Capítulo 1 :

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ARTHUR

Domingo com toda a certeza era o dia mais estressante para todas as escuderias presentes na Fórmula 1. Dia de corrida. E aquela, era a pior de todas, por ser a primeira corrida do ano! Autódromo da Espanha na Catalunha. O circuito não era uma preocupação dos pilotos, pois treinavam há mais de duas semanas ali, mas sim quem ganharia aquela corrida de quase duas horas de duração. Ainda restava um ano inteiro pela frente! Um ano em que todos sabiam que iria ser muito puxado para pilotos e equipes, pelas novas regras impostas pelos dirigentes.

Vitórias, derrotas e acidentes, era o que podia se esperar de um ano como aquele, que estava somente começando.

E para variar estavam ali, novamente, os rivais Arthur Picoli e Luan Viana. Os melhores pilotos desde 2006. Todo ano era sempre a mesma coisa, Arthur Picoli e Luan Viana brigando pelo título até a última curva, disputando espaço com mais vinte pilotos.Mas, o resultado de todos ano também era igual, Arthur sempre vencia, deixando o rival como vice-líder.

Duas escuderias rivais e consequentemente os pilotos também, era o que fazia a felicidade dos fiéis fãs do mundo das corridas. O mundo da Fórmula 1.

Boninho: Arthur! — gritou por Arthur que conversava com o chefe da escuderia perto de seu carro.

Boninho era o engenheiro da escuderia e um dos amigos e conselheiros de Arthur, foi também o engenheiro do pai de Arthur, José Picoli. Viu Arthur nascer e desde que o garoto era apenas uma criança sempre falou que ele iria ser um ídolo nas pistas. E cumpriu sua promessa ajudando ele a se tornar um dos maiores e melhores pilotos de Fórmula 1 atualmente.

Arthur: Diritto indietro, licenza. — falou em italiano com o senhor dono de sua escuderia, seu chefe para ser mais exato.

O homem bateu no ombro de Arthur falou um 'Boa sorte' em italiano e saiu para ir conversar com alguma outra pessoa da escuderia. Arthur foi até o Boninho que estava sentado em frente a um computador, olhando os dados da telemetria do último treino.

Boninho: E então menino, como ele está? — olhou zombando para Arthur, perguntando sobre o dono da equipe. O piloto sorriu e estalou os dedos.

Arthur: Ansioso. Muito ansioso! — negou com a cabeça. Boninho riu do amigo e lhe deu um tapinha no ombro.

Boninho: Todos estão, afinal, é a primeira corrida do ano. E você tem que estrear perfeitamente, derrotando aquele imbecil do Viana.

Ao ouvir aquilo, Arthur respirou fundo, sabendo que a cada ano, as coisas pioravam para cima dele. Era cobrado pela perfeição nas pistas, pela perfeição como pessoa, como ídolo e não havia ninguém que mudasse o jeito de lhe tratar, era sempre da mesma maneira.

Arthur: Boninho, será que você consegue parar de me pressionar um minutinho? Minha nossa senhora! — perguntou e então revirou os olhos.

Será que ninguém tinha um pouco de piedade dele? Ninguém via o quanto era difícil ter que aguentar a pressão do chefe, dos mecânicos, dos engenheiros, do seu País que está torcendo por ele, de sua família e agora até de seu amigo? Ninguém dava um minuto a sós com ele mesmo.

Boninho: Está bem garoto, vou ficar quieto. Mas, quero que saiba que eu, todos nós aqui da equipe e boa parte daquela multidão lá fora, estão aqui para ver você sendo quem você é. O nosso campeão. — deu um tapinha animador nas costas dele.

Arthur: Obrigado. — sorriu e olhou para a tela do computador, conferindo as parciais de todo o treino no dia anterior.

No qual ele ficou com a pole position. E para variar Luan Viana ao seu lado. Sentiu uma mão tocando seu ombro e olhou para trás lá estava seu pai, seu eterno campeão. Aquele homem era o verdadeiro motivo de estar ali, tricampeão do mundo e iniciando outro campeonato. Desde que era um menino, viu seu pai dentro das pistas, sendo campeão de Fórmula 1 e fazendo a alegria de homens e mulheres de todo o mundo. Era um mundo fascinante e que ele aprendeu desde cedo a fazer parte e sem dúvidas alguma, era o que queria ser para o resto de sua vida.

