Cap 49

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Cap 49

Por Ivy
Quando acordei no meio da manhã,esperava ver meu marido nu ao meu lado,mas o que encontrei foi quase tão excitante quanto.
Alec já tinha ido,deixou um recado dizendo que ia trabalhar e não tinha hora pra voltar,mas também deixou um presente de boas vindas.
Ao meu lado,sobre o lençol escuro,o capo deixou uma caixa grande,cor caramelo e assinada pelo maior de todos,Christian Louboutin.
Sim,Alec comprou sapatos novos pra mim! E da minha marca preferida!
Ao abrir a caixa e o saquinho de veludo vermelho que protege a obra de arte,dei de cara com um par de scarpins pretos,de sola vermelha,iguais aos que “perdi" em Ibiza.
Lindos de morrer!!
Ou de matar.
Mandei uma mensagem agradecendo o Alec e fui até o closet escolher um lugar especial para os meus novos bebês.
Depois de guardá-los adequadamente,tomei um banho,me vesti e segui para a sala de jantar tomar meu desjejum. Ao chegar,a governanta se apresentou oficialmente e conversamos um pouco.
Candice parece ser uma pessoa incrível. Ela me contou sobre a história da Família,disse com muito orgulho que foi uma das responsáveis pela criação do Alec e foi me contando sobre a construção da casa enquanto fazíamos uma tour que levou praticamente a tarde toda.
O lugar é espetacular. A cada novo cômodo que conhecia,ficava mais impressionada.
Alec participou ativamente do projeto que foi construído do zero,de acordo com as vontades e ideias do capo.
A mansão é repleta de varandas,paredes de vidro e janelas enormes que dão vista da cidade abaixo da colina. As cores escuras são elegantes e o designer moderno.
São tantos cômodos,tantas coisas pra ver,que fico enlouquecida. Sala de visitas,sala de jogos, sala de jantar,três escritórios,seis suítes,jardim, piscinas de borda infinita,sauna e por aí vai…
Após a longa tour,voltei pra suíte principal com a Candice e mais uma funcionária e começamos a organizar minhas coisas. Trouxe muitas roupas da viagem,alguns acessórios e gosto de ter tudo separado por estação,estilo e cor.
Paramos na hora do jantar e não tínhamos nem chegado na metade das minhas roupas.
Mandei outra mensagem pro Alec e,após quase uma hora - depois de eu já ter comido - ele repetiu que não tinha hora pra voltar. Não disse onde estava e nem o que estava fazendo,só que não ia voltar cedo.
Confesso que isso me deixou incomodada.
Não é incomum um capo ficar até de madrugada na rua. A grande maioria dos negócios no nosso mundo é feita a noite,em reuniões animadas em boates ou galpões no meio do nada.
Mas Alec tem histórico.
Ou melhor,tem uma amante.
Tentei ligar pro meu marido e descobrir mais,mas ele não atendeu. Então tive que tomar medidas um pouco mais drásticas.
Quando contei ao Jasper que estava voltando pra Nova York,ele colocou um soldado de sua confiança pra me vigiar de longe. No início achei exagero,mas depois percebi que pode ser muito útil.
Liguei pro Tyler - o soldado escolhido - e pedi que ele colocasse alguém na porta do prédio em que a Sophia e o Alec costumavam se encontrar.
Se esses dois ficarem juntos,eu vou saber. E aí o caos vai começar.

— Não vai descansar,senhora Genovese? - a voz da Candice me surpreende.
Tem mais de uma hora que estou sentada numa poltrona na varanda da sala principal. Abri um vinho,peguei uma taça e fiquei aqui fora tomando um ar enquanto aguardo respostas.
Respostas bem demoradas.
Vacilei muito. Deveria ter mandado alguém vigiar aquela Polly Pocket desde que o Alec contou sobre nossa volta pra cidade.
— Costumo dormir tarde - respondo e me viro para encarar a mulher elegante,de meia idade.
— Então é mesmo o par perfeito do Alec - ela comenta com humor.
— Ele costuma chegar tarde? - pergunto.
— Ás vezes só de manhã. Mas ele não era casado antes,então não tenho certeza da rotina que vai aderir agora - a governanta fala com franqueza.
— Tentei ligar,mas ele não atendeu - confesso e arrisco um tom chateado na tentativa de fazer a mulher falar mais.
— Alec é um homem ocupado e acabou de voltar de viagem. Deve ter caído um monte de trabalho no colo dele - ela argumenta.
— Pode ser. Ele é bastante controlador. Passou a lua de mel toda pendurado no celular - conto. A morena sorri.
