164 - Sadomasoquismo e tiros no pescoço

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POV Hannah Alter


Quando finalmente entrei na garagem ao chegar em casa, mandei uma mensagem para Eva, avisando que havia chegado e ela me responde imediatamente avisando que Helena ainda estava dormindo.

   Melhor ainda...

Viro para o lado e encaro Mirelly, sabendo que eu teria que acordá-la novamente. Aquilo era uma tortura para mim. Um pecado. Saio do carro e dou a volta, indo abrir a porta do seu lado.

— Amor? — Eu a chamo gentilmente enquanto soltava seu cinto e ela acorda — Chegamos... Na minha casa. Achei que não seria uma boa ideia você ir pra sua nesse estado e correr o risco do seu pai te ver assim.

Aponto para as marcas que eu mesma fiz nela e deixo escapar um sorriso por isso.

— Você pode pegar uma roupa minha ou da Eva, ela certamente vai fazer questão disso — Reviro os olhos — E liga pra Tina, pra ela levar suas coisas.

Ela concorda, ainda meio sonolenta, e não resisto a vontade de encher a cara dela de beijinhos.

— Oh, meu Deus, você é muito linda! — Estendo a mão e ela a pega, saindo do carro — Vamos.

Entramos em casa, sem fazer muito barulho. Tudo que eu menos queria era acordar minha mãe e ter que dar qualquer tipo de explicação ou ser vista ao lado de Mirelly, ambas marcadas e amarrotadas. Subimos as escadas e vamos direto para o quarto, onde Eva se encontrava deitada na minha cama, mexendo no celular.

— Tá fazendo o que aí? Não tem cama não? — Falo depois que Mirelly entra e fecho a porta atrás de nós.

*Eva*: Oi, cunhada!

Ela corre para abraçá-la, me ignorando completamente, mas para a poucos centímetros dela, quando vê seu estado.

*Eva*: Meu Deus! O que aconteceu com você? Hannah? O que você fez?

Ela enfim me nota e, só então, se dá conta.

*Eva*: Wow!

— Nem pergunta...

Dou um sorriso quando vejo a cara de Mirelly toda vermelha quando Eva enfim a abraça.

*Eva*: Eu sabia que vocês iam voltar. Essa daqui...

Aponta pra mim.

*Eva*: Ficou chorando a tarde toda, sabia?

— Cala essa boca!

Bagunço seu cabelo todo em sua cara.

*Eva*: Mas é verdade. Eu falo mesmo! Ai, tô tão feliz.

Ela abraça Mirelly novamente e eu a puxo para que se afaste.

— Tá, chega! A gente precisa se arrumar e... — Gesticulo freneticamente com os dedos na direção do pescoço dela — Esconder isso. Temos que achar uma roupa que sirva nela.

*Eva*: Deixa comigo!

Ela bate continência antes de arrastar Mirelly com ela até o closet para ajudá-la a escolher algo e eu reviro os olhos, mas conformada. Enquanto minha irmã torturava minha namorada a essa hora da manhã, pego um casaco azul para mim, que escondia tanto o pescoço quanto os pulsos, as pessoas já comentariam muito sobre nós duas por conta da briga, não precisávamos dar mais um motivo. O casaco era grande o suficiente para caber 3 de mim dentro dele e ia até o meio das minhas coxas, quase como um vestido. Completo pegando uma touca e uma meia calça preta — transparente — que usaria por cima da calcinha e nada além disso.

— Eu vou tomar banho logo pra gente não se atrasar... Vai sobreviver? — Pergunto a Mirelly, que me diz estar tudo bem e sigo para o banheiro.


Tomo um banho não muito demorado, escovo os dentes e volto para o quarto enrolada na toalha, apenas para ver Mirelly se esforçando para ignorar minha nudez na frente de Eva. Me visto sob seus olhares rápidos toda vez que Eva enfiava a cara nas roupas e lhe dou um sorriso travesso quando termino, mordendo o lábio para provocá-la.

Elas finalmente conseguem encontrar algo que sirva e Mirelly passa por mim, indo até o banheiro, carregando as roupas, mas me chama quando chega na porta, me pedindo uma toalha. Entro no banheiro com ela e pego uma limpa no armário quando ela me empurra na pia para me beijar. Minhas mãos deslizam pelo seu quadril, levantando seu vestido até que eu alcançasse sua bunda, apertando com força enquanto perdemos o fôlego com o beijo.

