170 - Como está seu amigo John?

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POV Hannah Alter


Deixo o celular sobre a cama e vou tomar um banho. Seria meu primeiro fim de semana namorando Mirelly e pra onde iríamos? Para a escola. Estudar. Nunca me imaginei namorando, muito menos indo pra escola com ela num sábado para estudar, mas de algum jeito eu achava graça nisso. Ela e eu éramos completamente opostas, mas isso só deixava claro o quanto ela me completava e tem tudo o que falta em mim, de tal forma que conseguiu me fazer ter interesse em estudar para tirar notas boas, não só por precisar, mas também pra não parecer uma fracassada aos olhos dela. Sim, sua inteligência me deixa insegura.

Após o banho, volto para o quarto enrolada na toalha e me visto. Apesar de precisar realmente estudar, não perderia a oportunidade de provocá-la. Coloco a calcinha de renda, na cor rosa, que tinha dois lacinhos, um em cada lado, e sorrio ao lembrar de nossa conversa. Eu não gostava nada de saias, mas era uma outra mudança inevitável causada por Mirelly, que fez com que eu me interessasse na facilidade de acesso que uma saia poderia ter. Eu estava distraída em pensamentos quando Eva me chamou de volta para a terra.

Eva: Vai sair?

— Vou.

Eva: Com minha cunhada?

— Sim...

Eu ainda não havia me acostumado com toda essa história de namoro e menos ainda com o fato da minha irmã gostar tanto dela e lidar com isso com tanta naturalidade. Mas era bom.

Eva: E vão pra onde?

— Pra escola estudar.

Ela começa a rir e eu a encaro.

Eva: Espera, não foi uma piada?

— Não, temos prova na segunda e eu preciso tirar nota boa.

Ela parecia estar em choque.

Eva: Hannah?!

— Que é garota?

Eva: Eu achei que no mínimo ela estivesse te obrigando, mas não, você tá realmente assumindo que tem que estudar. Sério, você precisa casar com ela!

— Ah, para! Você sabe que eu não era tão ruim assim na escola...

Eva: O quê? Você vivia matando aula, só tirava nota baixa, chegava atrasada todo dia...

— Já entendi! — Reviro os olhos quando a interrompo, senão ficaria o dia inteiro nisso — Mas agora é diferente...

Eva: Eu tô vendo. Ela te faz bem, não é?

— É, ela faz.

Eva: Awn, eu tô amando você toda apaixonada!

— Ela quer que eu conte pra sua mãe... Sobre mim. Sobre nós duas.

Eva: Bem, se ela quer, é melhor você fazer, ela sabe das coisas.

— Eu não sei...

Eva: Acho que a mamãe ia gostar de saber. Ela sente sua falta, Hannah.

— O problema é dela, eu não me importo.

Eva: Ela vai adorar a Mi.

— Você acha?

Eva: Pensei que não se importasse...

— Dá um tempo!

Eva: Eu acho. Quem não ia gostar da Mirelly? Ela é perfeita.

— Ela é mesmo. Mas você precisa ser tão fã dela assim?

Eva: Queria que eu não gostasse dela?

— Não, mas...

Eva: Mas nada! Você tem que aturar.

Reviro os olhos novamente.

— Fazer o que se eu namoro a garota mais legal do mundo né — Dou de ombros — Não posso dizer que farei o mesmo quando você arrumar um namorado...

Eva: Ah, não! Você não vai botar medo nos meus namorados.

— Então escolha um que preste, senão eu boto pra correr...


⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ (...)


Termino de me arrumar enquanto conversava com Eva e em 30 minutos já estava pronta. Desço e, quando fui pegar a chave do carro, encontro minha mãe na cozinha. Eu a olho por alguns segundos, antes que ela me visse, pensando no que Mirelly me pediu. Eu também sentia falta da minha mãe, apesar de pagar de superada e desapegada. A verdade é que eu não a odiava, como era com meu pai, eu apenas discordava muito das suas escolhas, até hoje. Volto a realidade quando ela nota minha presença.

Helena: Vai sair, querida?

— Sim, vou pra escola.

Helena: No sábado?

— Vou estudar com uma amiga... — Essa não seria a hora! — Temos prova segunda.

Helena: Ah, que bom, minha filha. Seu pai vai gostar de saber disso.

Aí estava. O momento que estragava tudo e acabava com qualquer chance de me fazer tentar ter uma conversa com ela.

— Tanto faz. Fui.

Pego as chaves e lhe dou as costas, indo para a garagem com pressa. Entro no carro e mando uma mensagem para Mirelly, avisando que já estava saindo. Coloco o celular no banco, entre minhas pernas, e abro o portão da garagem, começando a dar ré para sair, mas sou impedida por uma viatura que estava parada bem na descida da minha calçada.

  Só pode ser brincadeira...

Olho pelo retrovisor o momento em que o policial, pai de Mirelly, dá a volta na viatura e para ao lado da janela do meu carro, dando uns três tapas — fracos demais para aquela mão enorme — no vidro e eu abaixo, com as mãos no volante.

Bruce: Você está sem o cinto de segurança, isso não é permitido.