Arthur: Oi pai. — sorriu e bateu na cadeira ao lado dele, pedindo para que ele sentasse. O senhor que não aparentava os cinquenta anos tinha, sorriu e sentou ao lado do filho.

José: Oi, filhão — bateu no ombro dele e conferiu junto do filho as parciais do treino, o resultado da Ferrari do filho eram ótimas. — Tudo bem?

Arthur: Sim, tudo ótimo. Mas, você não disse que iria ficar com a mamãe no camarote?

José: E você acha que eu me aguentei? — sorriu, fazendo Arthur e Boninho rirem. — Tenho que ficar aqui, sentindo o ronco do motor de perto. E então? Quais são as chances de ganhar? — olhou para Boninho que deu um sorriso enorme. Já Arthur olhou para o lado, sabendo que começaria todo o papo novamente.

Algo estranho estava acontecendo naquele ano, por mais que fosse sua vida estar nas pistas, aquele papo de ganhar, dar toda a vida sua e de outras pessoas expostas, estava começando a lhe incomodar. Eram sempre as mesmas perguntas, para as mesmas respostas.

Boninho: Todas as chances! Viana ficou com pouco combustível do treino e está com previsão de parar na volta doze. Claro que ele irá largar mais rápido, pelo tanque vazio, mas nós ficaremos mais tempo na pista.

A emoção com que Boninho explicava os termos e regras das corridas, ainda deixava Arthur um pouco assustado, não que ele também não fosse parecido, mas nunca havia conhecido alguém como Boninho , ele trabalhava na Fórmula 1 há trinta anos, de seus quarenta e cinco de vida. Muito mais da metade de sua vida tinha passado dentro das pistas, começando quando ainda era um garoto como fiscal de prova. E era por isso que estava no lugar onde estava.

José: Isso é ótimo! E você Arthur, o que acha? — ao olhar para o filho, viu ele com o olhar perdido na tela do computador.

Arthur: Temos chances de ganhar mesmo, já que eu vou parar um pouco mais tarde, como disse o Boninho.

José: Isso é realmente ótimo. — deu um sorriso e olhou para Boninho buscando uma resposta para o modo como Arthur estava agindo, o amigo apenas balançou os ombros. Um bando de mecânicos começaram a gritar por Arthur e ele soube que já estava na hora de entrar no carro e ir para a pista correr.

José: Boa sorte, filho! — abraçou Arthur que naquele momento sentiu o nervosismo o inundar, suas mãos começaram a suar e ele se obrigou a respirar fundo, mantendo a calma. — Lembre-se, você é o campeão!

Arthur: Obrigado pai! — se desvencilhou do pai e foi até o carro junto de Boninho, antes de entrar, como sempre, fez o sinal da cruz em seu corpo e fechou os olhos, pedindo proteção.

Logo estavam todos a postos já na pista, em suas devidas posições, prontos para o início da corrida, enquanto não dava o horário, os mecânicos continuavam ajeitando os últimos detalhes. Em poucos minutos foi dado o sinal para que as pessoas deixassem a pista e ele ficou sozinho, ele e o carro. Novamente fez uma oração e quando abriu os olhos, acelerou para a volta de apresentação.

Pela pista, via nas arquibancadas torcidas com placas e bandeiras da Ferrari e vibravam quando ouviam o potente barulho dos motores. Luan estava logo atrás dele, também esquentava os pneus e testava algumas coisas do carro. Segundos depois todos já estavam novamente alinhados, somente olhando para o visor que ainda estava vermelho.

O ronco dos motores deixavam todos fascinados e sem piscar por um segundo, temendo perder alguma ação. Os olhos eram destinados a Arthur, que naquele momento além de ser o campeão era um dos queridinhos do mundo.

As cinco luzes se apagaram e em um décimo, os carros já cruzavam a reta, rasgando velozmente o vento. Luan fazia o possível e o impossível para ultrapassar Arthur que também fazia de tudo para manter a primeira posição. O rival insistiu em ultrapassar Arthur em uma das curvas e acabou errando o ponto de freada, dando a chance de Arthur se afastar dele e começar a correr como o Arthur Picoli que todos conheciam e adoravam.

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