— São muitas tentações pra não ir pra escola...

Ela se afasta e tira o vestido na minha frente. Dessa vez, não faríamos sexo, mas, ainda assim, ela não estava com um pingo de vergonha. Mordo o lábio com força, cruzando os braços para ver seu showzinho e ela me dá as costas, indo até o chuveiro. Dou um sorriso safado quando ela começa a tomar banho e fico tentada a ficar ali assistindo, mas precisava terminar de me arrumar. Saio do banheiro, sem vontade, e faço uma maquiagem leve nos olhos, passando perfume em seguida e penteio o cabelo.

*Eva*: Hannah, você é sadomasoquista?

O pente até voou da minha mão caindo no chão quando fui surpreendida com essa pergunta.

— Eva? Tá maluca?

*Eva*: Gente é que isso aí, nossa... Quanta violência.

— Você pode não se meter?

*Eva*: Eu não tô julgando, você tem bem cara mesmo de quem gosta dessas coisas...

— Meu Deus, Eva. Para, só para.

Ela levanta os braços, se rendendo.

*Eva*: Tá, tá. Eu só fiquei chocada. Mas e aí? Como vocês voltaram?

— Voltando...

*Eva*: Ai, me conta! Você saiu daqui revoltada, falando que ia ficar com outras pessoas...

— Eu fiquei.

O queixo dela foi no chão.

— E ela também.

A lembrança me irrita um pouco novamente, mas Eva não dá um desconto.

*Eva*: Como assim??

— Pois é. Ela me viu ficando com outra e fez o mesmo. Eu dei um tapa na cara da vagabunda e ela quase arrancou os cabelos da menina que eu beijei.

*Eva*: Agora eu entendi o motivo da violência... E depois?

— Depois nós conversamos. E eu disse que a amava.

*Eva*: VOCÊ...

Ela começou a gritar, mas eu tampei sua boca, para que abaixasse o tom, senão acordaria Helena.

*Eva*: Hannah! E você ama mesmo?

— Sim...

Ela me abraça e dá vários pulinhos ao mesmo tempo, quase me derrubando no chão, e eu não consigo não rir com sua felicidade.

— Pois é.

*Eva*: Nossa, ela é uma santa mesmo! Como ela conseguiu quebrar esse seu coração de gelo?

— Nem eu sei... — Essa era a verdade.

*Eva*: E você tá feliz?

Essa era o tipo de pergunta que antes chegava a ser um gatilho. Desde nova eu evitava responder isso. Mas agora...

— Muito.

Ela me abraça.

*Eva*: Ai, tô tão feliz por você. Sabia que você precisava voltar com ela. Vocês são tipo meu otp!

Reviro os olhos e Mirelly sai do banheiro, já vestida. Eu esperava vê-la com algum personagem da Disney estampado na camisa, já que a maior parte das roupas de Eva consistia nisso e roupas bem coloridas. Mas, para minha surpresa, ela estava toda de preto. Com uma calça e uma blusa estampada em preto e branco. Ela com minha cor favorita era meu ponto fraco, definitivamente.

*Eva*: Nossa, ficou muito gata, não é?

Eu concordo com a cabeça e sorrio em sua direção quando ela vem até mim e me pede algum sapato emprestado. Pego para ela um par de botas cano médio, como um coturno, e entrego a ela, que as calça, ficando ainda mais bonita.

*Eva*: Vem, cunha. Pode pegar minhas maquiagens pra esconder esses tiros no pescoço, eu te ajudo.

Ela a arrasta até sua mesinha e começam os trabalhos para tentar esconder os chupões. Termino de pentear o cabelo e coloco a touca, deitando na cama em seguida para aguardá-las. Lembro Mirelly de ligar para Tina e ela faz isso imediatamente. Percebo pela sua bochecha corada que ouviu algo constrangedor da amiga e sorrio, sabendo que o motivo era eu. Quando desliga, diz que Tina levaria sua mochila e eu aproveito o tempo livre para gravar uns vídeos e postar.


⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀(...)


Quando finalmente terminaram, Mirelly vem até mim para me fazer conferir seu pescoço e faço uma cara insatisfeita por saber que nem parecia mais que estive ali.

— Tava melhor antes... — Dou de ombros e ela me beija rapidamente, fazendo Eva nos dirigir um "awwwn" irritante — Pronta?

Ela assente e se despede de Eva, que a abraçou ainda mais forte do que quando chegamos.