— Eu ainda não saí de casa, sinto muito por não poder me levar presa.

Bruce: Sai do carro.

— Não quero.

Ele coloca a mão por cima da arma, numa clara ameaça que me faz dar uma risada, mas abro a porta após pegar o celular e saio, ficando em pé na sua frente. Eu era alta em comparação as meninas da minha idade, mas, perto dele, eu parecia uma anã. Ele tinha o que? Uns 5 metros? Eu não duvidaria disso. Ainda assim, mantive a postura na sua frente.

— O que você quer?

Bruce: Que você se afaste da minha filha!

— Não vai dar não. — Eu o desafiei, olhando fixamente em seus olhos, idênticos aos de Mirelly, mas que me encaravam com ódio e não com amor.

Bruce: Além de ser uma marginalzinha delinquente, levou minha filha pra esse mundo absurdo e doente de homossexualismo. Ela nunca foi assim, sempre foi perfeita. E agora... O que você quer? Se vingar por ter sido presa?

— Uau... Além de ser um policial de merda, ainda é homofóbico, sinto pena dela por ter um pai como você.

Nesse momento, ele dá um passo pra frente, como um ogro, e se eu não estivesse mesmo disposta a não demonstrar nenhum tipo de medo dele, teria caído de costas no carro. Mas me mantive no mesmo lugar, agora tão perto que apenas via o sobrenome que eu falava com tanto gosto estampado em sua farda.

Bruce: Escuta aqui, garota. Eu já te prendi uma vez e posso fazer isso de novo. Ficaria muito feliz.

— Se você encontrar um motivo pra isso, fique a vontade.

Bruce: Você não tá entendendo, né? Eu não preciso de um motivo pra isso.

— Claro, sua especialidade é fazer seu trabalho todo errado.

Bruce: Eu sou coronel da polícia militar há anos e eu não vou permitir que minha filha faça isso com a vida dela. Ficar com uma criminosa, jogar a vida dela no lixo. Você não serve pra ela. Não sei como conseguiu convencê-la, mas tenho certeza que é só uma fase. Ela deve estar fazendo só pra me punir por alguma coisa, porque ela nunca faria isso. Não a menina perfeita que eu criei. Ela não me decepcionaria assim.

— Sabe por que ela tá fazendo isso? Porque quando tá comigo ela não precisa ser essa personagem que você criou na sua cabeça. Ela tá comigo porque eu a acho perfeita do jeito que ela é e não pelo que as pessoas querem que ela seja. Ela tá comigo porque eu a amo e ela sente o mesmo. Porque ela me quer. E você não tem crédito nenhum disso. A única coisa que você tem que entender é que ela cresceu e agora a princesinha é minha.

Ele coloca o braço em meu pescoço quando me empurra contra o carro, me deixando indefesa diante de sua força.

Bruce: Eu juro que vou te botar na cadeia e dessa vez não vai ser pro reformatório!

Ele me pressiona com ainda mais força, dificultando minha respiraçao. Tudo o que conseguir fazer foi pegar o celular e abrir a câmera.

— Continua. — Me esforço pra conseguir falar — Eu gravo tudo e mando pra ela. Aposto que isso só vai fazer com que ela corra de você direto pra mim.

Ele olha para o celular, furioso, e me solta, ajeitando a própria farda.

— Você me chama de criminosa, mas quem devia ser chamado assim era gente como você, policiais, que tem a chance de fazer o que é certo, mas fazem mal às pessoas erradas porque são um bando de porcos! Aquele garoto tentou estuprar minha irmã e você deixou ele solto! Ela tinha só 12 anos... — Eu estava quase gritando com ele — 12 anos! Se fosse com a Mirelly, você não faria o que eu fiz? Você não pegaria sua arma e daria um tiro na cabeça dele? Porque eu faria isso. Mas você estava mais preocupado com o dinheiro do pai dele. Deixou aquele verme solto pra fazer isso com outras garotas. Poderia ter sido a Mirelly!

Ele encolheu os ombros diante dessa possibilidade e, apesar de ainda estar furioso, não teve argumentos para discutir comigo.

— Como tá seu amigo John?

Ele arregalou os olhos.

— É. Eu fiz isso também. Sempre fazendo o seu trabalho, não é? Quando não é o de policial, é até o de pai! Colocou aquele doente dentro da sua casa, a colocou em perigo. Mas eu resolvi. Quer me prender agora? Por ter deformado a cara do pedófilo que deu em cima da sua filha? Pode me prender. Se pra você isso é ser criminosa, então eu sou. Mas eu só quis proteger minha irmã e a garota que eu amo. E pode ter certeza que eu nunca vou deixar de fazer isso.

Ele olhava, em choque, sem me responder.

— Se você já disse tudo que tinha pra falar, pode ir embora. A minha resposta você já tem. Não vou me afastar dela. Quanto ao seu amigo, volte aqui quando tiver uma ordem judicial. — Dou as costas para ele e entro na garagem, fechando o portão.

Nessa hora, sinto o real tensão de toda aquela conversa e preciso me escorar na parede pra respirar. Pego o celular e mando mensagem pra Mirelly.

Don't call me angel - Harelly Pt. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora