Capítulo∆ 09

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- Que quis dizer o capitão, Maddy, quando disse que o homem esteve a ponto de violar-me? - perguntou Dulce essa mesma noite -. Só me olhou, e por isso sofreu esse horrível castigo.

Madeleine, estendida em sua cama, olhava o teto do camarote. Estava tão perturbada como Dulce pelo sucedido esse dia.
Olhou-a com expressão preocupada.

- Teria feito algo mais do que isso se o capitão não tivesse chegado a tempo. Eu tenho a culpa, Dulce. Não devia tê-la deixado só.

- Mas esse homem não fez nada, e agora o arruinaram para toda sua vida, por minha causa!

- Desobedeceu as ordens e por isso foi açoitado. Advertiu aos homens que não se acercassem a ti, Dulce, mas ele não escutou a advertência. Te teria submetido se o capitão não tivesse ouvido gritar - disse Madeleine baixinho.

- Então por que disse isso em lugar de dizer que esteve a ponto de violar-me?

- Tu querias que o homem te tocasse?

- Lógico que não - replicou Dulce.

- Bem, ele não teria tido em conta teus desejos. A teria forçado contra sua vontade, e isso é uma violação.

Dulce se recostou no travesseiro, com a mente em redemoinho. Então isso era uma violação. Fazer amor com mulheres que não o desejavam. Que terrível! Mas de qualquer jeito, ainda não sabia o que era fazer amor. Ah, que estúpida era! Quando aprenderia? Quando descobriria como era fazer amor? Quando estivesse casada, recordou a si mesma, e isso sucederia muito cedo.

O "Canção do Vento" avançava rapidamente por águas mais cálidas, mas ainda devia percorrer uma grande distância antes de chegar a Saint Martin. O tempo tinha mudado consideravelmente, e o vento já não era tão gelado.

Dulce sabia que podia esperar um clima tropical na pequena ilha de Saint Martin. O capitão Marivaux respondia a muitas de suas perguntas quando jantava com ela. Soube que seu futuro marido possuía uma grande plantação na ilha, e que tinha obtido grandes riquezas exportando algodão.

Depois do horrível castigo sofrido pelo marinheiro açoitado, não voltaram a ocorrer outros incidentes. Os homens da tripulação tiveram cuidado de não se acercar dela quando lhe permitiam sair à coberta.

Depois de um mês no mar, sofreram outra tormenta, moderada a princípio, o qual permitiu a Dulce voltar a lavar seus cabelos. Mas mal tinha terminado quando a tormenta adquiriu mais intensidade, e ela se viu obrigada a voltar à segurança do camarote.

Parecia que se tivessem aberto os céus e que arrojassem sua vingança somente sobre este barco. A tormenta continuou durante toda a noite, e os violentos movimentos impediram Dulce de dormir. Tratou de passear por seu camarote, mas os vaivens do barco a jogava contra as paredes. Por sorte, todos os objetos do quarto estavam bem presos, e voltou a sentar para sentir-se mais segura.

Surpreendentemente, Madeleine tinha dormido, e Dulce não sabia o que fazer, porque estava muito assustada. Estava segura de que o “Canção do Vento” afundaria e que todos afogariam.

Mas em algum momento no meio da noite, com as mãos aferradas aos lados da cama e seu cabelo ainda úmido pendurando a um lado, finalmente dormiu.
O mar estava sereno quando acordou na manhã seguinte. Repreendeu a si mesma por assustar-se tanto na noite anterior, e pensou que seguramente a tormenta não tinha sido tão terrível. Madeleine já tinha levantado e se vestido, e trazia num pequeno recipiente a água fria para a lavagem matinal de Dulce.

- Dormiste bem, pequena? - perguntou alegremente.

- Não - queixou-se Dulce, e tirou suas pernas da cama. Seu cabelo úmido caía sobre seus ombros, e fez uma careta. -Maddy, por favor, pergunta ao capitão se posso secar meu cabelo na coberta.

💛𝐀 𝐩𝐫𝐢𝐬𝐢𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐩𝐢𝐫𝐚𝐭𝐚💛𝐓𝐞𝐦𝐚-𝐕𝐨𝐧𝐝𝐲    Onde histórias criam vida. Descubra agora