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- Como é possível eu estar no apartamento se a droga da chave abriu a porta? - mostrei a chave a ele.

Ele retirou do bolso um molho de chaves e me mostrou o chaveiro com os mesmo números.
- Você tá no andar errado - ele falou como se fosse óbvio.

- Só existe um terceiro andar no prédio, gênio - falei como se fosse óbvio.

E realmente era.

- Não quero saber, falou? Tô cansado pra caralho, eu já paguei o aluguel dessa droga, então se você puder se retirar e levar as suas tralhas, por favor? - indicou a porta com a mão.

Que ódio! Fiquei encarando ele por alguns segundos, buscando na minha mente o que falar e aí lembrei do contrato que assinei. Lhe dei às costas e voltei ao meu quarto, pegando em minha bolsa o contrato assinado junto do recibo de pagamento do aluguel do primeiro mês do apê.

- Se isso for servir para que você suma da minha frente, tá aqui o recibo de pagamento - falei enquanto retornava à sala, o encontrando parado diante da porta da mesma forma em que o deixei.

Entreguei a ele o recibo junto do contrato e o observei, com um sorriso vitorioso na boca, ler em silêncio.

- Isso só pode ser uma brincadeira - se virou e abriu a mala dele, retirando um papel de lá e o jogando grosseiramente em mim. Peguei o papel no ar e vi que era uma cópia exata do meu contrato e do recibo, mas estavam no nome dele.

- O que isso significa? - perguntei.

- Não sei. Se veste que a gente vai na corretora agora dar um jeito de você sair daqui.

- Eu sair daqui? - ri sem humor - Você vai sair daqui, eu cheguei primeiro.

- Não importa. Te dou cinco minutos pra se vestir ou eu te deixo pra trás. - disse grosseiramente.

Bufei e retornei ao quarto.
Conhecia o Victor da faculdade, aliás, impossível estudar na PIO e não conhecê-lo.
Até os corredores suspiram quando o Victor passa, então eu conheço muito bem a fama dele de: pegador grosseirão.

Não fazia em nada o meu tipo, mas parecia fazer o de todas as outras mulheres do mundo, inclusive o da minha melhor amiga.

Coloquei uma calça jeans e uma camisa qualquer, penteei meu cabelo e quando retornei a sala ele falava com alguém ao celular.

- Até que enfim - falou pra mim e desligou o telefone, já saindo de casa na minha frente.

O segui às pressas, porque conhecendo como eu o conhecia, nem o elevador ele iria segurar pra mim.

Como assim o aluguel é duplo? - esbravejei diante da Heloísa, a corretora filha da puta que tinha me atendido e atendido o Victor - E eu só ia descobrir que eu estava dividindo apartamento com outra pessoa quando o encontrasse no meu banheiro?! - meu tom de voz já tinha aumentado, e ao meu lado o sonso do Victor permanecia calado.

- Isso estava no contrato, srta. Rizzo - Heloísa falou calmamente. Eu vou voar na cara dessa piranha.

- Onde? - joguei o contrato na mesa dela. Eu havia lido e relido todas as letras miúdas daquele contrato e tinha certeza que não havia nada ali falando sobre aluguel dividido.

Ela colocou o óculos dela e começou a ler o papel, sua expressão era a mesma de quando a gente havia chegado, como se a gente tivesse ido reclamar de uma infiltração qualquer.

- Hum, realmente... - ela nos olhou - O estagiário que emitiu o contrato de vocês esqueceu de acrescentar a última cláusula sobre o aluguel duplo, peço desculpas pelo nosso erro - ela falou calmamente e eu continuei fuzilando ela com os olhos - bom, tem outro apartamento no quinto andar, com os mesmos cômodos, acho que não será problema pra um de vocês ir pra lá, certo?

- Problema nenhum - Victor falou pela primeira vez - já pode me passar a chave que eu mesmo vou.

- Certo. Mas então, o aluguel de vocês que estava dividido em dois, passa a ser uma só parte, R$1.400,00 a mensalidade. - ela falou serena.

- O QUE? - eu chiei - R$1.400,00 é quase o meu salário todo, eu não posso pagar isso tudo.

- Desculpas, srta. Rizzo, mas esse é o preço do apartamento, que está muito bem localizado e possui todos os luxos que a região pede.

- E por incompetência da sua equipe eu vou ter que pagar quase R$1.500,00 de aluguel todo mês? - esbravejei e ouvi a risadinha do Victor.

- Bom, a senhorita está livre pra desfazer o negócio, visto que erramos o contrato - ela falou com um ar de sarcasmo.
- Eu não posso voltar pra casa - sussurrei e afundei na cadeira.

Tinha planejado tudo direitinho para que eu nunca mais tivesse que voltar a viver às custas dos meus pais, e não pense que é porque sou maltratada, mas porque eu sempre sonhei com a minha independência. Odeio ser dependente, me sentir dependente de alguém.

Só eu e Deus sabemos quão difícil foi convencer a minha mãe de que eu poderia me virar sozinha em outro lugar, sabia que se eu voltasse atrás agora ela iria me prender em casa até meu casamento, como fez com a minha irmã mais velha.

- Posso providenciar o seu novo contrato então, sr. Drummond? - ela perguntou a ele.

- Porra, R$1.400,00 é grana demais. Não sei se posso alugar um lugar nesse preço.

- Certo. Darei um tempo para que vocês pensem e retorno aqui para conversarmos - ela saiu da sala, nos deixando sozinhos.

Eu sabia que não acharia um lugar mais barato, aliás, já havia pago a primeira mensalidade e estava zerada de dinheiro. Voltar pra casa estava fora de cogitação.

- O que você vai fazer? - perguntei ao Victor - Vai voltar pra casa?

- Não dá - ele falou e bufou - porra, eu não vou ter essa grana toda e não vou ter outro lugar pra ficar...

Regra Número 3Onde histórias criam vida. Descubra agora