— Valeu, tampinha. Até mais tarde. — Dou um beijo em sua testa antes de pegar minha mochila e conduzir Mirelly pelas escadas, conferindo se Helena estava por ali.

Convenientemente, não estava. Vamos direto para a garagem e entramos no carro. Mirelly se apossa do meu rádio e coloca uma música para tocar. Eu já estava esperando algo insuportável como one direction, ou algo do tipo, mas a música era boa e me fez cantar com ela num dueto inevitável. Ela apoia a mão na minha perna enquanto eu dirigia e paro o carro numa padaria apenas para comprar algo rápido para que ela comesse, pois deveria estar com fome depois de gastar tanta energia ontem.

Pouco tempo depois, chegamos na escola e estaciono o carro. Tina nos aguardava na escada perto da porta, onde sempre se sentava, carregando a mochila de Mirelly.

*Tina*: Bom dia, gatinhas! Estenderam a festa até de manhã, foi?

— Bom dia! — Respondo rindo por ter sido incluída no "gatinha".

As pessoas nos encaravam e cochichavam, mas nada novo sob o sol. Já era costume. Mas hoje todos estavam fazendo isso olhando os celulares, o que nos despertou a curiosidade.

— O que esses abutres estão vendo?

Tina parece se preparar pra dar uma notícia chocante.

*Tina*: Olha, eu juro que não fui eu... Mais alguém gravou. Acho que várias pessoas, na verdade.

Ela vira seu próprio celular para nós duas com o vídeo da briga de ontem e eu não consigo conter a risada ao ver Mirelly agarrando os cabelos de Ashley enquanto a derrubava, mas sua reação não foi a mesma. Ela queria saber que havia espalhado aquilo.

— Amor... Agora já era — Tento consolar, a puxando para um abraço, e ela esconde o rosto no meu pescoço — Não liga pra isso. Eles vão esquecer bem rápido assim que eu fizer alguma merda nova.

O sinal tocou e fomos para a sala. Apesar de achar que alguém viria fazer alguma piada, ninguém nos perturbou. Apenas olhavam e fofocavam. Ashley parecia ter medo de olhar para Mirelly e eu a ignorava quando meus olhos cruzavam com os dela, prestando mais atenção em Lídia, que me olhava com a raiva estampada na cara. Se eu bem entendo de mulheres, ela devia estar doida para devolver o tapa que levou. Talvez até disposta a roubar minha namorada. Mas ela seria louca se entrasse nessa briga comigo. Eu não abriria mão de Mirelly pra ninguém, muito menos pra ela.


⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀(...)


Como esperado, ela não deu as caras na monitoria. Talvez agora não estivesse mais tão interessada na prova de física como antes.

   Vagabunda...

Mirelly insistiu para que estudássemos, já que só teríamos o fim de semana antes da prova na segunda. Apesar de ter sido difícil não lhe dar olhares safados e provocá-la por baixo da mesa que nos separava com meu joelho entre suas coxas, eu tentei me concentrar algumas vezes, quando ela me repreendia, usando uma falsa indignação acompanhada de um sorriso toda vez que eu fazia algo.

Ela tem a sensatez de me liberar mais cedo, ponto positivo, e voltamos para o meu carro, para que eu a levasse pra casa. Quando estaciono na sua rua, eu a olho com pesar e ela me retribui da mesma forma diante da iminente despedida. Minha mão segura a dela e acaricia os nós de seus dedos enquanto usufruimos da presença uma da outra por mais alguns segundos até que sua expressão muda, me mostrando certa alegria, e me convida para entrar. "Só um pouquinho", segundo ela.

— Eu não vou negar...

Seu pai trabalhava o dia todo, eu não tinha nada pra fazer em casa e, se eu pudesse, ficaria o dia todo grudada nela.

Ela comemora e sai do carro. Faço o mesmo em seguida e tranco a porta. Seguimos até a entrada de sua casa e ela a abre, me dando passagem. Assim que fechou a porta, ela se pendura em meu pescoço e estava pronta para me beijar quando escutamos uma voz grossa vinda da cozinha chamando seu nome. Meu coração gelou na hora e demos uma certa distância quando me viro e seu pai aparece no corredor.

   Que porra é essa? Esse cara...

— Ele é o seu pai? — É tudo o que consigo falar quando encaro aquele homem.

Don't call me angel - Harelly Pt. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora