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- Bom dia, meu amorrrrr - reconheci a voz da Laís antes mesmo que ela me agarrasse por trás e me apertasse.

- Bom dia, mulher - me virei pra olhar minha amiga - que bom humor todo é esse?

Ela me lançou um daqueles sorrisinhos que eu sabia que significava "dei a noite toda" e começou a andar na minha frente.

- Quem foi o macho da vez? - corri para alcançá-la enquanto passávamos pela catraca da faculdade.

- Macho não, mocinha da vez - deu uma risada maliciosa - eu e a Mia nos acertamos.

Pois é. Quem vê a carinha de anjo da minha melhor amiga, não imagina que ela é a maior devoradora de pepecas do Espírito Santo.

Revirei os olhos ao ouvir ela falar da Mia. Aquelas duas era um nojo de tão chatas, viviam brigando, terminando e voltando, e quem tinha que ficar no meio das duas? Eu mesma, Natasha de Mello.

- Não revira os olhos assim - ela reclamou - dessa vez a gente conversou sério, decidimos parar com os ciúmes bobos e ficar juntas numa boa.

- Uhum - fiz a conformada - não dou uma semana até você me ligar xingando ela de todos os nomes possíveis.

- Ai, chata! - me deu um tapa fraco - E a mudança? Rola hoje, né? Vai querer ajuda?

- Óbvio, garota. Vamos direto depois da aula, pode ser?
- Sinhê.

Nos despedimos com um abraço e fomos cada um pro seu bloco. Meu bloco é o C e o da Laís é o A, a gatinha estuda Odonto e infelizmente a gente fica separadas em todas as aulas.

E sim, quase morremos por isso, nós crescemos juntas, nossas famílias são amigas desde sempre, então a gente sempre esteve grudada.

Minha primeira aula do dia era Sociologia II nada que eu não ame, né? Tava tão fixada na aula, que nem vi as horas passarem e todas as aulas seguiram assim, correndo.

Encontrei a Lolis na hora de ir embora, enquanto íamos pro estacionamento pegar o carro dela, fofocávamos sobre a vida alheia.

- E o Thiago?

- O que tem o Thiago? - fiz a Kátia.

- Ah, para né Nat. Não vi ele no campus hoje, eu sei que vocês saíram no sábado sem mim, e quando vocês saem sem mim...

- Não rolou nada - relembrei o rolê de sábado e o vacilo do Thiago, meu melhor amigo - ele encontrou a Moara e grudou nela o rolê inteiro, como sempre.

- Impossível de aturar o Thi quando ele tá junto com a Moá, sérinho. Não sei como você suporta - procurou pela chave do carro na bolsa e desligou o alarme.

- Não tenho o que suportar, Lolis. A vida do Thiago é dele e ele cuida dela como bem entender. - dei de ombros.

Tava sem saco pra falar da minha relação com o Thiago, ultimamente Deus e o mundo tava achando que poderia se meter entre nosso "relacionamento".

- Só acho que vocês deveriam se assumir - ela se meteu mais uma vez.

- Não tem o que assumir, Laís. Somos amigos e a gente se pega quando na mente, só isso.

Agora cala boca e mete o pé, to doida pra chegar no apê e encontrar minhas coisas lá - fui até um pouco grossa, mas a Lolis tava mais que vacinada contra meu humor oscilante.

Eu tinha achado a oferta do apartamento num classificados da internet e quando eu achei eu soube que era pra mim.

Um apê numa das melhores localizações de Vitória, de frente pra praia, duas suítes, uma piscina na cobertura e um aluguel mais que acessível para mim, uma mera estagiária de RH de um banco estadual.

- Mentira que tudo isso aqui é seu? - Laís falou enquanto andava por todo o apartamento - Não acredito que ainda vem mobiliado.

- Meu amor, eu nasci com a bunda virada pra Lua - me joguei no sofá confortável da sala de estar - essa é a chance da minha vida.

- Dá até uma invejinha branca - ela fez uma careta e depois se jogou do meu lado do sofá - e uma vontade de ter meu próprio cantinho também.

- Já te falei que você tem que sair da aba do tio Luís, amiga. Já passou da hora da senhora arrumar um emprego. - repeti o que vinha falando com ela desde que fizemos 18 anos.

- Eu sei, cara... Mas a minha vida é tão cômoda assim amiga, só de pensar em mudar tudo já me bate uma preguiça - se espreguiçou teatralmente no sofá.

- Esse seu comodismo é o que te mata, Laís - prendi meu cabelo e levantei - agora levanta essa raba daí e vem me ajudar a desencaixotar essas coisas e arrumar minhas roupas no armário.

A Lolis ficou ali comigo até o início da noite, nós pedimos uma comidinha caseira mesmo e ficamos a tarde inteira guardando as minhas milhares de roupas no guarda-roupa.

Depois que ela foi embora eu pude ir tomar um banho e demorar o quanto eu quisesse, porque minha mãe não estaria ali pra reclamar da água gasta.

Tava terminando de enrolar a toalha no meu cabelo quando ouvi um barulho estranho vindo da sala, parecia até o barulho da porta sendo aberta.

Meu corpo inteiro se tensionou e eu tremi na base. Impossível que na minha primeira noite na minha casa eu seria assaltada, Deus só pode estar de brinks.

Ignorei o fato de eu estar enrolada numa toalha e peguei a primeira coisa que poderia ser grande o suficiente pra bater em alguém: meu violão velho, e fui desbravar a sala.

Enquanto me aproximava do corredor que levava até ela, ouvi alguns resmungos de uma voz que eu não conhecia, e eu tinha certeza que havia trancado a porta.

Quando cheguei a sala me deparei com um homem, de costas pra mim revirando uma das minhas caixas que ainda estavam na sala.

- Que porra é essa...? - ele falou ao retirar minha nécessaire de dentro da caixa.

- Tira a mão das minhas coisas ou eu juro que taco esse violão na sua cabeça - falei com firmeza, mas por dentro eu tava parindo uma criança.

O homem se virou pra mim, olhou-me dos pés à cabeça e eu reconheci aquela cara mal lavada na hora.

- Uau... Não sabia que teria direito a showzinho de boas vindas - me comeu com os olhos mais uma vez e riu de sua própria piada, mas ao notar a minha cara fechada parou de rir - Quem é você? O que você tá fazendo aqui? - perguntou.

- O que VOCÊ tá fazendo aqui, Drummond? - deixei meu violão no canto da sala, sabia bem como me defender daquele ser - E como você entrou na minha casa?

- Sua casa? - ele riu - Minha casa, você quer dizer, né? Que porra tu tá fazendo aqui, garota? - ele falou e eu notei que atrás dele havia duas malas enormes de grandes.

- Victor, eu não sei que brincadeira é essa e nem como você entrou aqui, mas não me faz perder o pouco de paciência que eu tenho e some da minha frente - falei pausadamente buscando pela calma em meu interior.

Ele riu ironicamente. - Você é burra? Não tá vendo que tá no apartamento errado?
Bufei e andei até a porta, retirando dali a chave com o chaveiro que indicava o apartamento de número 306.

Regra Número 3Onde histórias criam vida. Descubra agora