48 - Quem é que cai subindo a escada?

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POV Hannah Alter



Tirei uma foto enquanto aguardava a chegada de Miller e postei, apenas como forma de fazer um draminha para ela se apressar. O status da mensagem que enviei há pouco indicava que ela havia lido. Mas não obtive uma resposta. Me pergunto se não a assustei demais com as mensagens que mandei, se havia desistido de dividir a barraca comigo. Quase começo a roer as unhas de ansiedade.



Um professor anuncia a última chamada para guardar as malas e assim o faço, carregando a minha até o ônibus e entregando a ele para que a guardasse. Já estava pronta para entrar no ônibus quando escuto um barulho alto de sirene. Nesse momento, todos, sem exceção, todos olharam para mim. Admito que se eu estivesse fora do meu corpo, também me encararia. Que porra eu fiz dessa vez? Tento sair de fininho no meio da pequena multidão e vou andando - correndo - para trás do meu carro. Eu sabia que não havia feito nada, mas não me surpreenderia se algo atrapalhasse minha viagem, logo agora que ela parecia ser tão interessante.



Me sento no capô novamente de costas - se fosse pra ser presa em plena escola, que não fosse na frente de todo mundo - quase rezando internamente para ser apenas um acaso, quando o barulho das sirenes pararam. Após alguns minutos, concluo que se quisessem me pegar, já o teriam feito. Fico mais aliviada e relaxo os ombros.



Ainda tentava me convencer de que não havia cometido nenhum outro crime quando sinto duas, já conhecidas, mãos macias, carregadas com seu cheiro doce, em meus olhos e sinto um arrepio na espinha quando ouço sua voz.



- A babá McPhee que veio me livrar desse tormento? - Falo enquanto escuto sua risada e tenho a visão liberada por ela, aparecendo na minha frente em seguida.



Fiquei realmente aliviada ao vê-la ali e falando comigo. Sinal de que não estava fugindo de mim, encerrando parte da minha aflição.



- Está se mostrando muito obediente, senhorita Miller - Atento ao fato de que chegou no tempo estipulado anteriormente de 10 minutos - Mas acho que dá próxima vez vou ter que buscá-la em casa pra não correr o risco.



Quando a diretora anuncia a chamada, eu já nem me lembrava mais do susto anterior com a sirene, depois de ver a loira eu não prestaria atenção em mais nada.



Caminhamos até o grupinho amontoado na frente do ônibus e aguardamos nossos nomes para entrarmos no ônibus, mas a Sra White nos deixou por último. Quando todos entraram ela vem até nós, olhando de mim até Mirelly.



Sra White: Tudo certo por aqui?



Ela assente à diretora, que volta a me encarar antes de me dar uma série de avisos.



Sra White: Não preciso lembrá-la de que deve se comportar, não é?



Reviro os olhos rapidamente.



Sra White: Eu espero não ter nenhuma reclamação, essa viagem é uma ótima oportunidade para que se divirta e volte a se entrosar com a escola e com seus colegas.



- Não é oportunidade se eu não tenho direito à escolha - Reviro os olhos mais uma vez antes de virar o rosto para o lado.



Sra White: E você viu onde suas escolhas te levaram. O propósito da escola é apenas tentar encaminhá-la a melhores opções. Só quero dizer que, nesse ambiente, não há motivos para que faça as escolhas erradas, certo?



- Não se preocupe, minha babá aqui - Aponto para Mirelly - vai contar se eu fizer merda.



Sra White: Melhore esse linguajar! Senhorita Miller, posso contar com você?



Ela confirma, como a boa menina que é. Quando a diretora nos libera para entrar no ônibus, vou logo atrás de Mirelly, sussurrando "bruxa" para que apenas ela ouvisse, o que a fez dar uma risadinha e virasse de costas enquanto subia a escada para me repreender. Eu teria insistido no assunto se não fosse o fato de que meu rosto não enxergava nada além de sua bunda. Me senti culpada por olhá-la assim num momento tão aleatório, mas fiz questão de não piscar para não perder um segundo daquela imagem. Quando terminamos de subir e começamos a procurar um lugar, eu já estava mordendo o lábio.



- Melhor irmos para o andar de cima - Sugiro com a única intenção de olhá-la mais um pouco.



Você não vale nada, Hannah... - Repreendo e ignoro a mim mesma.



Ela pareceu indiferente e apenas seguiu pelo corredor até a próxima escada, para minha alegria, que, infelizmente, era mais curta, mas não me impediu de aproveitar mais um pouco. Eu queria mesmo era poder tocá-la, bem ali.



O andar de cima estava mais escuro então não conseguíamos enxergar direito quando, no último degrau, ela parece tropeçar. Provavelmente teria caído se eu não a segurasse, não onde eu estava querendo, mas passando o braço ao redor de sua cintura, abraçando seu corpo por trás. Ainda assim, senti uma explosão de calor dentro de mim. Garanti que ela estava estável em pé antes de, com muita dificuldade, soltá-la. Precisei disfarçar minha expressão quando ela virou para me agradecer.



- Quem é que cai subindo a escada? - Brinco enquanto respiro fundo quando ela volta a andar pelo corredor e encontra lugares para gente.



Essa viagem nem começou e eu já estava perdendo a linha...




Don't call me angel - Harelly Pt. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora