59: Espírito

1.2K 143 18
                                    

S E R E N A  F E R R E R

Tudo é nada, como um completo vazio.

O chão é como pisar sobre água, o horizonte é como um completo céu infinito de um azul intenso como a pedra Celesttian, e o silêncio é quase ensurdecedor.

Vejo meu reflexo na água turva sob minhas mãos e joelhos, e arregalo meus olhos assustada.

Mesmo meio borrada, é como me ver há milênios atrás.

Fico de pé automaticamente e percebo meus trajes.

O vestido da minha prisão.

A parte de baixo branca com o tecido azul escuro quase preto passando por meu ombro, enrolado por minha cintura e descendo por minha saia, roupas da minha época. Tremo só de pensar naquela época, daquele dia, mas o que mais me assusta é tentar entender o porquê isso está acontecendo.

Me viro olhando ao redor, mas paro assustada na meia volta quando à minha frente, distante, uma figura encapuzada está parada de costas, quieta, e um frio percorre meu estômago.

Isso não tem cara de ser algo bom.

— Quem está aí?

Minha voz ressoa nesse vazio e parece muito alta e profunda, como falar em uma caverna sem eco.

A figura se vira de lado apenas, a capa escura e longa revela a ponta de um vestido. Ele ser igual ao meu é o menor dos detalhes que me assusta, porque logo as mãos sobem até o capuz, puxando a barra para trás e fazendo o rosto da pessoa visível me desestabilizar por completo.

É irônico, pois como o colar e a pedra, eu não deveria estar surpresa com quem eu vejo agora, ser a minha mãe.

— Demorou bastante, e confesso que eu já estava ficando impaciente, mas valeu a pena a espera. — Sua voz dura e imponente me gela os ossos.

Miranda Ferrer enfim vira o rosto para me olhar.

A mulher está perfeita, jovem como a última imagem que tenho dela. De olhar penetrante e sério de íris escuras, cabelos longos e castanhos caindo em cascatas levemente onduladas, quase lisas, e apenas uma mecha branca na lateral esquerda do cabelo, detalhe feito com magia que simboliza que ela é a Bruxa-mor.

Além do maldito sorriso de canto que transborda insensibilidade e narcisismo.

Por todos os céus, como eu te odeio mamãe.

— Como isso é possível? — Rosno apertando forte minhas unhas nas palmas de minhas mãos.

A bruxa ri e como um passe, um piscar assustador, a proximidade diminui entre nós. Eu me assusto com minha mãe tão perto e na minha frente, e ainda mais quando ela ergue a mão para me tocar, mas eu me afasto.

— É bom te ver, Serena. Enfim esse momento chegou, minha filha. — Miranda sorri emocionada em pura loucura.

— Que momento? De que diabos você tá falando? Que lugar é esse? — Olho ao redor assustada.

— Isso, a princípio, é apenas um lugar projetado espiritualmente para nos encontrarmos. A pedra uniu nossos espíritos aqui.

Serena: A Nova Bruxa dos VingadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora