POV Hannah Alter
Eu já estava quase arrependida de ter dito aquilo, mas quando ela respondeu positivamente não pareceu mais ter sido uma má ideia. Mesmo com a chance de ela só ter aceitado me passar o número por educação.
Eu estava praticamente congelada quando ela retira do cabelo algo que, depois de reparar a forma que suas mechas loiras cairam sobre os ombros, constatei ser uma caneta. Estava esperando que fosse anotar num pedaço de papel, mas o fez na minha própria mão, o que me fez dar uma risadinha pelas cócegas que senti.
Olho lentamente de seu rosto até suas mãos. Era uma sensação nova que eu estava adorando, sua mão macia tocando a minha. Não olhei de imediato para o que ela escreveu quando terminou pois não consegui tirar os olhos dela enquanto falava.
Eu queria dizê-la que também gostei de permitir que ela me conhecesse. E que apreciava o fato de que ela não me julgou em nenhum momento. E que eu estava até mais inclinada a estudar mais um pouco, graças a ela. Mas expressar esse tipo de sentimento não era do meu feitio. Dou apenas um sorriso e viro para encarar minha mão, mas paro e volto a olhar para ela quando ela se inclina na minha direção. Acho que sua intenção era dar um beijo na minha bochecha, o que teria conseguido facilmente se meu rosto não tivesse ficado quase colado com o dela quando voltei a olhá-la.
Engulo em seco quando pouco segundos pareceram um filme em câmera lenta. Meu olhar fixou instantaneamente em seus lábios e quando ela o mordeu senti que teria feito isso por ela se não estivesse tão absorta naquele momento ou se ela demorasse mais um pouquinho para desviar o rosto e beijar, de fato, minha bochecha. Dou um suspiro lento, tentando não deixar que ela perceba o panic que me causou.
Até então, eu não a via dessa forma. Após nossa conversa de hoje, pensei na possibilidade de sermos amigas, mas não vou negar que senti uma imensa vontade de beijá-la ali mesmo. Ela sai do carro enquanto eu consigo apenas piscar. Dou uma pigarreada para me recompor e não parecer uma maluca.
- Psicopata, é? - Acho graça - É porque você ainda não me viu a noite...
Observo com certo pesar enquanto ela se afasta e entra em casa. Fico encarando o volante por mais alguns minutos, sem conseguir tirar da mente o que acabou de acontecer. Olho para minha mão no momento em que decido, enfim, dar partida no carro e ir embora e sorrio ao ver sua assinatura. Salvo seu número em meu celular e tiro uma foto da minha mão, onde ela escreveu, depois de rabiscar e acrescentar uma nova palavra, enviando para ela em seguida.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Babá
"Minha ~mentora♡~
babá !!!"
Dou uma última risada quando largo o celular no banco onde, antes, ela estava sentada e vou para casa.
(...)
O dia em casa foi tranquilo, uma vez que meu pai não estava. Fiquei sabendo por Eva que ele viajaria essa semana. Eu não poderia ficar mais aliviada. Acredito que agora ele pararia de fingir que se importava com minha vida escolar - batendo o record de um dia - e eu só teria que aturar as discussões. Mas eu já tinha as manhas para evitar pegá-lo em casa.
No quarto, Eva estava mexendo no celular, como de costume, e eu apenas me joguei na minha cama e encarei minha mão, agora rabiscada, com sua caligrafia impecável, apesar da dificuldade que teve com o tanto que eu mexia sentindo cócegas. Não percebi que estava sorrindo até Eva me chamar atenção.
Eva: Tá rindo de quê?
- De nada, tampinha - Falo escondendo a mão, tentando disfarçar.
Eva: Tá mentindo! Deixa eu ver.
Ela vai pulando da sua cama até a minha e tenta puxar para ver o que eu estava olhando. Entramos numa divertida guerra que, por fim, ela venceu.
Eva: O que é isso?
- Não é da sua conta! - Puxo a mão que ela estava segurando.
Eva: Vai me esconder as coisas agora?
Ela fez uma falsa cara de choro, bem dramática por sinal, que me fez revirar os olhos.
- É só número da minha professora.
Eva: Mas tá escrito babá...
- Ih, é só uma piada, por isso eu estava rindo, para de ser fofoqueira.
Ela coloca as mãos sobre o peito, na altura do coração, em mais uma de suas ceninhas.
Eva: Você não me ama mais, aquele reformatório te mudou.
Era a primeira vez que ela mencionava o tempo em que estive presa. Até então, acho que ela se sentia culpada demais para comentar. Havia apenas perguntado algumas vezes como eu estava, se me fizeram algum mal, mas nunca rendia a conversa. Acho que ela percebeu que fiquei um pouco sentida ao ouvi-la falar e mudou de expressão, como se pedisse desculpa com os olhos. Eu rapidamente tratei de impedir o climão.
- É claro que eu te amo! - Espalmo a mão em sua cabeça, deixando seu cabelo bagunçado e deito com ela ao meu lado, olhando, por reflexo, mais uma vez para o número de telefone anotado. Eva me encara por alguns segundos antes de começar o novo interrogatório.
Eva: Tá apaixonada?
Ela me encara com um olhar travesso, mas curioso.
- O quê? - Dou um gritinho, talvez agudo demais - Tá maluca?
Ela semicerrou os olhos, desconfiada.
Eva: Você é lésbica?
Quase engasgo com minha própria saliva. Se eu estivesse em pé, meu queixo provavelmente iria no chão. Desde quando irmãzinha ficou tão cara de pau assim?
Sinto o rubor surgindo em minhas bochechas. Eu tinha total intimidade para falar tudo com ela, mas depois de um ano longe o assunto pareceu me constranger um pouco.
- E se eu for? - Olho para ela, de lado, estudando sua reação.
Eva: Ah, se você for, tudo bem... Quer dizer, eu não me importo. Sobra mais homem pra mim.
- Garota, você é ridícula!
Fico em cima dela apertando o travesseiro em seu rosto enquanto ela ria e tentava se livrar, indo para sua própria cama em seguida.
Eu estava muito cansada então acabei pegando no sono. Nem sequer comi, simplesmente não vi mais nada.
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Don't call me angel - Harelly Pt. 1
FanfictionClichezinho lésbico bem boiolinha 💜 Dasha Taran como Hannah Duda Reis como Mirelly *Em formato de ações de RPG* (Um dia edito) TEM CONTINUAÇÃO NO PERFIL!!!