Capítulo◇105

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Chegou o verão trazendo uma gloriosa explosão de cores. Por todas as partes se abriam flores formosas que Dulce nunca tinha visto antes. Conheceu deliciosas frutas novas que a fascinavam, sua favorita era o grande cabo de cor amarela avermelhado, e Thomas Wesley fazia uma viagem especial desde o povoado, onde vivia, para trazer-lhe duas dessas frutas maravilhosas cada dia.

Os dias eram quentes, mas suportáveis pela constante brisa, e as noites eram agradavelmente frescas, e convertiam à ilha num paraíso. Mas o paraíso se fazia em pedaços com os conflitos dentro da casa. O mau humor de Christopher tinha piorado no mês desde que chegou à ilha. Dulce evitava estar com ele o mais possível, porque cada vez que ele olhava seu corpo arredondado, sua ira voltava a acender-se.

Dulce nunca mais voltou ao seu pequeno lago no bosque. Imaginava que seria ainda mais formoso com as novas flores que se abriam em todas as partes, mas se dizia teimosamente que Christopher tinha estragado seu prazer por esse lugar secreto. Por outro lado, com freqüência ia com sua mãe e as vezes com Mayte até uma pequena baía onde estava ancorado o barco. Ali tirava os sapatos, levantava as saias, e caminhava pela praia sobre a areia fresca e úmida, sentindo as pequenas ondas que lambiam suas pernas.

Dulce se sentia bem com sua mãe. Falavam de coisas agradáveis ou simplesmente caminhavam em silêncio, perdidas em seus próprios pensamentos. Quando Madeleine ia com elas, falavam da França e dos amigos que tinham deixado lá, mas principalmente da grande celebração, que tinha tido lugar três semanas antes, em honra dos nove casais unidos em matrimonio pelo sacerdote.

A festa tinha sido um sucesso, e a má disposição de Christopher não tinha conseguido estragá-la. Apesar de sua oposição a que se celebrassem os casamentos, permitiu que se usasse a sala de jantar para essa ocasião. Teve música e baile. Serviu-se um grande banquete que levou todo o dia para preparar, e que foi totalmente consumido à medida que avançava a noite. Vieram quase todos os índios do povoado, que levaram um enorme porco assado, e dançaram também... Formosas danças de sua própria cultura.

A Dulce lhe era fácil perder-se na felicidade das jovens nativas que agora se casavam pela igreja. Mas Blanca se sentia triste cada vez que se mencionava o casamento. Dulce sabia que sua mãe queria que ela também conhecesse essa felicidade. Mas não via como seria possível até que partisse da ilha.

Uma manhã, Dulce estava só em seu quarto terminando de costurar uma roupinha de bebê que tinha começado dias antes. Surpreendeu-se ao ver Christopher entrar, porque rara vez ia ao seu quarto pela manhã. Acercou-se à cama onde trabalhava Dulce, e viu o vestidinho.

- De maneira que espera que seja uma menina - disse com sarcasmo, apoiando-se contra um dos pilares da cama -. Entendo que isso a divertiria se a criatura fosse minha, mas, que desculpa tem para desejar dar uma filha a seu amado conde? Todos os homens desejam um filho varão, e estou seguro de que com este passa o mesmo.

Dulce o ignorou, porque sabia que procurava uma briga. Como não obteve resposta, Christopher se acercou à cadeira que tinha junto à janela e começou a polir sua espada. Pareciam ignorar-se mutuamente, ainda que tinham absoluta consciência da presença do outro. Depois de um momento, a situação se converteu numa concorrência por quem falada primeiro ou quem sairia primeiro do quarto. Mas nesse momento entrou Blanca, agitada e furiosa, e atraiu a atenção de Dulce e Christopher.

- Por Deus! - exclamou Blanca em francês. - Que lhe acontece? - Fez um gesto apontando a Christopher.

- Por que não pergunta a ele? - respondeu Dulce calmamente.

- Não me dirá, mas você pode me dizer. Tratei de não interferir, mas esta briga continuou durante demasiado tempo.

- Mamãe, não pode esperar que estejamos sozinhas?

💛𝐀 𝐩𝐫𝐢𝐬𝐢𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐩𝐢𝐫𝐚𝐭𝐚💛𝐓𝐞𝐦𝐚-𝐕𝐨𝐧𝐝𝐲    Onde histórias criam vida. Descubra agora