— Alec mudou muito depois que se tornou capo. E você sabe como é no início,todos são leais ao antigo chefe…
— Mas ele é filho do antigo chefe. A lealdade deveria continuar com o legado,não? - questiono com interesse.
— Na teoria,sim. Mas sabemos que a prática é diferente. Alec é muito diferente do pai, modernizou a Família,ampliou os negócios…Nem todo mundo gosta de mudanças - ela explica.
— Ele contou sobre os problemas com o primo, Lucas - comento em tom de lamentação - é triste ser traído por alguém da Família.
— Pelo que ouvi,você também não tem uma relação tão boa com a sua - ela comenta,bem afiada.
— Sou muito próxima da minha família. Só não me entendo com meu pai - respondo tranquila.
— A vida de uma princesa da máfia não é fácil mesmo - a morena fala com pesar.
— Não é tão ruim assim. Fica fácil atravessar o inferno depois que você descobre onde fica a porta de saída - falo. Ela sorri com ternura.
— Você é forte. Gosto disso - a governanta declara. A emoção em sua voz me faz sorrir também.
— É um pré requisito quando se nasce mulher - respondo. Ela ri.
— É,acho que tem razão - a morena concorda - se não precisa de mais nada,vou me recolher - ela anuncia.
— Acho que já te cansei o suficiente por hoje. Boa noite,Candice - respondo,a dispensando.
— Boa noite,senhora Genovese - a mulher declara e se afasta.
Senhora Genovese…Não sei quando vou me acostumar com isso.
Volto minha atenção para a taça de vinho branco em minha mão e deixo o gosto doce inundar meus sentidos. É quase uma massagem,mas na alma.
Meu celular interrompe o silêncio e toca diversas vezes,anunciando várias mensagens.
Sinto um frio na espinha e um aperto no peito ao pegar o aparelho e ver o nome do Tyler no visor.
Minhas respostas chegaram.
Hesito por um instante,com medo do que vou ver, medo de me magoar. Por mais que odeie admitir, me deixei envolver demais com o Alec,me deixei levar e acho que acabei me apaixonando.
Não quero que acabe.
Mas uma voz na minha cabeça diz que não é culpa minha. Fiz tudo o que estava ao meu alcance pra manter esse casamento,pra fazer o Alec feliz ao meu lado. Se ele não faz o mesmo esforço,é melhor eu descobrir logo,no início.
Com o coração batendo na garganta,toco a tela e abro as mensagens.
As fotos que o amigo do Tyler tirou são nítidas e me deixam sem reação por um minuto. Imagens do carro do Alec saindo do prédio. Ele deixou a janela aberta então não dá nem pra dizer que era outra pessoa.
Atrás dessas,tem fotos de um carro esportivo branco,com uma loira que conheço muito bem atrás do volante. Sorridente,com os cabelos voando com o vento.
É óbvio que os dois se encontraram e não foi pra discutir política ou negociar drogas. Eles ainda tem um caso. Aquele maldito está me traindo!
Quando dou por mim,minha mão está agarrada a garrafa de vidro,pronta para arremessá-la na parede mais próxima e começar com o show que sempre acabo fazendo.
Mas não posso.
Respiro fundo,contenho a raiva e largo o vinho antes de perder o controle.
Não posso atacar o Alec antes de ter as dívidas do Salvatore nas mãos. Preciso colocar aquele verme na coleira antes de chutar a bunda do meu marido e mostrar quem manda nesse inferno.
Tenho que ser fria e manter a calma.
Por mais impressionante que pareça,não tenho dificuldade em virar a chavinha e desligar meus sentimentos. Só reprimo as emoções como estou acostumada a fazer,prometendo a mim mesma que em breve vou despejar toda essa ira em cima do Alec. 
Volto a me sentar na poltrona,pego o celular e escrevo um agradecimento ao Tyler. Falo que ele pode descansar,mas peço que deixei o tal amigo alerta pois acho que vou precisar dos trabalhos dele outra vez.
Depois ligo pro meu irmão. Já está tarde,mas sei que o Jasper sempre deixa o celular ligado e tem sono leve. Isso se estiver dormindo.
— Ivy? Aconteceu alguma coisa? - sua voz soa preocupada e alerta.
— Não,está tudo bem - respondo,espantando a preocupação - te acordei? - questiono.
— Não,estou saindo do banho - Jasper conta.
— Desculpa o horário,mas só agora consegui ficar sozinha - explico.
— Está tudo bem,pandinha. Do que precisa? - ele pergunta.
