107. Vamos nos mudar

3 1 0
                                    

Mágissa ficou mais algumas semanas conosco, a dor ainda cortava o meu peito, mas mesmo assim me levanto e com um sorriso no rosto ajudo meus filhos a superarem o seu luto.

Agora entendo o que Roz sentia quando se forçava a levantar. Começo a entender tudo o que ele já me falou e até mesmo como agiu, nunca imaginei que a dor iria me consumir por dentro e mesmo assim iria manter a minha mente no lugar.

Não era somente por mim, se fosse isso eu teria morrido no mesmo dia que a Roz, mas agora eu tenho duas criaturas que sugam até a minha alma e precisam que eu lute por eles.

Começo a rir sozinho entendendo a promessa que Roz me forçou a confirmar, esses pensamentos de desistir de tudo já não fazem mais parte da minha realidade, mas estou ficando preocupado com os dois.

Enquanto Mágissa estava aqui eles se distraíram com as aulas e até mesmo conversando com ela, mas agora que estamos só nós quatro em casa as coisas estão um pouco mais tristes.

Foi ideia da Mágissa chamar Destin para morar conosco, mesmo não entendendo fiz o convite e para a minha surpresa Destin aceitou chorando, ele demorou dias para se reerguer novamente, mas agora está como eu sentindo a dor em silêncio.

— Pai... — Mairin era a que mais lutava contra o luto, já a peguei diversas vezes chorando sozinha e pelos seus olhos vermelhos ela estava chorando.

— Por que ainda chora sozinha?

— Não que fique mais triste ainda, mas está doendo muito — a sua voz embargada me fez abraçar ela forte, mas isso a fez chorar forte até que ela adormeceu.

— Precisamos fazer alguma coisa — Destin tentava interferir o máximo que poderia, mas já o considerava parte da família, então pedir sua opinião e até mesmo escutar os seus conselhos já era parte do nosso cotidiano.

— Tudo aqui traz lembranças, não somente a eles...

Eu sabia o que fazer e ao ver Destin desviar os olhos para a janela ele também sabia, só não queríamos ter que deixar tudo para trás. Fugir para outro local não iria retirar a nossa dor do luto, mas pelo menos não vamos lembrar a cada instante que a Roz não vai aparecer para nos chamar para a refeição, ou até mesmo nos mandar ir dormir na cama.

Só percebi que estava chorando quando as mãos de Enver tocaram o meu rosto, ele não falou nada, apenas sorriu me abraçando tomando todo o cuidado para não acordar a sua irmã que ainda dormia com a cabeça no meu colo.

— Vamos nos mudar querido.

— Mas e a mãe?

— Ela vai estar em nossos corações e nas nossas memórias, não posso deixar que vocês cresçam tão tristonhos assim, isso não é cara de vocês.

— Podemos escolher o destino? — confirmo com a cabeça e um sorriso cresceu no rosto de Enver e sem nem ter como correr ele fez cair água no rosto de Mairin que acordou furiosa já correndo atrás dele, tive tempo apenas de erguer os braços.

— Você não perde por esperar sua peste.

— Qual é diabinha, foi por um bom motivo.

— Desde quando me acordar me afogando é um motivo Enver? — ele não respondeu, apenas apontou para mim.

— Vamos nos mudar querida...

— Não, sem essa, não vou deixar a mamãe para trás — as lágrimas de Mairin já começaram a escorrer.

— Exatamente por isso que precisamos ir — Enver tocava com carinho no rosto da sua irmã enxugando as lágrimas — E o melhor é que podemos escolher o destino, estava pensando em alguma praia.

— Você é um cretino mesmo, tinha que jogar água na minha cara apenas para me dizer isso?

— Vocês dois precisam parar de brigar... — os dois me olham mortalmente e isso fez Destin começar a gargalhar — Ou podem continuar enquanto eu escolho o destino, pensei em algo bem chuvoso.

Pisco para Destin que entende e entra na minha, os dois já começaram a reclamar, mas minha intenção deu certo, o clima tristonho foi substituído pela empolgação de conhecer novos lugares e até mesmo frequentarem uma escola humana.

A saída da casa foi a que mais nos machucou, estávamos todos destruídos e ficar ali não seria mais opção, quem sabe um dia retornamos para esta casa, mas por enquanto preciso cuidar da saúde mental dos meus filhos e tirar eles dessa depressão toda.

— Não se preocupe, a casa do Alfa será muito bem cuidada — nego com a cabeça quando escuto a voz de Igétis.

— Quero que cuide apenas... — não consegui terminar a frase, Igétis compreendeu isso e me abraçou como forma de consolo avisando que vai cuidar de tudo e que espera o nosso retorno.

Dou uma última olhada na casa e quando Mairin segura a minha mão coloco o meu melhor sorriso no rosto indo até Destin que para me ajudar a quebrar o clima já começa a tirar sarro que eu fico enjoado andando com magia.

Não tínhamos um destino definido, então vamos começar pelas praias, ficando um mês em cada lugar até encontrar um local que nos agrade. Eles tentam disfarçar, mas quando olhei os locais percebi que só tinha lugares quentes, ou seja, frio e neve estava fora de cogitação por lembrar a mãe deles.

Um Alfa, Um SegredoOnde histórias criam vida. Descubra agora