Capítulo◇115

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O tempo passava rapidamente porque ela não sabia quanto duraria o que estava suportando. Nas horas que passaram, Dulce conseguiu ferver a água que precisaria e levá-la ao seu quarto. Entre as contrações agora cada vez mais freqüentes, encontrou lençóis limpos e mudou os de sua cama, e trouxe também um tecido limpo para envolver ao bebê. Encontrou e limpou a faca que precisaria para cortar o cordão umbilical. Depois, enquanto ainda podia mover-se, mudou a roupa intima e secou a água que tinha perdido antes. Todos seus esforços eram lentos porque tinha que se deter e esperar que passasse cada contração. Mas agora já era pela tarde, e os espasmos de dor tinham voltado tão freqüentes e tão insuportáveis que já não podia conter sua agonia, e seus gritos faziam eco na casa vazia.

Quando Dulce ouviu abrir-se a porta e depois fechar-se de uma vez, sentiu-se aliviada. Agora não teria que dar a luz sozinha. Por mais distancia que tivesse entre ela e as criadas, estas também eram mulheres e não se negariam a ajudá-la. Mas se deu conta de que a festa na cidade ainda não teria terminado, e seguramente alguma das mulheres só teria vindo procurar algo que tinha esquecido. Dulce teria que chamar à mulher antes que voltasse a sair. Lutou por sair da cama onde estava deitada, mas quanto se pôs de pé, teve outra contração. Começou a gritar.

De repente, abriu-se a porta do quarto e dom Miguel entrou com uma máscara de fúria no rosto. Foi a grandes passos para ela, e antes que Dulce pudesse falar, deu-lhe uma forte bofetada. Dulce caiu na cama, e o movimento repentino lhe provocou uma agonia ainda pior, mas seu orgulho lhe impediu de gritar.

- Mentirosa! - gritou dom Miguel, apertando os punhos -. Ele está aqui... Christopher está aqui!

- Não... Não pode ser! - gaguejou ela -. Ele está...

- Basta de mentiras! - deu meia volta e saiu do quarto, mas Dulce o ouviu gritar no quarto continuo -. Pensar que tinha começado a acreditar em suas mentiras, a acreditar que nunca viria! Descuidei minha vigilância, e agora é demasiado tarde para a armadilha que pensava estender-lhe. - Voltou a entrar na habitação com uma delgada corda na mão, e olhou ao seu redor como se procurasse algo.

- Mas, por que está tão seguro de que é Christopher? - perguntou freneticamente Dulce -. Seguramente... Seguramente você se equivoca!

Dom Miguel a olhou com uma mistura de medo e fúria nos olhos.

- Eu mesmo o vi caminhando entre uma multidão na rua. Corresponde a uma descrição que tinha dele, e quando me acerquei, o homem corpulento que o acompanhava me chamou por meu nome. Estão perguntando aos camponeses onde vivo. E é inteligente esse Christopher. Não entrou com o barco no porto como eu esperava, mas o ocultou na costa para poder entrar na cidade inadvertidamente. Não tive tempo de reunir meus homens... Devo enfrentar-me sozinho com Christopher!

Dulce olhou dom Miguel com rosto inexpressivo. Realmente Christopher estava na ilha. Como podia ser? Deveria estar no outro extremo do mundo. E, Deus meu, por que viria agora? Por que não ontem, ou amanhã em qualquer momento menos este, quando ela estava a ponto de dar a luz e ele não podia ajudá-la de jeito nenhum?

- Você não tem que enfrentá-lo - disse rapidamente Dulce. - Pode escapar antes que ele chegue.

- Terminarei com isto de uma vez por todas. Tenho a vantagem de ser um excelente espadachim. Nunca me venceram, e não me vencerão hoje.

Tomou-a pelo pulso, arrancou-a da cama, e a arrastou até a pesada biblioteca. Ela o olhava estupidamente enquanto ele começava a atar a delgada corda em seu punho esquerdo.

- Que está fazendo? - perguntou.

- Estou assegurando-me de que não me dê uma punhalada pelas costas enquanto me ocupo de Christopher.

💛𝐀 𝐩𝐫𝐢𝐬𝐢𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐩𝐢𝐫𝐚𝐭𝐚💛𝐓𝐞𝐦𝐚-𝐕𝐨𝐧𝐝𝐲    Onde histórias criam vida. Descubra agora