— Alec prometeu que vai me deixar administrar as dívidas do Salvatore. Vou pedir pra ele me entregar os arquivos e preciso que alguém de confiança guarde pra mim - conto.
— Sem problemas - ele garante - mas como foi que isso aconteceu? - o moreno questiona.
— Acho que Alec está se sentindo culpado pelo fim da lua de mel ou quer me manter quieta,não sei - confesso - mas o que importa é que vou poder usar as dívidas do Salvatore para manter a mamãe segura.
— Mas não confia o suficiente no Alec. Ou não sentiria a necessidade de me enviar cópias dos arquivos - meu irmão deduz.
— Você vai descobrir logo,então… - suspiro - Alec está me traindo. Ele continua a se encontrar com a Sophia - confesso.
A ferida que acabou de abrir,queima como se eu tivesse colocado o dedo. Mas me esforço pra ignorar. Preciso manter o foco.
Sabia que quando voltasse pra Nova York,estaria voltando pra guerra. Claro que não imaginei que colocaria meu marido entre os obstáculos,mas fui burra em confiar nele tão rapidamente.
Não vou repetir meus erros.
— Tem certeza disso? - o herdeiro dos Gambino questiona.
— Absoluta - confirmo e o ouço suspirar.
— Sinto muito mesmo,Ivy. Sei como estava feliz em Ibiza…
— Não se preocupe comigo,Jas. Estou bem - garanto.
E não deixa de ser verdade.
Estou muito magoada e furiosa. A sensação de ser traída vai além da humilhação. Sinto como se tivesse levado uma facada nas costas.
Mas essa não é a primeira decepção que tenho na vida.
Sobrevivi antes e vou sobreviver agora.
— Acha que Alec pode ser perigoso para você? - ele pergunta com seriedade.
— Matei um homem usando só um salto alto. Alec sabe do que sou capaz e sabe que só vai perder se romper a aliança de alguma forma - respondo com franqueza.
— O que você vai fazer agora? - meu irmão insiste.
— Vou conseguir os arquivos contra Salvatore e colocá-lo contra a parede antes da mamãe voltar. Depois me entendo com o Alec - respondo.
— Até lá vai conseguir fingir que não sabe de nada? - ele questiona com preocupação.
— Não vai ser fácil,mas é o que preciso fazer. É a segurança da mamãe - desabafo.
— A sua também. Enquanto Alec pensar que está nas mãos dele,não vai fazer nada - Jasper comenta.
— Acha mesmo que ele pensa que estou nas mãos dele? Sem mim,ele nunca conseguiria os acordos que deseja com a Cosa Nostra e a Outfit - me gabo. Jas ri.
— Sabemos disso,pandinha. Mas o ego do cara é tão inflado que com certeza ele acredita que você está perdidamente apaixonada e cega de amor - meu irmão declara. Dou risada.
— Ah,isso com certeza - concordo - é tão fácil manipular um homem assim que fica até chato - desdenho. A mágoa tem um sabor amargo.
— Mesmo assim,vou contratar mais dois ou três homens pra te ajudar. Investigar o Salvatore não vai ser fácil e,como sei que vai infernizar a vida do Alec,vai precisar de mais apoio - ele anuncia.
— Tyler já colocou um amigo dele pra vigiar o Alec pra mim - confesso.
— Vou checar a ficha e colocá-lo na folha de pagamento - o moreno promete.
— Obrigada,Jas. Sei que deve ser difícil conciliar tudo…
— Não me agradece por nada,Ivy. O que estou fazendo é o mínimo. Quem está arriscando tudo pela Família é você - ele me interrompe,a voz séria e carinhosa.
— Não estou arriscando tanto. Sem vocês,nada mais importa - desabafo.
— Não fala assim. Você é linda,inteligente e Deus sabe o quanto é talentosa e determinada. Se Alec não vê isso,é porque não te merece - o moreno me consola.
— Os homens podem ser tão burros…
— Também não precisa generalizar - ele brinca. Dou risada.
— Você não é um homem comum,Jasper. É um príncipe. Um príncipe mafioso - brinco.
— Eu tento,principessa - ela responde. A mudança no tom chama minha atenção.
— Está tudo bem com você,Jasper? - pergunto com preocupação.
— Tudo bem,só… - ele hesita por um instante.
Não contenho o sorriso quando o nome da filha do Richard surge na minha mente.
Sei que essa menina tem mexido com o Jasper. Ele fala dela quase sempre,está ajudando a garota a treinar e os dois têm saído juntos. Acho que está rolando alguma coisa.
