enquanto Tina abre as garrafas para a gente.

Don't call me angel - Harelly Pt. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora