POV Helena Alter
Não sabia dizer o que estava acontecendo, mas hoje Hannah e eu trocamos mais palavras do que durante o ano inteiro. Isso certamente era um evento a se comemorar.
Sempre procurei dar espaço a ela, sem forçar seus limites. Sei que ela me culpa por todo o mal que meu marido a faz sentir e me torturo todos os dias por sentir o mesmo. Alguns anos atrás ela fazia questão de dizer o que pensava. Que deveríamos ir embora, que não precisávamos dele. E como se explica a uma criança o que mães fazem pelos seus filhos quando elas só enxergam o próprio ponto de vista? A verdade era que eu não ficava apenas por dinheiro, como ela cansou de julgar. Eu ficava por medo, pelas ameaças, por Edgar afirmar com todas as palavras que tiraria minhas filhas de mim, que as levaria para fora do país, que eu nunca mais as veria. Ele é um homem poderoso e influente e eu sou apenas a esposa, dona de casa, que vive para servi-lo. São detalhes que nós, mães, precisamos poupar. Ainda que tenha me custado toda a minha relação com Hannah.
As coisas seriam mais fáceis se eu a deixasse saber de todas as coisas não ditas, mas eu conheço minha filha. Edgar e Hannah vivem em guerra e temo pelo mal que ele pode fazer a ela caso se intrometa no nosso casamento. Agora que cresceu, isso seria ainda pior. Mas tudo que eu queria era que ela me mostrasse que não era tarde demais, que me desse uma nova chance. Mas sei que isso não seria possível aqui, nessa casa, com seu pai. Talvez meus planos tenham sido esperar que as duas crescessem, com idade o suficiente para que não vivessem mais sob a dependência dele ou talvez eu tenha me perdido entre tanta infelicidade. Mas Hannah me procurar, dizer que tinha algo para contar... Ela nunca me contava nada. Eu não sabia o que poderia ser, talvez ela tivesse aprontado alguma coisa, mas só o fato de ter vindo até mim e me comunicar já era o suficiente para me encher de animação.
Eu não sabia mais nada sobre sua vida, mas pude notar nesses últimos dias como estava diferente. Até agora não havia se metido em confusão, não chegava bêbada e sob efeito de drogas em casa tentando pular a janela do próprio quarto acordando a todos e arrumando confusão com Edgar em plena madrugada, os nós de seus dedos carregavam menos hematomas e machucados, algo que ela adquiria todos os dias, sem falta. Parecia menos revoltada, mais centrada, mais interessada na escola, não faltando as aulas, cumprindo os horários. Talvez fosse a idade que a amadureceu ou o ano que passou naquele lugar horrível que, só de imaginar minha filha lá, me parte o coração, ainda mais por saber que aquilo era injusto e não poder fazer nada para ajudá-la.
Ela traria uma amiga para estudar em casa, isso era uma novidade, positiva. Seus amigos de antes nunca vieram aqui e não eram boas companhias. Trazer alguém para estudar era um ótimo passo em sua recuperação, socialmente falando. Me ofereço para fazer o jantar e para colocar um lugar a mais na mesa para sua amiga quando ela sai. Começo a preparar a comida enquanto me pergunto o que tinha de tão importante para ser contado a ponto de tomar a iniciativa de falar comigo.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ (...)
Ouço o carro entrando na garagem e, pouco tempo depois, a voz de Hannah gritando Eva. A amizade e o amor entre as duas era o que eu tinha de mais precioso na vida. Elas tinham uma na outra tudo o que eu não pude oferecer como mãe e eu sentia orgulho de como Hannah cuidava de sua irmã. Ela pode até achar que todos a vêem como uma adolescente imprudente, mas não é como eu a vejo.
As duas entram na cozinha acompanhadas da - acredito eu que seja - a amiga de Hannah. Ela logo me apresenta e eu a cumprimento gentilmente. Estava contente por ela não ser como as amigas antigas de Hannah. Não que eu gostasse de julgar, mas essa parecia ser mais... certinha. De repente, Eva me chama para sentar ao seu lado dizendo que Hannah queria falar comigo e eu percebo seus olhares, despertando minha curiosidade e me deixando um tanto apreensiva. Hannah parecia não saber como falar, mas tento tranquilizá-la. Ela finalmente me deixaria participar de sua vida e eu não queria que fosse uma experiência ruim, queria que soubesse que, independente de tudo, sou sua mãe e a apoiaria incondicionalmente.
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Don't call me angel - Harelly Pt. 1
FanfictionClichezinho lésbico bem boiolinha 💜 Dasha Taran como Hannah Duda Reis como Mirelly *Em formato de ações de RPG* (Um dia edito) TEM CONTINUAÇÃO NO PERFIL!!!