— É a Selena,não é? - questiono.
— Essa garota está me deixando maluco,Ivy - ele confessa.
— Maluco de um jeito bom? - insisto.
— Não sei… - ele suspira - ela é carinhosa,doce, divertida e…
— E… - incentivo a continuar.
— Terrivelmente mimada,teimosa e…e frágil - ele responde.
— Frágil? - pergunto confusa.
— Lembra que eu a salvei de um sequestro quatro anos atrás? - meu irmão lembra.
— Claro. Foi assim que você começou a trabalhar com o Richard - confirmo.
— Não sei o que aconteceu de verdade com a Selena,mas acho que foi mais do que uma surra. Ela tem crises de ansiedade,fica nervosa em lugares com muita gente. Às vezes parece que ela vai quebrar e eu não sei como ajudar - ele desabafa.
— Só acolhe ela,Jasper. Seja lá o que fizeram com a Selena,ela vai precisar enfrentar esse demônio sozinha. Tudo o que você pode fazer é segurar a mão dela e não soltar - aconselho.
— Acho que ela está apaixonada por mim e não quero que crie um tipo de dependência…
— É realmente esse o problema? Ou você só está com medo de também estar apaixonado por ela? - questiono.
— Quando foi que você virou uma romântica compulsiva? - ele retruca. Dou risada.
— Meu marido está transando com uma cópia de uma boneca de plástico loira. Me deixa - falo com humor. Meu irmão ri.
— Está certo - ele murmura.
— Jas… - continuo - você é um homem incrível. É leal,respeitoso,gentil e sei que as mulheres te acham atraente - brinco - se a Selena está mesmo apaixonada e se o sentimento é recíproco,não deixa nada atrapalhar vocês. É tão raro encontrar alguém que olhe só pra gente,não pro nosso nome ou para o que temos - declaro com franqueza e carinho - você merece ser feliz - falo de coração.
— Obrigado,Ivy - ele fala após um breve momento de silêncio.
— Disponha - respondo - sua vida amorosa é muito mais interessante que a minha - brinco. O subchefe ri.
— Você vai encontrar alguém,Ivy. Também merece ser feliz - ele declara com ternura.
— Merecer eu mereço. Agora sobre encontrar alguém…
— Quando toda essa história com o maldito do Salvatore se resolver,vamos focar em cuidar de você - ele promete.
— Mas primeiro a mamãe - lembro.
— Primeiro ela - ele concorda.
Ouço o som de um carro se aproximando e,ao me levantar,vejo o mesmo Porsche preto que deixou aquele prédio minutos atrás.
Judas voltou pra casa.
Ótimo.
Está na hora de pegar o que é meu.
— Jas,Alec chegou. Preciso ir - falo.
— Toma cuidado,Ivy. E qualquer problema me avisa - ele pede - se aquele desgraçado encostar a mão em você,pego o primeiro voo para Nova York - meu irmão promete.
— Não se preocupa,arrabbiato - uso o apelido que a Selena deu a ele - me derrubar é muito mais difícil do que parece.
— Eu sei,pandinha - ele garante.
Nos despedimos e,assim que desligo o celular, ouço os passos pesados do Alec. Ele não me vê na varanda,então passa reto e vai em direção às escadas.
A vontade de pegar a garrafa de vinho e acertar na cabeça dele volta com toda força,mas ignoro e me sirvo com mais uma taça antes de ir atrás do desgraçado pra fazer o que tenho que fazer.
Com sorte,ele vai estar tomando banho quando eu chegar e não vou precisar sentir o cheiro enjoativo do perfume daquela piranha que ele estava comendo.
Se tiver mais sorte ainda,ela vai ter saciado ele. Então só vou ter que usar um pouco de charme, pedir os arquivos e dormir de conchinha como se não soubesse de nada.
— Você consegue - sussurro pra mim mesma - é pela mamãe. Por ela - falo e viro a taça na boca como se o vinho fosse coragem líquida.
Coragem e remédio pra enjoo.
Sinto que vou me prostituir por esses arquivos,dar meu corpo a um canalha que…
Porra,não vou chorar. Não posso.
Minha mente cria imagens dos dois juntos,rindo e transando enquanto eu estava aqui esperando o maldito lembrar que é casado.
Mas é óbvio que ele lembra.
Alec está me usando pra conseguir o que quer. Eu só vou ter que fazer o mesmo.
Me inclino para frente e apoio a cabeça entre as mãos,tento manter a respiração estável.
Eu consigo.
Consigo fazer isso.

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