Capítulo◇85

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A mente de Dulce se negava a aceitar suas palavras. Isto era um pesadelo.

- É calma, mas a sua tranquilidade não durará muito tempo.

- Mas por que deve matar-me também?

Dulce o olhava espantada, e algo se agitou dentro dela.

- Bem... viole-me! - gritou, com os olhos arregalados e vidrados -. Mate-me! Devia ter sido morta na rua sob a espada de shawn, de qualquer jeito. Já não me importa. Me ouviu? Não me importa! Dulce se pôs a rir, com voz histérica, desumana, que ressoava no pequeno quarto. Antoine Gautier se afastou dela com cautela.


Está louca - disse com voz quebrada enquanto se acercava à porta - ainda não sofreste nada, mas tua mente já não funciona bem. Não terá  prazer em começar agora. Esperarei que tenha recuperado o sentido, para que tenha consciência de tudo que penso em fazer. Voltarei - gritou entre seus dentes apertados, saiu do quarto e fechou a porta atrás de si.

Dulce caiu de joelhos no solo. Violentos solução sacudiam seu corpo. Passou longo tempo até que se tranquilizou e ficou gemendo. Era uma menina outra vez, e se imaginava num grande quarto do convento, com muitas camas. Se encostou numa delas na escuridão, chorando silenciosamente sua solidão porque sua mãe não tinha podido evitar que a enviassem ao convento, veio uma freira e lhe falou baixinho com palavras doces e compreensíveis. Finalmente dormiu.

Milhares de estrelas como velas trêmulas brilhavam no veludo negro do céu. Em algum lugar em Saint Martin, o marinheiro Antoine Gautier bebia para esquecer, mas em seu alojamento na parte mais miserável da cidade, Dulce seguia dormindo sem que a pertubassem os insetos e os ratos que havia no quarto.

Fazia algum tempo que tinha amanhecido quando Dulce abriu os olhos. Olhou confusa o estanho lugar em que se encontrava. Este quarto estava naquela fortaleza onde Christopher a tinha levado? Mas ela tinha escapado dessa Formosa ilha. Não era? Sim,tinha escapado e a tinham trazido a Saint Martin. Tinha ido em busca de seu noivo, mas depois... depois                                  

- Não! - gritou ao recordar tudo. Deus meu, Não!

Por que tinha que recordar? Teria sido melhor perde toda recordação, melhor do que está sentada ali e contar os minutos até que voltasse Antoine Gautier. Que classe de horríveis torturas planejava ela? Já estava débil pela fome, e ele a deixaria morrer de inanição? Não, ele queria uma revanche mais completa do que essa. Voltaria.

- Ah, Christopher, por que não pode salvar-me desta vez? Mas temo que fui demasiado inteligente. Está a centenas de quilômetros de distância, procurando-me na ilha, se é que já abandonou a busca.

Que estava pensando? Ela não queria que ele a resgatasse! Dulce olhou o quarto miserável e sentiu que seus olhos se enchiam de lágrimas Qualquer coisa seria preferível ao que Antoine Gautier planejava para ela, inclusive a vida com Christopher. Mas Christopher não estava ali para ajudá-la, e isto só lhe deixava uma alternativa: uma morte rápida.

Com a mente concentrada em sua única solução Dulce se levantou e caminhou lentamente ate a janela aberta. Não tinha balcão lá fora, só um parapeito que conduzia a outra janela.

Embaixo, A direita, havia um pequeno toldo sobre uma porta, mas diretamente embaixo da janela tinha uma pilha de lenhas. A pilha era grande, com ramos cortados que apontavam em todas direções com lanças. Se se joga-se dali morreria seguramente, de uma morte rápida. Dulce levantou as pernas para passá-las pela janela e ficou ali um momento, sentindo os últimos momentos de sua vida. Sorriu ironicamente, pensando que tinha escapado do homem mais charmoso do que jamais tinha conhecido. Tinha-o deixado por isto.

💛𝐀 𝐩𝐫𝐢𝐬𝐢𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐩𝐢𝐫𝐚𝐭𝐚💛𝐓𝐞𝐦𝐚-𝐕𝐨𝐧𝐝𝐲    Onde histórias criam vida. Descubra agora